A Cauda do Dinossauro from Kinoosfera Filmes on Vimeo.
Baseado em obra original de Angeli publicada na revista Chiclete com Banana na década de 80, o filme conta com atuações primorosas de Christiane Tricerri e Mário Bortolotto.Sinopse:
No submundo decadente de uma cidade em ruínas, onde tudo era proibido, uma mulher busca o último dos prazeres.
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Conheço Bortolotto de ouvir dizer, desde a virada do século, quando o velho amigo e ator, Javer Monteiro, dividia seu tempo entre uma peça minha e uma de Mário, num desses horários chamados alternativos (Teatro Augusta me parece). Vontade não me faltou, tempo e oportunidade, sim, para conhecê-lo pessoalmente. Não bastasse à curiosidade de conferir o que andava fazendo um artista tão diferente da maioria, independentemente de talento, itens importantes desse cardápio exótico, incluía o fato de o mesmo ser de Londrina, que me liga à Érica, ao Arrigo, a todo o pessoal do extinto Proteu e, também, a um passado longínquo do tempo em que eu fugia da polícia.
El tiempo pasa nos vamos poniendo viejos, e um dia vim a conhecê-lo, no palco, não como dramaturgo, mas como ator, em uma peça de Marcelo Rubens Paiva (A noite Mais Fria do Ano). Isso aconteceu, ainda nesse ano que insiste em não acabar. A peça não era (nem é), como disse e escrevi ao próprio Marcelo um primor da dramaturgia, no entanto, a vida e a essência desse Minotauro da juventude brasileira se faziam presente ali no texto. Mário Bortolotto, em cena, era o desvendar dos segredos do teatro e da vida, vestido em seu terno preto e com uma garrafa de vodka a tiracolo. Em algum ponto da peça, já estava provado que seus destinos, de Marcelo e Mário, se cruzavam. Caso isso exista de fato, mesmo. Ao tomar conhecimento, nesse dezembro que se encerra, que um balaço tinha atingiu o lado esquerdo do peito juvenil de Mário, não tive dúvidas: o seu coração blindado, ainda há de nos revelar coisas tão extraordinárias e que transformam, da mesma maneira que uma pedra, no fundo de um lago raso, mudou a vida de muita gente há vinte e cinco anos atrás, (o mergulho, sem volta, e no escuro de Marcelo, eternizado na pele do ator Marcos Frota).
Nesta última semana do ano recebo a notícia de que ele, Mário, foi conduzido (removido, poderia lembrar presunto, e não gosto disso) para casa, aonde vai terminar a sua recuperação. Pago pra ver como será um Revellion, sem vodka no caneco. Há. Como eu gostaria de estar ao seu lado para ver, aí, sim, eu teria uma dimensão exata da resistência humana. Agüentar, na raiva e na coragem, um malaco cheio de panca, com um treizoitão na mão é fácil. Duro mesmo é ver uma garrafa, branquinha, cintilante, sem poder comê-la.
O tempo se esgota, e é preciso terminar essa parábola viva. Como concluí-la? É fácil!
Feliz Ano Velho trouxe à cena e aos corações, há algumas décadas atrás, o sonho quase interrompido de um jovem e a dramática história de um desaparecido político, que ousou desafiar a violência do Estado. Estado esse que, por sua vez, sufocava projetos e a liberdade de uma Nação que mal nascia. O Coração Blindado, de Mário Bortolotto, desafia a violência dessa sociedade que tem vários atores e co-autores: o malaco que apertou o gatilho, é o gaiato que nem sabe a que estória pertence. Não tem história, não tem sonho, nem nada! Vai morrer, como diz o ditado, “com a boca cheia de formiga”. Mário está se refazendo e renascendo para revelar, não sua tragédia, mas a fúria dos justos. Ele renasce, para revelar nossas Vinhas da Ira!
É o que te deseja, um parceiro dessa estória bufa. FELIZ NOVO ANO, VELHO BORTOLOTO.
São Paulo - Brasil - 2009 (cortina).
Jair Alves - Dramaturgo
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