PICICA: Numa das noites "calientes" de Manaus, baixou no bar do Armando um cavalheiro que parecia vir de muito longe. Depositou um estojo com um violão numa das cadeiras, e noutra ficou a contemplar o Teatro Amazonas. Dois músicos, atraídos pelos encantos de provável diálogo musical, acercaram-se. Depois de uma breve conversa, o músico sacou o violão de muitas cordas e pôs-se a dedilhar várias pérolas da cultura espanhola. A praça São Sebastião foi inundada pela música andaluza conhecida como flamenco, de rara beleza. O bar do lusitano Armando transformou-se numa noite em território espanhol. Que não me ouçam os parentes portugueses, inimigos cordiais do povo castelhano. Reza a lenda que o jornalista Deocleciano Bentes, em visita à família de Armando em Portugal, ao ver o patriarca a tomar o sol da manhã na varanda da casa, resolveu pregar-lhe uma peça, pois que a residência da família ficaria na fronteira com a Espanha. Em alto e bom som, gritou: "Ô, de casa! Estou na Espanha?", ao que recebeu uma resposta desaforada: "Na Espanha é o c..., ora pois!". Virou anedota. E eu aqui a contá-la com a legitimidade familiar de quem tem avós maternos portugueses e bisavô paterno espanhol. Hoje ao ouvir Paco Lucia no Diario Gauche, lembrei-me daquela noite memorável. Reproduzo-a para os leitores do PICICA. O presente post é uma homenagem ao mais brasileiro dos lusitanos - o nosso querido Armando -, internado no Hospital Beneficência Portuguesa (já em fase de recuperação), como prova de gratidão pelo seu inquebrantável espírito de tolerância para com a diversidade da fauna que frequenta seu bar. Grande Armando!
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