PICICA: Na fotografia, abaixo, Márcio Jordelane, atual presidente da Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial) e Aderildo Guimarães, que presidiu a entidade à epoca em que o governador Eduardo Braga sancionou a Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas (2007), proposta por essa entidade, juridicamente constituída desde 2004.
Foto: Rogelio Casado
Projeto Nós & Voz
O “Projeto Nós & Voz” é um projeto de extensão da Universidade do Estado do Amazonas. Tem como proponente a Associação Chico Inácio – entidade sem fins lucrativos que atua na construção da cidadania de pessoas com transtorno mental (PTM). Seu ex-presidente, Nivaldo de Lima, criou a expressão “Nós & Voz” numa reunião de trabalho onde se traçou o objetivo a ser alcançado: inclusão social de PTM, através de programas de geração de renda e arte, tendo como referência as práticas de economia solidária. Detalhe: ele é essencialmente antimanicomial e guarda coerência com as resoluções da IV Conferência Nacional de Saúde Mental, ao enfatizar a interação com outros setores da sociedade. Com esta visão intersetorial, são seus parceiros: o CETAM, a Universidade do Papel, a Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde e o Centro de Formação em Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.
O Projeto tem como coordenador acadêmico o professor do curso de Administração da UEA Raniery Mazilli, mestre em Sociedade & Cultura pela UFAM. A coordenação técnica está sob minha responsabilidade. A administradora Josevana Lucena, que acompanhou por um ano sua implantação como coordenadora executiva, está deixando a função com o sentimento do dever cumprido.
Até o presente momento, as atividades das oficinas de produção de trufas, balas de chocolate, pão de mel e serigrafia são as que mais se distinguiram na preferência do público alvo. Público que, além dos PTM, abrange familiares e pessoas da comunidade em situação de vulnerabilidade social. Recentemente, outro recorte da sociedade foi acolhido no projeto. São alunos de educação especial da Escola Diofanto Vieira Monteiro, da Secretaria Estadual de Educação.
Este último segmento, composto por pessoas com deficiência mental, trouxe para o projeto um desafio: superar a cultura do déficit. Afinal o desenvolvimento não é um conjunto de aprendizagens que se aprende de forma linear e cumulativa. Aprendizados mobilizam muito mais. Mobilizam, sobretudo, desenvolvimentos condicionados às interações do sujeito com o seu ambiente. Aqui é fundamental a interação com os outros e com os instrumentos técnicos simbólicos disponibilizados pela cultura. E é na qualidade dessas novas relações sociais que a aprendizagem auxilia no desenvolvimento de alternativas de ações que abrem caminho para uma política de efetiva inclusão social.
O Projeto não trabalha com a consagração perigosa do direito à diferença, posto que esta gera uma falsa sensação de igualdade, o que contribui para a manutenção das desigualdades econômicas. E é na Economia Solidária que encontramos o suporte para não cairmos nesta armadilha. Pessoas com transtorno mental e pessoas com deficiência mental, historicamente fora do mercado de trabalho, poderão doravante se valer da autogestão do trabalho como um caminho rumo à democracia econômica.
A experiência autogestionária, associada à desinstitucionalização da loucura e à concepção de aprendizado de pessoas com deficiência mental numa perspectiva histórico-cultural, é o caminho que prefigura a transformação social tanto para estes segmentos, como para a massa de trabalhadores desempregados. Esse ideal democrático é compartilhado com o eminente professor Paul Singer, atual Secretário de Economia Solidária do governo Dilma Rousseff. Estamos em boa companhia.
Manaus, Maio de 2011.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
www.rogeliocasado.blogspot.com
PICICA: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no Caderno Saúde & Bem Estar.
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