Steven Russell (Jim Carrey) é um homem que tem uma vida feliz ao lado de sua mulher (Leslie Mann). Mas quando ele sobrevive a um grave acidente de carro, sua vida muda para sempre. Steven assume que é gay e decide aproveitar tudo o que a vida pode lhe oferecer de melhor, nem que para isso tenha que dar alguns golpes. Com Rodrigo Santoro (300) e Ewan McGregor (Anjos e Demônios), O Golpista do Ano é uma fantástica comédia inacreditavelmente baseada em fatos reais.
O Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris) dia 04/06/2010 nos cinemas.
Visite: http://www.imagemfilmes.com.br/imagem...
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por Ana Al Izdihar – Por que será que a onda agora são programas de gays, com gays apresentando, séries e filmes sobre gays, ou que remetem e apelam ao “mundo” gay (se é que existe algo assim)? Deve ser rentável… A figura gay masculina vende, neste mundo machista!
Mas não isento esta moda da imensa curiosidade dos heteros em saber como é esse tal mundo gay. Fico pasma como a maioria dos heteros que conheço tem ideias muito absurdas de como funciona a sexualidade homossexual. Falta de conhecimento, claro – aliás, o preconceito vem mesmo da ignorância.
Os heteros se esquecem que os gays têm uma vida igual a deles: contas para pagar, pegam ônibus, dirigem carros, estudam, têm família, atendem telefone. Talvez influenciados muito pelos veículos de mídia, heteros pensam que gay só faz sexo o tempo todo! Gay não janta, não almoça, não fica em fila de banco, não muda de casa, não paga aluguel, não tem sobrinhos. Sem falar na mente medíocre de quem não sabe nem como funciona a própria sexualidade, quanto mais a dos outros, quiçá a dos homossexuais. Já viram por aí algo parecido, certo? Há os que pensam que todo gay quer ser mulher, aparentando aquela figura estereotipada dos programas humorísticos de TV. E é sempre passivo no ato sexual. Nossa! É o erro!
A tal abertura nas mídias para os filmes, programas, sites e uma infinidade de produtos com a temática supostamente gay aparenta ser uma faca de dois gumes. Percebo que ao tentarem mostrar como vive e o que pensa o gay, como se quisesse achar algo de “normal”, são ao mesmo tempo uma forma de fixar ainda mais certos clichês. Ao se divulgar o universo gay (vocabulário gay, gestual gay etc.) amplia-se sim o conhecimento da perspectiva gay das coisas, sem deixar de aprisioná-los num formato, com talvez a desculpa da falta de tempo, espaço para aprofundar a visão pelo veículo que o faz. Ou simplesmente porque é interessante para os patrocinadores que este formato continue sendo divulgado assim, pois a categorização favorece as vendas.
Estava bastante ansiosa para ver esta experiência de Jim Carrey, já que o admiro bastante não somente por seu talento, como também pela constante coragem em ousar sair dos padrões que a indústria poderia lhe ter imposto: o comediante careteiro. Ele fez dramas (Trumam Show, Brilho eterno de uma mente sem lembranças), suspense (Número 23), humor pastelão (Ace Ventura, O mentiroso), humor sarcástico (Cable Guy), se expôs de formas bastante interessantes e inteligentes. Queria ver como ele, que se mostra sempre politicamente incorreto, mas sempre simpático, iria montar um personagem gay, tendo em vista que o tema dá margem aos clichês. Pensei: isso poderia condená-lo para sempre à extrema-direita hetero ou a puxa saco de gays.
Não conseguirei medir a reação do público, até porque a teoria da recepção caiu em desuso, ao que me parece. Não sei como as pessoas vão julgar Carrey. Mas vejamos, contarei parte do segredo de O golpista do ano (em cartaz desde o mês passado): Jim Carrey aposta na conhecida irreverência e no velho cinismo na composição do personagem, enquanto a direção aposta na narrativa politicamente incorreta – só que de leve! –, respaldando-se numa história real (Esta estória aconteceu mesmo! De verdade! É sério, aconteceu mesmo!) que já é cômica per se e, assim, ela “faz a Wynona” e tira o de todos da reta.
(Por falar em teorias de análise de narrativas, os seguidores da ala freudiana vão adorar este filme: há material bastante didático para traumas, complexo de Édipo e não sei mais o quê. Como eu não creio nem em traumas, nem em complexos, volto para aquilo que é da minha conta.)
A narrativa fica simpática para heteros e homos, pois Steven Russell passa de enrustido a assumido, de assanhado a apaixonado, mas sempre adoravelmente safado! Um golpista esperto e compulsivo que, se não fosse por isso, seria como qualquer um de nós: com ótimas qualidades, mas com alguns esqueletos no armário (como diria um provérbio da língua inglesa). Se você espera um Jim Carrey desmonhecando feito a Vera Verão Canadense, esqueça. Você pode brincar no filme de “onde está Santoro” e vai achar! Eu gostei. Mas para mim o destaque é a discrição e talento do macho escocês Ewan McGregor: arrasa e fecha nas jóias! É rentável este filme.
