julho 04, 2009

A difícil arte da separação

Paulo José e Domingos Oliveira
Criatura e criador do clássico "Todas as Mulheres do Mundo"
Foto postada em
www.clicrbs.com
[ Amálgama ]

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Flip, Mesa 3: A difícil arte da separação (2 de julho)
Posted: 03 Jul 2009 03:03 PM PDT

por Vanessa Souza, em Paraty – O amor tira a liberdade, mas a separação é desagradabilíssima – afirmou Domingos de Oliveira, ator, dramaturgo e cineasta, na mesa literária intitulada Separações, debate dividido com o escritor e editor Rodrigo Lacerda [no início do post], no segundo dia da FLIP. O tema separação foi abordado trazendo como gancho o filme Separações, de Oliveira e o livro Outra Vida, de Lacerda.

Domingos disse ser especialista em separações, já que casou seis vezes. “Na primeira separação eu descobri a psicanálise e logo depois o álcool. Na segunda, tinha três namoradas e brochava com todas. Na última separação eu sofri muito, desagreguei e criei o filme Separações. Todo solteiro quer casar, e todo homem casado quer ficar solteiro”, divagou. Para ele, são muitas as indagações do amor. Por que o amor acaba? Por que dói tanto quando o amor acaba? Por que nos dilaceramos, o que é que dói? “É mais que uma angústia, é uma febre, a dor de amor. Dói por não ser mais o que era. E o que se perde quando se perde o amor? A perda do objeto sexual? Não, tem muita mulher por aí”, responde o que não tem resposta.

Para Domingos, não são razoáveis as explicações psicológicas, tal como a perda da fantasia como causa do sofrimento. O cineasta pondera que a grande dor é o horror da solidão, já que quando se perde a convivência com a pessoa amada, perde-se também um grande ouvinte. Outra indagação de Domingos foi se o amor é necessário. Ele conta que há várias fases em uma separação. A negação, a negociação, a revolta – “quero te matar sua filha da puta, essa puta tá dando para todo mundo” – a aceitação – “a gente arranja outra namorada ou a mulher volta” – e o estado final é o estado de graça.

Lacerda leu trecho de seu Outra Vida, justamente no momento em que os personagens, banais e cotidianos nas palavras dele, estão brigando em uma rodoviária, em um instante que vai decidir se eles vão ou não se separar. A escolha dos personagens banais, que não fazem parte do mundo literário e artístico – uma vendedora de loja e um funcionário público –, para Rodrigo, se deve ao fato de que passamos 99% de nossas vidas fazendo coisas banais. “Ou a gente (re)significa esses momentos, ou a vida fica insuportável. Se você não consegue (re)valorizar isso, fica sem escape”.

Domingos discorda. Para o cineasta não há banalidade no mundo, ela é aparente. A vida das pessoas é um turbilhão, a questão é ver mais de perto, ou mais de longe. Ele acredita que é preciso conhecer a arte para conhecer a vida. A função do artista é essa, explicar a vida de forma superior. “É tão belo que eu tenho que contar, é tão trágico que eu tenho que contar”, assinala.

Quando indagado sobre a identificação com os personagens, Rodrigo contou que seus leitores acham que toda sua obra é autobiográfica – “inclusive mulher prostituta, mãe viciada”. “Nesse livro eu quis escrever sobre pessoas diferentes de mim”. Ao final, Lacerda homenageou Domingos ao ler um trecho de um de seus filmes. “O homem lúcido sabe que ele é o equilibrista nas cordas da existência”. Domingos, com mãos trêmulas que bateram muitas vezes os óculos no microfone durante o evento, se emociona.

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