PICICA: O roto falando do esfarrapado. É o que teria dito Tia Pátria, se estivesse entre nós, sobre um episódio que mais desinforma do que esclarece a opinião pública sobre o que está fora da cena que se vê na reportagem frustrada da TV Amazonas. A diretora do hospício público sabia o que estava fazendo ao negar-se a ser protagonista de mais uma tentativa de expor o óbvio. Até as pedras sabem das más condições de funcionamento do velho manicômio. Inclua-se aí a OAB, o Ministério Público e, por incrível que pareça, a coordenação de saúde mental do estado. Sucede que quem não sabe o que propor, diante da lentidão da implantação dos novos serviços que substituem o hospício, aproveita para tirar uma “casquinha” no mês próprio para denúncias. Em maio comemora-se a Luta Antimanicomial em todo o país. Mas enquanto, noutros lugares a militância luta por uma sociedade sem manicômios, aqui reformistas de araque passam uma mensagem dúbia ao fazer do lócus do hospício seu leitmotiv. Já propuseram “escolinha de be-a-bá” dentro do hospício para os usuários do manicômio, deslocamento de internos de longa permanência para residir num bairro periférico, e mais recentemente atividade de economia solidária para usuários em tratamento ambulatorial, tudo em nome da inclusão social. É de morrer de vergonha. Chama atenção o fato de que integrantes de pelo menos um desses grupos tem relações próximas da administração municipal, sem que se esboce uma crítica à lentidão das ações que estão a comprometer a qualidade da atenção à saúde mental na cidade de Manaus. Aqui temos um nexo cultural que está por ser desfeito. Decisões que devem ser tomadas de um ponto de vista técnico/político dão lugar a acordo entre “amiguinhos”. É o que se depreende da fala de uma autoridade sobre uma decisão que permite manter atividades incompatíveis com o desafio da reforma antimanicomial que queremos: “Tive que atender um pedido da “fulaninha” que me informou que tem um grupo que está dando as cartas sem ouvi-la”. Esse texto está subdito na fala da diretora. Não tem lhe restado outra coisa do que administrar uma massa falida, cuja agonia se estenderá enquanto não houver uma rede de atenção psicossocial. A omissão sobre a quem compete essa missão tem sido a estratégia para obscurecer responsabilidades. Sobre o fim dos manicômios, nenhuma palavra. Os que lutam por uma sociedade sem manicômios repudiam o episódio. Precisamos tanto de uma efetiva política de saúde mental como de uma comunicação clara sobre as dificuldades e as estratégias para superar as limitações do setor, sob pena de aumentar mais ainda o sofrimento dos que dependem do SUS.
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