Terça-feira, 25 de Agosto de 2009
uma lágrima para Anibal
Lamentavelmente, mais um amigo se despede. Morreu, na manhã de hoje, em Manaus, o amigo Anibal Beça, poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista. Anibal nasceu em Manaus em 1946. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Tem dezenas de livros publicados e em 1994 recebeu o Prêmio Nacional Nestlé, em sua sexta versão, com o livro “Suíte para os Habitantes da Noite”.
Não nos conhecíamos pessoalmente, mas a nossa amizade virtual data de mais de 10 anos: iniciou-se quando me convidou para participar da "Poemas" uma lista que criou com a Rosa Clement. Desde aquela época, creio que 1998, mantínhamos contato através de e-mail, com interrupções que decorriam de complicações causadas pelo que chamava de seu "rebelde diabetes".
De Anibal recebi estimulante e generoso comentário ao poema "Ausências". Comentário que está no livro "Eu, Meu Outro", publicado em 1999, ao lado de outros que muito me honram. Muito me honrou e comoveu, também a análise crítica ao livro "Anomalias", publicada aqui no blog.
O último poema que Anibal me enviou por e-mail foi este:
RECOMEÇAR
Anibal Beça ©
Prontos para fazer novo começo
assim como o bom dia novamente
sai do sol sem a névoa, seu avesso,
busquemos claridades displicentes.
O teu mundo não é maior que o meu
nem o meu choro é pouco do teu muito;
a pedra que me cabe nesse intuito
também te servirá no apogeu.
Todas as paixões passam num circuito
do Malecón de Cuba ao coliseu
no bem viver da vida e o seu minuto
O recomeço pousa nas pegadas
no desafio de verbo fortuito
de ressaltar as sombras salteadas.
Para Anibal escrevi o poema
amalgama amazônico
[para Anibal Beça]
fundada no verde e em versos
na lubricidade das matas
no caudal de rios e igarapés
vem do universo amazônico
uma poética que sem negar-lhe
transcende o regional e revela
sonoridades que amalgamam
como se fruta e semente
oriente e ocidente
alma e fera.
Fred Matos
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