PICICA: A última vez que vi Carrano foi em dezembro de 2007, em Bauru. Festejava-se os 20 Anos da Luta Antimanicomial. Penso que ele foi ali para despedir-se dos seus companheiros de luta. Pouco tempo depois ele morreria. Deixou um exemplo de luta.
Entrevista com Austregésilo Carrano Bueno, integrante do Movimento da Luta Antimanicomial, que combate a discriminação e a exclusão social dos doentes mentais, pregando a extinção dos manicômios e a adoção de modelos mais humanos de tratamento psiquiátrico. O autor foi a primeira pessoa no Brasil a mover uma ação indenizatória por erros de diagnóstico, tratamentos torturantes e crimes contra médicos psiquiatras, em 13 de maio de 1998. Autor do Livro "CANTO DOS MALDITOS" que serviu de base para o filme "O Bicho de 7 Cabeças"
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Apresenta
Gato Seco Nos Telhados da Loucura & Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima
Convidam para a entrega do
III Prêmio CARRANO de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos
Imagem do Prêmio que traz um desenho feito por Carrano para a capa
da 1ª edição do livro "Canto dos Malditos", feita de forma artesanal:
datilografado, xerocado e com acabamento em espiral.
Dia 27 de maio completam-se três anos da morte de Austregésilo Carrano Bueno, dramaturgo, militante da luta antimanicomial e autor do livro Canto dos Malditos. Carrano se destacou como o principal militante pela Luta Antimanicomial em nosso país. Eleito em congresso na cidade de Xerém-RJ, atuou nos últimos anos como representante dos usuários na Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica do Ministério da Saúde, chegando a receber, em 2003, uma homenagem das mãos do presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, por seu empenho na Reforma Psiquiátrica. Além das torturas sofridas nos chiqueiros psiquiátricos, como dizia, Carrano sofreu vários processos judiciais por sua militância, principalmente por parte dos familiares dos médicos responsáveis pelos tratamentos recebidos nas passagens pelos locais onde foi internado, confinado e torturado, ele escreveu o seu drama no livro Canto dos Malditos, que originou o filme Bicho de sete cabeças, dirigido por Lais Bodanzky, o filme mais premiado do cinema brasileiro que, junto com o livro, revolucionou a história da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Carrano nunca desistiu de seus ideais e continuou militando até seus últimos dias no Movimento da Luta antimanicomial, mesmo com a saúde debilitada e condições financeiras precárias, em 18 de maio de 2008, participou do Dia Nacional de Luta Antimanicomial em Belo Horizonte, vindo há falecer dias depois.
Veja vídeos com depoimentos do Carrano: http://www.youtube.com/watch?v=bElqEmQhpBU
http://www.youtube.com/watch?v=22Ai29O1qIo&feature=related Neste vídeo Carrano faz a leitura de seu poema Sequelas... e... Sequelas de abertura do livro Canto dos Malditos, que originou o filme Bicho de sete cabeças
Veja um vídeo com o pronunciamento do Senador Eduardo Suplicy sobre o Prêmio em 2010:
O Prêmio - Para que a sua voz não se cale e seu nome continue vivo não só no Movimento de Luta Antimanicomial, como nos direitos da humanidade em geral, criamos em 2009, o Prêmio CARRANO de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos, que tem como o objetivo dar continuidade a sua luta por uma mudança nas condições de tratamento de pessoas em sofrimento mental, fazendo valer a Lei nº 10.216/2001 da reforma Psiquiátrica no Brasil, da qual foi um dos defensores e críticos. O prêmio é entregue anualmente a pessoas e instituições de ações e atitudes importantes nestas áreas, mas principalmente, denunciar quaisquer violações dos Direitos Humanos, especialmente no que se refere às pessoas nas condições de sofrimento mental. No lançamento do prêmio, premiamos Carlos Eduardo Ferreira, mas conhecido como Maicon, usuário e militante da Luta, que esteve em vários momentos ao lado de Carrano, que também foi entregue a família de Carrano.
A entrega do III Prêmio Carrano será na semana do dia nacional de Luta Antimanicomial, dia 21 de maio (próximo a data de nascimento de Carrano, 15 de maio de 1957) que conta com o apoio do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Movimento Nacional e Fórum Paulista de Luta Antimanicomial e militantes do movimento. Em 2009 criamos o coletivo Gato Seco Nos telhados da Loucura, que tem o papel da organização do Prêmio. O coletivo é formado por Edson Lima coordenador do projeto O Autor na Praça, Erton Moraes escritor, compositor e músico do Movimento TrokaosLixo, , Lobão, integrante do Movimento 1daSul e Sarau do Cooperifa agitador e grande amigo de Carrano, a escritora e produtora Paloma Kliss do Literatura Nômade, a psicóloga Patrícia Villas-Bôas, a poeta Tula Pilar, o músico e compositor Léo Dumont e outros amigos de Carrano. Trata-se de um grupo aberto que esta a disposição de pessoas e instituições que quiserem participar e colaborar com esta iniciativa. Além da entrega do prêmio haverá exibições de documentários, alguns depoimentos e leituras de texto sobre a Luta Antimanicomial e Direitos Humanos, no final do evento teremos uma apresentação musical com Erton Morais e integrantes da Banda Mokó de Sukata e do músico e compositor Léo Dumont. Estarão disponíveis os dois últimos livros lançados por Carrano em parceria com o selo editorial O Autor na Praça com textos de teatro: Canto dos Malditos e O Sapatão e a Travesti.
