agosto 05, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (II)

Foto: Rogelio Casado - Abraço simbólico pela substituição do hospital psiquiátrico por um hospital de clínicas - Manaus, 18.04.2008
Eleições Municipais e Saúde Mental (II)

A dinâmica da estrutura social brasileira passa pelo corporativismo, pelas corporações burocráticas, pelo Estado e pelos grupos que se ancoram e dependem do Estado, segundo o sociólogo Sérgio Miceli. Marxistas têm outro ponto de vista.

Nesse contexto, as relações entre os intelectuais e a classe dirigente têm sido objeto de estudo. Sérgio Miceli afirma que os estudiosos que mapearam as encruzilhadas de trabalho desses intelectuais concluíram que os projetos de vida intelectual foram comprometidos pela política. Desse modo, a experiência do declínio, do clientelismo, do apadrinhamento é que explicam no Brasil Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza. Ou seja, a experiência brasileira é marcada pelo declínio.

Nesse sentido, para Sérgio Miceli – Doutor em Sociologia pela USP e pela École des Hautes Études em Sciences Sociaes –, na sociedade nacional, o que dá tensão à estrutura social não é exatamente o confronto entre o operariado e o empresariado. Os pontos nevrálgicos da tensão na sociedade brasileira passam pelas corporações, pela burocracia pública, pelos militares. Assim se explica porque a universidade pública não foi destruída. Fernando Henrique Cardoso bem que tentou. Não conseguiu justamente por causa da proteção burocrática, corporativa.

No campo da Saúde Mental, a área de tensão na corporação médica psiquiátrica está assim dividida: os conservadores, pela manutenção do hospital psiquiátrico; os reformistas, por uma sociedade sem manicômios. Entretanto, até a presente data não há indicações de que os candidatos à Prefeitura de Manaus adotem as teses do campo da Reforma Psiquiátrica em seus programas de governo. Tampouco corremos o risco das teses conservadoras prosperarem. A invisibilidade do setor é proporcional à cultura da indiferença e do preconceito contra pessoas com transtornos psíquicos, que atinge candidatos a governantes e parte significativa dos governados. Nesse cenário, os reformistas de araque deitam e rolam por entre as franjas da omissão.

Manaus, Julho de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do jornal Amazonas em Tempo, que circula às quartas-feiras.
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