PICICA: "Que o texto é fundamental para o teatro, não há dúvidas. Mas, que texto?"
A dramaturgia da pré-história à contemporaneidade
Ao longo de sua história, que acompanha a da humanidade, o teatro passou por formas substancialmente distintas. Aliás, está longe de tomar uma forma única e padrão e nem acho que se proponha a tal. Assim sendo, palco, cenário, ator e texto se transformam, se trocam e intercambiam distintas formas. Talvez seja a própria necessidade de inserir-se socialmente que o impulsiona a ser moldável. Já dizia Bertold Brecht, que o teatro inserido em uma era científica exige do ator também uma compreensão em nível científico. Só assim será possível dialogar com as questões do dia a dia da sociedade, e é nela que ele se molda.
Embora tal discussão se amplie para o Teatro, enquanto um todo, vou apenas abordar neste momento a questão do texto, ou da dramaturgia. Sem me deter a detalhes, portanto perdendo a riqueza que representam os detalhes da dramaturgia ao longo de sua história, serei breve na introdução, a começar pela dramaturgia na pré-história.
Na pré-história, obviamente, não havia texto, mas ainda assim histórias eram contadas. Os hieróglifos nos contam, em desenhos, as narrativas corporais de atos heroicos contados pelos homens das cavernas quando retornavam das caçadas.
Alguns milhares de anos mais tarde, o teatro grego merece destaque. Longos textos, geralmente monólogos, registravam o drama e a comédia. Ambas tinham por enfoque retratar a relação dos homens entre si e com os deuses. Verdadeiras “lições de moral”, tinham por objetivo docilizar os cidadãos e submeter-lhes às leis do Estado e dos deuses.
Na Idade Moderna, a partir do século XV, cujo nome de peso é Shakespeare, são baseados em textos escritos, com diversas rubricas (as marcações de cena, geralmente escritas em itálico), descrições ricas em detalhes como antecessoras de cada cena e um texto bastante condizente e pautado na realidade das sociedades. Muitas vezes os textos eram encomendados pelo Estado com a finalidade de subjugar o proletariado que começava a se manifestar diante das opressões sociais.
Essa forma de dramaturgia, mais fidedigna com o social, manteve-se firme até o início do século XX, quando outros nomes como Copeau, Meyerhold, Decroux e Grotowski surgiram, trazendo à tona a riqueza de formas permitidas pelo teatro físico. Neste momento, o corpo do ator torna-se o principal agente na produção teatral. São permitidos espetáculos inteiros, sem uma frase falada sequer. Isso não quer dizer, no entanto, que a dramaturgia ficou esquecida na contemporaneidade, mas uma nova forma de dramaturgia fez-se necessário. Textos fragmentários, que parecem incompletos, atemporais, assincrônicos, assimétricos e “no sense” emergem com força total. Vinculados ou não à realidade, não deixaram de contar histórias, mas reformularam-nas conforme a multiplicidade da vida. Renderam-se à plasticidade do pensamento, da ciência, da ideologia e da história, como não podia deixar de ser.
Talita Baldin
Psicóloga por profissão, artista mais por vocação do que por profissão. Nas horas vagas atua, desenha, e rabisca um verso e outro..Fonte: OBVIOUS
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