Para receber o prêmio este ano estão confirmados os nomes:
1. Allan da Rosa (Escritor, pedagogo e editor. Organiza cursos de arte-educação e cultura negra nas periferias de São Paulo).
2. Carlos Costa Carlão (ator de teatro, historiador do samba e do carnaval. É fundador e presidente da Banda Redonda).
3. Clara Charf (Companheira de Carlos Marighella, lutou ativamente contra a ditadura militar, é presidente da Associação Mulheres pela Paz).
4. Dom Paulo Evaristo Arns que será representado por Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo.
5. Paulo César Sampaio Psiquiatra, foi diretor do hospital de custódia de Franco da Rocha, durante 4 anos, onde desenvolveu o projeto Desinternação Progressiva. Organizou o projeto Alcoolistas autores de violências nas praças de Embu das Artes. Em 2010 Tratamento de usuários de múltiplas drogas dentro do Manicômio judiciário de Franco da Rocha. É ativista atuante em ações e atividades pela Luta Antimanicomial no Brasil.
6. Gegê (Luiz Gonzaga da Silva, integrante do Comitê Lutar não é crime e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto da cidade de São Paulo).
7. José Ibrahim (Líder Sindical, militante contra a Ditadura Militar, foi preso e exilado político. É um dos fundadores do Instituto Zequinha Barreto e militante constante dos Direitos Humanos).
8. Laís Bodanzky (Cineasta e diretora do filme Bicho de sete cabeças)
9. Maria Amélia Teles Amélinha (Militante feminista dos Direitos Humanos e integrante da Comissão de Familiares de mortos e desaparecidos políticos).
10. Raquel Trindade - Artista Plástica, pesquisadora da cultura Popular e fundadora do Teatro Popular Solano Trindade em Embu das Artes).
11. Sonia Rainho - Militante de movimentos sociais desde os anos 1970. É fundadora do Centro de Cooperação por moradia popular 1º Maio na cidade de Osasco e hoje é responsável pela Coordenadoria da mulher e promoção da igualdade Racial na prefeitura de Osasco.
12. - Tia Dag - Casa do Zezinho Dagmar Garroux, educadora, é criadora da Pedagogia do Arco Iris, uma pedagogia centrada em idéias de interesse social de pleno desenvolvimento humano para crianças e jovens da baixa renda, objetivando superar os obstáculos impostos pela miséria e pela brutalidade. Em 1994, à frente de um grupo de educadores identificados com as suas idéias, fundou a Casa do Zezinho em uma região de extrema violência na periferia da zona Sul de São Paulo. Desde a sua fundação a organização não parou de crescer e hoje abriga 1.800 Zezinhos com vários programas sociais que incluem as famílias dos jovens e crianças. Com uma crença inabalável numa educação de reciprocidade e de escuta, Tia Dag reúne milhares de histórias nos 16 anos de existência da CZ.
13. ZÁfrica Brasil representado por Gaspar (Grupo de Hip Hop da zona sul da cidade de São Paulo, com sua ideologia contribuem em causas sociais e de igualdade racial).
Serviço:
Entrega do III Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos
Data: dia 21 de maio de 2011, sábado, a partir das 19h.
Local: Auditório da Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima Pinheiros SP Tel. 3082 5023
Av. Henrique Schaumann, 777 (Esq. Rua Cardeal Arcoverde) - Pinheiros SP Tel. 3082 5023
Realização: coletivo Gato Seco Nos telhados da Loucura
Apoio: O Autor na Praça, Movimento Trokaoslixo, Fórum Paulista de Luta Antimanicomial, Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, CRP-SP, Grupo Tortura Nunca Mais, AEUSP Associação dos Educadores da USP, CRP-SP Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Max Design, Prefeitura do Município de São Paulo / Departamento de Bibliotecas, Artver e outras entidades e instituições ligadas ao tema.
Sequelas... e... Sequelas
Seqüelas não acabam com o tempo. Amenizam. Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho dó de mim. Nó na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro.
Ainda hoje, anos depois, a espera é por demais agonizante. Horas, minutos, segundos são eternidade martirizantes. Não começam hoje, adormeceram a muito tempo, a muito custo... comigo. Esta espera, Oh Deus! É como nunca pagar o pecado original. É Ser condenado a morte várias vezes.
Quem disse que só se morre uma vez?
Sentidos se misturam, batidas cardíacas invadem a audição. Aspirada a respiração não é... é introchada. Os nervos já não tremem... dão solavancos. A espera está acabando. Ouço barulho de rodinhas. A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da porta, rodam a fechadura. Já não sei quem e o que sou. Acuado, tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado... escuto parte de meu gemido.
Quem disse que só se morre uma vez?
(Austregésilo Carrano Bueno Poema das quatro horas de espera para ser eletrocutado aplicação da eletroconvulsoterapia). Veja um vídeo com o Carrano declamando o poema: http://www.youtube.com/watch?v=bElqEmQhpBU
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