PICICA: Em toda a história dos manicômios não há registro de que eles tenham atingido o objetivo pelo qual foram criados. Mais do que um instrumento terapêutico, os manicômios atuaram como um instrumento de exclusão. À exclusão física dos internos uma outra se superpôs a ela: a exclusão simbólica do universo da cidadania. Impedidos de viver a cultura dos nossos tempos, os usuários de saúde mental foram reduzidos a uma espécie de "menoridade social". E essa menoridade que sustenta toda sorte de violência contra as pessoas com transtorno mental, como nos lembram Jane Russo e o saudoso João Ferreira da Silva Filho na apresentação do livro "Duzentos Anos de Psiquiatria". O Brasil faz parte do desafio civilizatório de fazer caber o louco na cultura atual, através de um novo modelo de assistência voltado para a manutenção dos vínculos entre o usuário e a comunidade. Resta saber até quando conviveremos com uma psiquiatria que insiste em ser guardiã da violência simbólica que subtrai os direitos civis das pessoas com transtorno mental? Para que não suceda, ao fechamento do manicômio, que essa mesma violência seja reproduzida nos serviços que substituem os hospícios, os novos tempos impõem um grande desafio a uma psiquiatria que não tolera viver com a ausência da alma e do cérebro, e que faz da "re-medicalização" um instrumento para lidar com a loucura em suas múltiplas variedades clínicas. Para isso, se faz necessário problematizar os pressupostos dos diversos campos que sustentam as práticas da violência simbólica, na qual o sujeito é sempre remetido ao seu sintoma, tornando o seu corpo escravo do discurso patologizante da psiquiatria conservadora. Ora, o sintoma de corpo funciona muita das vezes como um protesto, como uma denúncia de problemáticas sociais e coletivas. Antes de ser um agenciamento individual, é um ecossistema. E é a diversidade de ações pelas quais o poder age no corpo que permite novos exercícios de poder nas dobras do devir e da alegria de viver. Afinal, ninguém nasceu pra fazer curso de canário. Por uma sociedade sem manicômios.
O Dia Nacional da Luta Antimanicomial foi celebrado em Manaus com novos parceiros na luta pela construção da cidadania historicamente negada às pessoas com transtorno mental. Técnicos, familiares, usuários dos serviços de saúde mental e alunos da Escola Diofanto Vieira para pessoas com deficiência mental, apoiados por mais de 120 alunos do curso de Gestão Pública da Universidade do Estado do Amazonas realizaram uma caminhada cívica para dar conhecimento à sociedade manauara da existência do Projeto Nós & Voz, projeto de inlcusão social proposto pela Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial). Foram distribuídos panfletos e balas de chocolate, convidando a população a fazer suas encomendas pelo telefone 3308-4932. O Projeto Nós & Voz é um projeto de extensão da Universidade do Estado do Amazonas, funciona na Trav. São Geraldo, 68, no bairro de S. Geraldo, e tem apoio da Empresa Junior da UEA. Tem como princípio a prática da Economia Solidária.
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