agosto 01, 2008

Santos: Manifesto sobre a Saúde Mental

Santos - São Paulo
Manifesto: Saúde Mental de Santos

Em Santos as mudanças em Saúde Mental são constantes, o que não necessariamente vem sendo algo positivo atualmente...

A beira da comemoração dos vinte anos da intervenção na Casa de Anchieta, seu antigo prédio ainda está lá, atualmente ocupado por posseiros, aumentando a sombra da cidade e assombrando aqueles que por lá passaram.

Quase vinte anos depois, hoje há cinco NAPS ou "Napscômios" (núcleos de atenção psicossocial – 24hs), pois funcionam basicamente com a lógica manicomial... O conceito de desistitucionalização não está na mudança de local, mas na lógica do atendimento, em que prega ao meu entender a autonomia e independência do sujeito à Instituição. Um paciente sem renda fica dependente do serviço para alimentar-se, por exemplo, e ao contestar algo é "punido" pela equipe diminuindo sua hospitalidade e sem ter ou saber de outro lugar passa a não se alimentar; além de outros usuários que moram nos serviços; falta de projetos terapêuticos e oficinas terapêuticas; falta de manutenção da estrutura das unidades, faltas consecutivas de profissionais acobertadas pela chefia de unidade...

Contestar esta realidade lastimável ao conselho municipal de saúde é fazer parte de uma grande novela, pois há uma grande discussão que se iniciou a três gestões pela má e decadente fiscalização para "inglês ver". Assim contínuas gestões na administração do serviço público cometem sucessivos desrespeitos para com a população e para com os trabalhadores que sofrem freqüentes retaliações, as vozes vão pouco a pouco ficando mudas em um cenário de frustração coletiva e incapacidade.

Nesta contextualização fica claro o nível de retrocesso a uma cidade que já foi referência. E como atuar decentemente sem deixar-se ser engolido nesta maré? A formação, discussão e troca são inevitáveis entre os profissionais para que juntos busquem estratégias pessoais e coletivas de enfrentamento e fortalecimento. As quais em alguns NAPS as assembléias estão proibidas.

Há necessidade indiscutível de romper com autoridade nas relações de poder as tornando novamente terapêuticas, o que implica em assumir uma disposição pessoal na contratualidade no campo, bem como na gestão, e instâncias municipais e de controle social. Pequenas diferenças que se tornam grandes e valiosas na constante reforma psiquiátrica.

Como todas estas instâncias anteriores citadas não andam abertas à discussão faço este apelo ao Ministério para que assista a população santista pois os serviços substitutivos em saúde mental de Santos pedem socorro!!!!

Carla

Nota do blog:
Essa corajosa operadora da saúde mental enviou um e-mail com esse manifesto pessoal, em 29 de junho de 2008, para vários outros operadores do país inteiro. Quando a conheci em Belo Horizonte, no Encontro Nacional de Saúde Mental, promovido pelo Conselho Federal de Psicologia e Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, em julho de 2006, ela ainda estava em formação. Além da solidariedade, desejo que uma nova geração de operadores se articulem em Santos e façam história com as próprias mãos.
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