junho 12, 2007

Aurélio Michiles faz a crítica de "O Triunfo da Vontade"

Foto: Rogelio Casado - Aurélio Michiles, o cineasta da selva - Manaus, maio/2007

O cineasta Aurélio Michiles manifesta-se a propósito da exibição do documentário "O Triunfo da Vontade" no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas. Leia sua crítica.

Caro Rogelio,

O Triunfo da Vontade (1935) de Leni Refenstahl, que assina a "concepção, direção e montagem", é considerado entre os maiores filmes já realizados, um dos grandiloqüentes, sob o viés da ficção, porque ele foi totalmente concebido e realizado na perspectiva da monumentalidade, quer dizer para criar o paradigma da propaganda nazista: a higienização, a estética com referências do passado para justificar as ações beligerantes que desembocaram nas ignomínias contra a humanidade e suas diversidades.

Leni, com certeza é genial, mas não podemos esquecer que ela foi a cineasta oficial do nazismo, aquela que concebeu junto a Goebbels o marketing deste regime totalitário e intolerante. Leni teve a sua disposição todo staff do partido-nazista, inclusive do seu líder, Adolf Hitler, que discursava e rediscursava seu discurso ao sabor da criação desta cineasta. Para realizar esta superprodução teve a disposição nada menos que todo o exército e os seus líderes, 30 câmeras, 16 cameramen, um elevador gigantesco que possibilitou tomadas a 38 metros de altura. Segundo o historiador George Sadoul, este filme põe em evidencia "por trás do decoro, a barbárie".

Eles perseguiram e assassinaram artistas, intelectuais dentro daquilo que eles denominaram: "arte degenerada";

Eles autorizaram por decreto a esterilização dos doentes mentais ou congênitos a fins de evitar hereditariedade;

Eles elevaram os médicos a categoria de "líder da política racial" - a medicina como justificativa para o seu projeto de limpeza racial, política e ideológica.

Leni em toda a sua vida (que não foi curta, viveu quase cem anos) nunca assumiu a sua estreita e íntima relação com o nazismo, apesar do seu nome aparecer com assiduidade no diário pessoal de Goebels.

Uma outra coisa, o filme mais censurado em toda a história chama-se:
"O Encouraçado Potemkin" (1925), de Serguei Eisenstein, que retrata a Revolução de 1905 na Rússia, o motim dos marinheiros em Odessa contra o autoritarismo do Czar.

Penso que é uma excelente oportunidade para se assistir e discutir o filme "O Triunfo da Vontade". Dever-se-ia também programar a exibição de dois filmes, após uma discussão, são eles:

1. Arquitetura da Destruição (1992) de Peter Cohen, maravilhoso e demolidor (ops!) documentário sobre o nazismo.

2. O grande ditador (Great dictator, The -1940 -), de Charles Chaplin. O primeiro filme sonoro deste genial comediante. Aliás, este filme foi proibido em muitos países, inclusive nos Estados Unidos aonde o filme foi banido e Charles Chaplin se viu obrigado a exilar-se, porque ele antevia o que viria a ser o regime nacional-socialista.

Um grande abraço,

Aurélio Michiles

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