maio 29, 2011

É tempo da Multidão.

PICICA: No cenário do apartheid global, onde a riqueza é perpetuada às custas do trabalho e da pobreza de muitos, a Multidão passou a se manifestar. Neste ano foi na África. Depois na Europa. No Brasil, ela começa a despertar. Na África do Sul, disse a Multidão: "Nós somos os pobres".  Ora, é impossível construir um mundo no qual cada sujeito não se baseie no reconhecimento dos outros. E na Multidão, quantas singularidades. Está em curso a montagem de um grande aparato polifônico. Os diferentes tipos de trabalho e de trabalhadores, de formas de vida e de localização geográfica não impedem a comunicação na Multidão. É possível a colaboração num projeto político comum. Hardt e Negri concebem a Multidão como formada por todos aqueles que trabalham sob o domínio do capital. Potencialmente, Multidão é a classe daqueles que recusam o domínio do capital. A Multidão é um conceito de classe. E classe é um conceito biopolítico ao mesmo tempo econômico e político. Neste caso, o trabalho deve ser entendido para além do trabalho assalariado. Efetivamente, refere-se às capacidades criativas humanas em todas a sua generalidade. Os pobres não estão excluídos dessa concepção de classe. Para o pensamento radical de Hardt e Negri, os pobres compõem a forma subjetiva paradigmática do trabalho no mundo de hoje. Para esses autores, a força mobilizada pela Multidão têm em comum não apenas um inimigo comum, chame-se Império ou globalização, mas um conjunto de práticas, linguagens, condutas, hábitos, formas de vida e desejos comuns de um futuro melhor. É da natureza da Multidão agir em rede. Com a falência do sistema de representações a Multidão vem protestando contra as desigualdades, injustiças e as falsas democracias. E isto é só o começo, para começar a reduzir o abismo que separa o desejo de democracia da soberania violenta do Império. "Com o tempo, algum evento haverá de nos propulsionar como uma flecha para esse futuro vivo. Será este o verdadeiro ato de amor político". Com estas palavras Michael Hardt e Antonio Negri concluem o livro "Multidão - Guerra e democracia na era do Império". É chegado esse tempo.   

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