mcrost01 — 19 de dezembro de 2009 — Comentário de Arnaldo Jabor sobre a descriminalização da maconha. CBN, 25/8/2009.
http://cbn.globoradio.globo.com/comen
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Baseado em testes científicos
A GNT reprisou recentemente o documentário A verdade sobre a maconha, também chamada de erva do diabo. Conduzido por um psicólogo especialista em vícios, o programa discute verdades e mitos que envolvem a cannabis sativa. Além de alguns depoimentos de usuários, são também apresentadas várias pesquisas tanto sobre os seus efeitos relaxantes quanto sobre suas propriedades terapêuticas.
As novas investigações derrubam vários preconceitos a respeito de uma das drogas até agora menos compreendidas, embora das mais consumidas no mundo. Questões polêmicas são abordadas: provoca dependência? tem relação com a esquisofrenia? estimula a procura de outras drogas mais pesadas?
As respostas são esclarecedoras. A mencionada dependência é de caráter emocional e cultural e não químico. Os distúrbios esquisofrênicos foram observados em percentagem mínima, geralmente, entre jovens com menos de 15 anos. Não se pode afirmar, absolutamente, que incite o usuário a buscar drogas mais poderosas. E se não bastasse a demolição dos velhos mitos, as pesquisas avançam na descoberta dos seus elementos terapêuticos.
Assim se reforça a bandeira da descriminalização da maconha, iniciativa ainda tímida no Brasil, porém, fundamental para retirá-la do controle do tráfico e dos policiais sem escrúpulos. Bandeira já há muito tempo desfraldada por Gabeira e Carlos Minc, agora também agitada por Fernando Henrique Cardoso e que, infelizmente, outros setores das esquerdas, incluindo o PT, deixaram de lado.
A prática de esquerda não pode ficar refém dos preconceitos e sucumbir ao discurso do desprazer capitalista, à pulsão de morte. Isso é coisa de norte-americanos estressados, puritanos e suicidas. E por falar nisso, reproduzo aqui o que Arnaldo Jabor, num dos seus momentos lúcidos e menos direitistas, disse sobre o assunto. A césar o que é de césar.
Fonte: Impertinências
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Nota do blog: Resta saber se Jabor fará chamada para a Marcha da Maconha.
VÁ A MARCHA DA MACONHA 2010!
"É preciso tirar do armário as vozes libertárias, anti-proibicionista s. Elas precisam correr riscos mas têm de se pronunciar com desassombro e clareza" – Luiz Eduardo Soares em entrevista ao coletivo DAR – Desentorpecendo a razão.
Começo fazendo algumas considerações básicas, mas que nem sempre são levadas em consideração quando o assunto é "drogas" (tabu):
1- Todos usamos "drogas" (substâncias psicoativas) sejam elas lícitas ou ilícitas: álcool, tabaco, cafeína, psicofármacos (receitados pelos "doutores" ou não), chocolate, cocaína, heroína, crack, etc.
2- Algumas são mais e outras são menos danosas ao organismo, porém, o fato é que elas existem e é impossível acabar com elas ou com seu consumo. E, aproximadamente, 80 anos de proibição demonstram isso.
3- O uso indevido de "drogas" é um problema cultural, de valores sociais e de saúde pública, educação. Não deve ser nunca uma questão criminal.
4- Há milhares de mortes por ano relacionadas ao proibicionismo arbitrário das ditas "drogas".
5- O Estado e seus agentes públicos gastam mais tempo e dinheiro no combate ao tráfico de substâncias tornadas ilícitas do que em saúde pública e educação.
6- Muitas substâncias tornadas ilícitas, em especial, a cannabis, tem um potencial terapêutico imenso.
Tendo em mente essas considerações, podemos afirmar categoricamente que defender a descriminalizaçã o das drogas ou sua legalização não significa que se esteja elogiando as drogas, estimulando seu consumo ou admitindo que se consome. Muito pelo contrário, defender a legalização das "drogas" é ser racional e pragmático.
É necessário repudiar a excessiva intervenção estatal nas decisões estritamente privadas dos cidadãos, quando elas não prejudicam de forma alguma a vida da comunidade. O Direito Penal, mergulhado em seu próprio narcisismo de querer ser a solução para todos os problemas do mundo, justifica a proibição das "drogas", afirmando tutelar o bem jurídico da "saúde pública"!
Paro o inferno com os bens jurídicos e a saúde pública! Às favas com uma retórica jurídica que esconde uma realidade macabra e perversa: a criminalização da pobreza, o controle social exercido pelo poder de polícia do Estado para manter o "status quo", o interesse de grupos oligárquicos que lucram milhões com o proibicionismo das "drogas". Sim, muitos lucram com a proibição e não têm interesse nenhum em acabar com ela.
a) Empresas de segurança privada, que lucram com o medo e a insegurança generalizados típicos de um Estado Penal. Afinal, são os dois elementos que fundam esse tipo de Estado.
b) Delegacias especializadas no combate ao narcotráfico e todos os agentes de repressão a serviço do Estado.
c) Clínicas de tratamento, com suas diárias caríssimas e sua eficiência pífia, que, além de serem prisões disfarçadas de "spas", recebem verbas públicas para aumentarem seus leitos e retirarem o entulho social das ruas, escondendo-os em manicômios ou qualquer outra instituição total do gênero.
d) Os "empresários morais" que vendem fácil o seu discurso moralista nos meios de comunicação. Aqui incluso todo o tipo de moralista, que prega a sua moral da história, sendo a parte mais visível desse grupo aqueles ligados às Igrejas cristãs e à mídia oligárquica.
e) E claro os traficantes de verdade, que não moram em comunidades pobres, mas em apartamentos- 1-por-andar em Copacabana.
