PICICA: O "poetinha" Aldísio Filgueiras foi assaltado no dia de ontem na porta da sua casa, ao retornar do banco onde foi retirar uma merreca de 3 mil reais. Ao que tudo indica, os assaltantes receberam a dica de outros comparsas que atuam no golpe da "saidinha do banco", sendo seguido de carro até sua residência, onde foi rendido e agredido. Segundo ele, em depoimento para o jornal Amazonas em Tempo, onde trabalha, o crime está cada vez mais organizado... Em compensação a sociedade civil está a cada dia mais murcha e a cidade, sob maquiagem modernosa, cada vez se aliena mais em sua lassidão equatorial. Recomendo a leitura da obra poética de Aldísio "Manaus - as muitas cidades". O professor Lourival Holanda, da Universidade Federal do Amazonas, assim se refere ao poeta e sua obra: "O valor de uma vida se mede é no exercício dela. Aldísio Filgueiras, como uns poucos de sua geração, dedicou a Manaus o melhor de seu labor cultural. Mas o poeta não tem um recado a dar apenas por ter as vísceras a expor. Do engarrafamento ideológico que resultou da profusão dos conceitos, o poeta safou-se pela persistência de sua criação poética. Um poeta é só metade da criação de si - a outra metade é sua expressão:
"...em cada um de nós
uma reserva indígena resiste
- postais do abismo".
(...)
A poética filgueiriana revisita os bairros ""Manoa, Cidade Nova, Zumbi") para perceber que, contraditoriamente, no aglomerado humano em que a cidade se tornou, perdeu-se a "urbanidade" dos modos de conviver:
"quintais viram
danceterias e
os igarapés estão bêbados
de neon e mercúrio""
Ao poeta que deu voz às nossas insatisfações, a solidariedade do PICICA. Tua indignação é nossa também. Que um dia seja rompida a couraça da indiferença que feriu de morte nossa cidade, e que nossos desejos se façam multidão.
Para ler a matéria, acesse Amazonas em Tempo.
Um comentário:
Embora com grande atraso (eu morava nos Estados Unidos até início de 2014), li nesse blog sobre a violência a que foi acometido o meu amigo de infância. Tive a honra de participar de sua juventude quando juntos fazíamos incursões pelo bar do Bieca, incomodávamos o Wilson Mocinha e pedalávamos de Educandos à Cachoeirinha, isso sem contar que algumas vezes tiramos do sério o querido diretor Nina do mil vezes querido Colégio Estadual. Fizemos poesia e cantamos as músicas de Vinicius juntos e incomodamos sisudos pais com nossas serenatas? Essas lembranças são reminiscências de um passado que sonhamos, amamos e semeamos amanhãs. Tomamos rumos diferentes e nos perdemos um do outro nos horizontes que escolhemos, mas vejo com alegria que a verve do poetinha persistiu e em sua trajetória inflamou corações e mentes. Conhecí em Aldizio algo em si que é imutável: sua bondade e jeito carinhoso de ser. Ainda tenho uma quadrinha que ele fez em meu caderno escolar em setembro de 1963. Embora com atraso, expresso minha indignação à violência feita ao meu amigo.
Curitiba, 21 maio 2014 - Edson Seixas
Postar um comentário