agosto 18, 2009

Omissão

Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro
Foto: Rogelio Casado - Manaus - Amazonas, 2008

Omissão

Um único serviço em Manaus concentra o atendimento de emergências psiquiátricas para uma população de 2 milhões de habitantes. As classes médias e baixas comem o pão que o diabo amassou quando um membro da família entra em crise. As remediadas, que usam os serviços públicos, habituadas a facilidades, sofrem caladas o mesmo aperto.

A falta de serviços descentralizados – atualmente se diz territorializados –, além de tornar angustiante o deslocamento das famílias pelo caótico espaço urbano, consagra o modelo hospitalar como o destino das pessoas em intenso sofrimento psíquico.

Esse cenário alimenta preconceitos e fortalece o estigma contra a loucura.

O mais desconcertante é que se sabe que um bom acolhimento de pessoas num primeiro surto é decisivo na construção de novas relações sociais e simbólicas com a loucura, posto que loucos são os modos de existência humana, alguns deles trágicos, como nos ensinaram os gregos.

Entretanto, não só de serviços de emergência estão carentes as zonas populosas da cidade. Falta uma rede de atenção para os usuários de serviços de saúde mental, que cuide integralmente das suas demandas para além do uso abusivo de fármacos (ambulatórios dispensam medicamentos em quantidade excessiva até o próximo atendimento). Faltam centros de convivência que ofereçam programas de geração de renda, cultura e lazer, que facilite o processo de inclusão social.

Faltam, ainda, leitos psiquiátricos em hospitais gerais. Raymison Monteiro, quando diretor do Hospital Universitário Getúlio Vargas, bem que tentou. Não foi ouvido. Até a Residência Médica em Psiquiatria que com ele criei, atualmente anda mal das pernas. Lástima.

Por essa e outras é que nos falta um estudo sobre a passividade com que a população usuária (familiares e seus “doentes”) e técnicos em saúde mental convivem com a precariedade da política pública de saúde mental; sobre o silêncio dos que têm instrumentos para analisar a realidade, que são capazes de formar opiniões e que se omitem.

Manaus, Agosto de 2009.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado aos domingos no Caderno Saúde & Bem-estar do jornal Amazonas em Tempo.
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