E o cidadão, como sempre, perde. Pois como bem lembrado por Marcelo Mayora (link: http://tunelnofimda luz.blogspot. com/2009/ 12/ai-ai- ai-ai.html):
"A proibição não elimina os usos de drogas. Entretanto, gera certos tipos de efeitos, transforma-os. Os principais efeitos que decorrem da proibição, do ponto de vista dos usos, são a desinformação e a glamourização. Ambos, ao seu modo, são derivados do tabu que paira sobre o tema, de uma espécie de bloqueio lingüístico, das dificuldades de se falar abertamente sobre o assunto."
Logo, devemos repudiar a hipocrisia que libera (incentiva) o cigarro e o álcool e proíbe a maconha. Assim como não devemos aceitar que um adolescente pobre e negro, de 18 anos, seja declarado criminoso e enjaulado porque vendeu maconha a outro, da mesma idade, mas de outra classe social e outra cor de pele, paternalisticamente definido como vítima: o consumidor.
Em conseqüência, a imagem usual do vendedor de drogas como alguém mal, cruel e violento, não passa de uma construção social estigmatizante que costuma ser aplicada de modo generalizante e que funciona como instrumento de reprodução de preconceitos e desigualdades sociais. Raros são aqueles que agem em conformidade com a descrição que identifica o sujeito com a monstruosidade inumana. Em sua maioria, na verdade, são garotos pobres que foram pegos com quantidades ínfimas de drogas e estavam desarmados. Ou seja, são presos políticos! Presos por causa de uma política inadequada.
Do mesmo modo, raros são aqueles usuários de "drogas" que agem e se parecem em conformidade com a descrição que a mídia, e por conseqüência, a sociedade faz deles. Vide a campanha "crack, nem pensar!" do Partido RBS, na qual modelos maquiados fazendo caras e bocas na sarjeta moldam o (in)cosciente coletivo, fazendo-nos associar "drogas" com sujeira, VIOLÊNCIA, depravação, imoralidade. Pede-se, assim, que a sociedade clame por mais repressão, legitimando as políticas proibicionistas - repressivas.
Como diz Luiz Eduardo Soares em sua entrevista, "a verdadeira questão sempre mascarada é a seguinte: como não está ao nosso alcance impedir o acesso às substâncias que chamamos "drogas", temos de nos perguntar: em que contexto jurídico-político seria preferível vivenciar esta iniludível realidade? Dizendo-o de outro modo: em que contexto normativo seria menos mau lidar com a realidade do acesso às drogas? O contexto atual, em que drogas são problema de polícia e cadeia, isto é, de política criminal? Ou um contexto diferente em que elas fossem objeto de saúde pública e educação? Eu aposto no segundo caminho. Ele não vai evitar o abuso, mas pelo menos não vai provocar outros males. Das drogas e de seus efeitos destrutivos nós nunca nos livraremos, mas poderemos aprender a conviver melhor com elas, a ponto, inclusive, de reduzir o sofrimento humano que seu abuso provoca."
Por isso, convoco todos os cidadãos a participarem de um dos maiores eventos contraculturais da cidade de Porto Alegre, a Marcha da Maconha 2010! Se você não é um daqueles que ganha com a proibição das "drogas", e sim um daqueles muitos que apenas perde com a atual política moralista, alienígena (foi "importada" dos EUA), ineficaz e proibicionista das "drogas", venha marchar e debater essa questão tão importante para um País que se julga democrático.
Afinal, O QUE NÃO PODE SER DEBATIDO EM UMA DEMOCRACIA?
Para acabar com a violência diária retratada nos meios de comunicação e buscar uma solução sensata e eficaz ao abuso de substâncias ilícitas, ao invés de cair no discurso maniqueísta vendido barato nos jornais populares e ficar colando adesivos no carro: "crack, não vou pensar no assunto!" É preciso ir para às ruas e gritar: chega de morte, chega de prisão, queremos já a legalização!!!
Cidadão demonstre a sua contrariedade com a atual política de drogas. Vá a marcha! Sua presença é muito importante, quanto mais pessoas forem, mais próximo da mudança estaremos! Venha lutar pelo direito de questionar a atual política de drogas do nosso país!
A Marcha é um movimento social de reivindicação de direitos, inclusive, o de livre expressão! Abra a cabeça!
Rizoma Princípio Ativo
Por uma nova política de drogas
Um comentário:
Esse negócio é bom!
Gostei muito ! vcs estão de parabéns!
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