março 16, 2011

Saúde Mental no Amazonas: avançamos? (V)

PICICA: "Vale lembrar que os dados aqui citados são referentes ao ano de 2000." Em Tempo: Ainda hoje Manaus tem uma das mais baixas taxas de implantação de CAPS do Brasil.
 Saúde Mental no Amazonas: avançamos? (V)
          
Transcrição, com breve comentário, do texto escrito em 2003 como Introdução à Política Estadual de Saúde Mental do Amazonas, aprovado pelo Conselho de Saúde quando fui gestor do Programa de Saúde Mental (2001-2007).

         “A ausência de escuta, cuidados e atenção às vítimas do abuso e exploração sexual infanto-juvenil, bem como dos seus agressores, através de uma rede de Centros de Atenção para os problemas psicossociais decorrentes da violência, limitam esforços da prevenção ao campo da educação e da repressão. O Estado do Amazonas e a cidade de Manaus se destacam, respectivamente, como 10º. e 4º. colocado, entre os denunciados no período de Fevereiro de 1997 a Janeiro de 2003. Fonte: Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência.

 O retardo mental que impõe uma pesada carga aos indivíduos e à família – principal responsável pelo provimento de cuidados – representa um ônus que perdura por toda a vida. Acredita-se que a prevalência varia de 1 a 3% dos retardos mentais de um modo geral, sendo 0,3 a taxa correspondente ao retardo moderado, grave e profundo, para os quais os serviços existentes no Estado, além de precários, dependem mais da filantropia do que de uma Política de Estado.

Se considerarmos a prevalência geral de transtornos mentais e comportamentais em crianças e adolescentes, que, de acordo com dados epidemiológicos internacionais giram em torno de 10 a 20% desses segmentos, para uma população de 1.507.969 entre 0 e 19 anos, na variação mais baixa, acima de 150 mil seres humanos dessa faixa etária necessitam de cuidados no campo da saúde mental, e entre os 352.375 adolescentes, de 15 a 19 anos, mais de 35 mil estão sujeitos a transtornos mentais, o que reforça a importância da criação dos CAPSi, já que 50% dos transtornos produzem incapacidade permanente. 

Os mais recentes estudos epidemiológicos internacionais demonstram que doenças mentais surgem mais precocemente do que se julgava. No caso das fobias, o risco situa-se entre os 10 a 14 anos; a esquizofrenia, uma dos transtornos mentais mais incapacitantes, surgem na faixa entre 15 e 24 anos; e os transtornos de humor, o risco máximo de alguns surgem entre 15 e 19 anos. Fonte: IPUB - Instituto de Psiquiatria – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

 A taxa de suicídio, por exemplo, que está entre as três maiores causas de morte em todo o mundo, em população a partir dos 15 anos até os 34 anos, teve um aumento de 133,3% entre 1991 e 2000. Sabe-se, extra-oficialmente, que na capital do Estado, só no bairro União, entre junho de 2001 a junho de 2002, 15 adolescentes, entre 15 e 19 anos, tentaram suicídio, 12 deles indo a óbito. Fonte: Comunicação verbal da médica Cristiane Marie do Programa Médico da Família – Manaus – 2002.

(Vale lembrar que os dados aqui citados são referentes ao ano de 2000. A residência médica em psiquiatria, implantada durante minha gestão à frente da coordenação estadual de saúde mental, tem um enorme desafio pela frente: atender as demandas supracitadas, tendo como referência ética os pressupostos da reforma psiquiátrica). 

Manaus, Março de 2011.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental

PICICA: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no caderno Bem Estar & Saúde.

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