janeiro 02, 2011

Mensagem para o companheiro Lula

A despedida emocionada de Lula - foto de Domingo Peixoto

PAULOROCHABHZ | 5 de abril de 2009 |
Smile Charlie Chaplin - interpretada por Michael Jackson - Legenda em portugues


Companheiro Lula, ontem, assistindo a posse da companheira presidenta e tua despedida, não pude deixar de lembrar a trajetória do Partido dos Trabalhadores, do qual sou um dos fundadores no Amazonas.

Te acompanho desde os tempos das gloriosas assembléias de Vila Euclides, quando fiz minhas primeiras fotografias do movimento operário que mudou a história do país. Nessa época morava em Diadema-SP, onde fazia residência médica em psiquiatria social, com o grande Osvaldo di Loreto. Tinha, então, 25 anos.

Sou de um tempo em que as tendências dentro do PT ainda não tinham fronteiras tão delimitadas. Vestíamos a camisa pelo amor ao coletivo. Com ela ajudei a fazer convenções pelo interior do Amazonas, caminhadas em campanha pelos bairros de Manaus, tudo em nome da organização e da construção de um partido que acolhesse as mais legítimas aspirações do povo trabalhador.

Tu, melhor que ninguém, sabe que em sua maioria os trabalhadores não sindicalizados não estavam conosco. E o povão, submetido a décadas de domínio por viciados meios de comunicação, nos via com olhar arrevesado. Na eleição de 1989, ao cruzar toda a extensão da rua do mercado municipal de Manaus, rua dos Barés, onde nasci, tendo uma enorme bandeira do PT em minha camionete, tive que meter o pé no acelerador para não ser atingido por bagaços de fruta arremessados contra mim e meus filhos, Pablo e Diego.

Passado esse período de hostilidades, inclusive as institucionais, resolvi me dedicar a outras tarefas de organização popular. Na verdade não queria participar do inevitável desmonte das relações de fraternidade que a organização das tendências trariam inevitavelmente para dentro do nosso cotidiano. Ademais, a tarefa inicial de organização estava feita; caberia às tendências a disputa pela melhor condução que te levaria ao Palácio da Alvorada.

Ontem, ao te ver chorando junto ao povo que te elegeu, nós todos que participamos da árdua tarefa de criar novas perspectivas de futuro para o país comungamos contigo da mesma emoção. Aos 58 anos de idade, que farei no próximo dia 6 de janeiro, sinto que fechamos um ciclo da nossa história.

Há muitos acertos do teu governo. Devemos celebrá-las. Entre as maiores, a mais elevada auto-estima das classes trabalhadores, “como nunca antes na história deste país”. Deixarei para outro momento, a crítica necessária aos desacertos.

Por ora, receba meu caloroso abraço, bem como o de toda a minha família, em especial de Juan, meu filhote mais novo. A saudosa Tia Pátria, responsável pela minha educação política, se estivesse entre nós estaria te felicitando ao jeito dela. Parece que estou ouvindo-a dizer: “Teu governo foi muito pai-d’égua, Lula; mas, égua, maninho, tu tinha que fazer hidrelétrica na Amazônia, seu porra?”. Não estranhes o tratamento. Ele revela a mais profunda intimidade que só o amor e a linguagem popular faz para aproximar os humanos entre si (estranhos são os caminhos do amor fraterno), como acontecia entre os que foram criados e educados na Praça dos Remédios entre os anos 1930 a 1970, antes daquele logradouro ser destruído pela Zona Franca de Manaus. 

Ontem ofereci a Dilma uma canção. Hoje quero te oferecer uma outra, que catei na internet de uma admiradora do teu governo, e que com sábia delicadeza te ofereceu num gesto de acalento. Faço dela minha homenagem carinhosa. É pra ti e para Marisa, a quem te peço minhas recomendações. A canção é cantada em inglês. Não te importes com isto. Vale o seu significado universal.

A luta continua, companheiro. Feliz Ano Novo.

Um comentário:

Dênis disse...

Rogélio... Seria mesmo muito bacana se estas palavras chegassem até o companheiro presidente. Naquele momento em que a Dilma dedicou sua chegada à presidêcia aos companheiros que tombaram no caminho, lembrei de um texto em uma murga uruguaya (murga é uma das manifestações do carnaval dos hermanos). Em um texto introdutório á canção final do espetáculo de 2005, os murgueiros de Agarrate Catalina lembram dos muitos que dedicaram toda uma vida de derrotas, tombando sem poder assistir à posse de Tabaré Vasquez, hoje precedido pelo genial Pepe Mujica. O texto, singelo, diz assim: "A estos "perdedores", salud!"

Salud, Rogélio!!!