Um pouco de história
Em 1989, a cidade de Santos, que tinha como secretário de saúde o sanitarista David Capistrano, vê surgir no Brasil uma das mais ousadas e polêmicas estratégias de promoção de saúde já implementadas: a troca de seringas como forma de prevenção da Aids, hepatite C e outras doenças infecto-contagiosas. Utilizada em alguns países da Europa havia já dez anos, estas ações tinham como objetivo prevenir doenças que podiam ser transmitidas por meio do compartilhamento de seringas por parte de pessoas que usam drogas injetáveis. A iniciativa santista sofreu severa oposição, resultando inclusive na detenção de alguns dos coordenadores do programa.
Dali até que ações semelhantes viessem a ocorrer de modo mais continuado, passaram-se alguns anos. Em 93, um evento internacional sobre Aids em Santa Catarina instiga várias ONGs a buscarem a implementação de ações de RD. Mas a primeira cidade a garantir sustentabilidade foi Salvador, em 1995. Em 96, foi a vez de São Paulo, Porto Alegre, Cuiabá e Rio de Janeiro. Não demorou muito para perceber que a população que se pretendia atingir dificilmente procuraria os serviços de saúde convencionais. Buscando a efetividade das ações, pessoas que usavam drogas tiveram de transformar-se em trabalhadoras e trabalhadores de saúde, procurando pelas rodas de uso nos locais onde estas aconteciam. Iniciava-se a escrita de uma nova página na história da Saúde Coletiva no Brasil.
Em 1997, é criada a ABORDA, durante o 2º Congresso Brasileiro de Prevenção da Aids, em Brasília. Os objetivos, daquela época até os dias de hoje, não mudaram muito: a implementação e o fortalecimento da Redução de Danos como política pública, e a defesa da dignidade do redutor de danos.
Nos últimos 10 anos, houve grandes transformações nas perspectivas de Redução de Danos. Inscritos no cotidiano do SUS a partir da necessidade de enfrentamento das formas de transmissão do HIV ligadas ao compartilhamento de equipamentos de uso de drogas injetáveis, os redutores de danos contribuíram significativamente na luta contra a Aids, e abriram um leque de novas possibilidades na forma de se fazer e pensar saúde no Brasil. A Redução de Danos, hoje, constitui-se em um conjunto de políticas públicas ligadas ao enfrentamento dos eventuais problemas relacionados ao uso de drogas, articulando distintas realidades: prevenção ao HIV/Aids e hepatites, promoção integral de saúde às pessoas que usam drogas e diminuição da violência. Tal articulação consiste no apoio/incentivo ao protagonismo das pessoas que usam drogas, na busca pelo cuidado de si e manejo do seu uso de drogas.
Hoje, a ABORDA está presente em quase todos os estados brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Amapá, contando com a força de centenas pessoas ligadas a dezenas de programas governamentais e não governamentais de Redução de Danos, e constituindo-se na grande roda de articulação política em defesa da Redução de Danos e dos Direitos Humanos das pessoas que usam drogas.
A ABORDA busca destacar a importância de redutoras e redutores de danos, defendendo a melhoria de suas condições de vida e trabalho, e contribuindo para sua organização e capacitação técnica. Além disto, defendemos a ruptura com paradigmas ora instituídos no que tange aos discursos sobre drogas e pessoas que as usam através da articulação com movimentos sociais, universidade e Estado, contribuindo para a construção de políticas públicas diferenciadas, abertas à participação cidadã de populações sobre as quais recaem os efeitos de dispositivos que muitas vezes impedem seu acesso aos mais básicos direitos.
No desenvolvimento de suas atividades, a ABORDA observa os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência, colaborando com todos os movimentos sociais que buscam o fim de todas as formas de preconceito e discriminação, incentivando o protagonismo social e a democracia participativa em defesa dos princípios e diretrizes do SUS.
A atual diretoria da ABORDA, constituída a partir da eleição realizada durante o 6º Encontro Nacional de Redutoras e Redutores de Danos, na cidade de Santo André, em julho de 2006, é composta pelas seguintes pessoas:
Presidente
Elandias Bezerra Sousa (Goiânia/GO)
Vice-presidente
Maristela Moraes (Recife/PE)
Secretária
Fátima Machado (Porto Alegre/RS)
Tesoureira
Maria do Carmo Lachimia (Londrina/PR)
Saiba mais. Acesse ABORDA.
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