janeiro 04, 2011

O terror de Estado na Itália e Cesare Battisti, por Tomás Rosa Bueno

PICICA: "Todos os membros do governo italiano, sem exceção, da extrema-direita do norte do país aos socialistas, têm as mãos manchadas do sangue das centenas de italianos assassinados durante os anos do terror."

Imagem postada no passa-palavra.info

O terror de Estado na Itália e Cesare Battisti


Do início dos anos 70 em diante, a Itália começou a ferver. De norte a sul, o absenteísmo subiu a níveis inauditos, a sabotagem da produção industrial generalizou-se, as greves se sucediam, os bairros se organizavam em coletivos que regiam cada vez mais aspectos da vida social, da ocupação do espaço coletivo aos preços praticados pelo comércio local, as universidades se esvaziavam enquanto a juventude se recusava cada vez mais maciçamente a enquadrar-se nas "opções" de trabalho, lazer e educação que a sociedade lhe oferecia. Rádios piratas pipocavam por toda a parte e em uma região como o “centro storico” de Roma, dezenas de coletivos de ruas e de praças decidiam tudo, de quanto se pagaria de aluguel a quanto os supermercados locais poderiam cobrar por um quilo de arroz ou um pacote de velas. Os cinemas eram obrigados a franquear a entrada pelo menos um dia por semana e um show do Lou Reed em um estádio de Roma teve menos público dentro do que policiais e jovens do lado de fora atirando pedras para dentro, porque o “artista” se recusara a fazer um show gratuito em praça pública, contrariando o que já se tornara uma tradição para as bandas de rock que visitavam a cidade.

Em toda a Itália, a ordem reinava, mas não governava.

A este movimento perigosamente subversivo o Estado italiano, corrupto até a medula e infiltrado em todos os níveis pela máfia e por neofascistas, e cujos serviços de informação agiam sem qualquer controle, respondeu com o terror. Incitando inocentes úteis com a capa vermelha da “ação radical” ou conduzindo ele próprio as suas operações mediante os grupos clandestinos ligados à “operação Gladio” (informações mais completas aqui, em italiano, e aqui, em inglês), instaurou a chamada “estratégia da tensão” uma onda de atentados a bomba, assassinatos e sequestros que mataram centenas de italianos. A operação foi um sucesso e o movimento popular que tanto assustava os donos do poder no país (e que já começava a render frutos nos países vizinhos) foi dizimado e os serviços de informação puderam convocar as dezenas de agentes provocadores que haviam infiltrado (e muitas vezes até fundado) os grupos de “luta armada” a se “arrependerem”, passando a denunciar e acusar os seus ex-companheiros, que em pouco tempo estavam todos mortos ou atrás das grades, condenados com base em “provas” fornecidas pelos agentes do Estado infiltrados no movimento. Ou destruídos pela droga, cuja distribuição maciça pela polícia transformou Roma na capital europeia da heroína.

Os chamados “anos de chumbo”, que contaram com a plena e entusiasmada colaboração do partido dito comunista e com a cumplicidade dos “socialistas”, serviram para preparar a base social da tomada do poder do Estado italiano pelos grupos que até então tinham agido nas sombras da ilegalidade, promovendo a ascensão ao governo de indivíduos como o Silvio Burlesconi e outros ligados diretamente ao crime organizado, aos movimentos neofascistas e aos remanescentes da operação Gladio e da loja maçônica Propaganda Due, a P2. Todos os membros do governo italiano, sem exceção, da extrema-direita do norte do país aos socialistas, têm as mãos manchadas do sangue das centenas de italianos assassinados durante os anos do terror. É a esta paródia sinistra de “governo democrático” que a nossa direita tupiniquim e os seus aliados de ocasião querem entregar o Cesare Battisti.

Fonte: Luis Nassif Online

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