A obra é empolgante, competente, ousadinha, mas confesso que mesmo com o arraso de McGregor, ainda prefiro o francês A gaiola das loucas (“La cage aux foulles”, 1978) com Ugo Tognazzi e Michel Serrault. Perdoem a nostalgia.
Mas não isento esta moda da imensa curiosidade dos heteros em saber como é esse tal mundo gay. Fico pasma como a maioria dos heteros que conheço tem ideias muito absurdas de como funciona a sexualidade homossexual. Falta de conhecimento, claro – aliás, o preconceito vem mesmo da ignorância.
Os heteros se esquecem que os gays têm uma vida igual a deles: contas para pagar, pegam ônibus, dirigem carros, estudam, têm família, atendem telefone. Talvez influenciados muito pelos veículos de mídia, heteros pensam que gay só faz sexo o tempo todo! Gay não janta, não almoça, não fica em fila de banco, não muda de casa, não paga aluguel, não tem sobrinhos. Sem falar na mente medíocre de quem não sabe nem como funciona a própria sexualidade, quanto mais a dos outros, quiçá a dos homossexuais. Já viram por aí algo parecido, certo? Há os que pensam que todo gay quer ser mulher, aparentando aquela figura estereotipada dos programas humorísticos de TV. E é sempre passivo no ato sexual. Nossa! É o erro!
A tal abertura nas mídias para os filmes, programas, sites e uma infinidade de produtos com a temática supostamente gay aparenta ser uma faca de dois gumes. Percebo que ao tentarem mostrar como vive e o que pensa o gay, como se quisesse achar algo de “normal”, são ao mesmo tempo uma forma de fixar ainda mais certos clichês. Ao se divulgar o universo gay (vocabulário gay, gestual gay etc.) amplia-se sim o conhecimento da perspectiva gay das coisas, sem deixar de aprisioná-los num formato, com talvez a desculpa da falta de tempo, espaço para aprofundar a visão pelo veículo que o faz. Ou simplesmente porque é interessante para os patrocinadores que este formato continue sendo divulgado assim, pois a categorização favorece as vendas.
Estava bastante ansiosa para ver esta experiência de Jim Carrey, já que o admiro bastante não somente por seu talento, como também pela constante coragem em ousar sair dos padrões que a indústria poderia lhe ter imposto: o comediante careteiro. Ele fez dramas (Trumam Show, Brilho eterno de uma mente sem lembranças), suspense (Número 23), humor pastelão (Ace Ventura, O mentiroso), humor sarcástico (Cable Guy), se expôs de formas bastante interessantes e inteligentes. Queria ver como ele, que se mostra sempre politicamente incorreto, mas sempre simpático, iria montar um personagem gay, tendo em vista que o tema dá margem aos clichês. Pensei: isso poderia condená-lo para sempre à extrema-direita hetero ou a puxa saco de gays.
Não conseguirei medir a reação do público, até porque a teoria da recepção caiu em desuso, ao que me parece. Não sei como as pessoas vão julgar Carrey. Mas vejamos, contarei parte do segredo de O golpista do ano (em cartaz desde o mês passado): Jim Carrey aposta na conhecida irreverência e no velho cinismo na composição do personagem, enquanto a direção aposta na narrativa politicamente incorreta – só que de leve! –, respaldando-se numa história real (Esta estória aconteceu mesmo! De verdade! É sério, aconteceu mesmo!) que já é cômica per se e, assim, ela “faz a Wynona” e tira o de todos da reta.
(Por falar em teorias de análise de narrativas, os seguidores da ala freudiana vão adorar este filme: há material bastante didático para traumas, complexo de Édipo e não sei mais o quê. Como eu não creio nem em traumas, nem em complexos, volto para aquilo que é da minha conta.)
A narrativa fica simpática para heteros e homos, pois Steven Russell passa de enrustido a assumido, de assanhado a apaixonado, mas sempre adoravelmente safado! Um golpista esperto e compulsivo que, se não fosse por isso, seria como qualquer um de nós: com ótimas qualidades, mas com alguns esqueletos no armário (como diria um provérbio da língua inglesa). Se você espera um Jim Carrey desmonhecando feito a Vera Verão Canadense, esqueça. Você pode brincar no filme de “onde está Santoro” e vai achar! Eu gostei. Mas para mim o destaque é a discrição e talento do macho escocês Ewan McGregor: arrasa e fecha nas jóias! É rentável este filme.
A obra é empolgante, competente, ousadinha, mas confesso que mesmo com o arraso de McGregor, ainda prefiro o francês A gaiola das loucas (“La cage aux foulles”, 1978) com Ugo Tognazzi e Michel Serrault. Perdoem a nostalgia.
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