Marcha a Brasília

Nota do blog: Passo a palavra para o companheiro Francisco do Nascimento Couto que defende a Marcha a Brasília (usuários dos serviços de saúde mental petendem entregar ao presidente Luis Inácio Lula da Silva uma pauta de reivindicações) e rebate os que criticam a necessidade do ato.

Marcha dos Usuários à Brasília

Mostrar avanços e exemplos de experiências bem sucedidas na lógica substitutiva é bom, salutar e importante.

Mas se servir para mostrar como exemplo de um quadro nacional, irá "generalizar" uma miríade de serviços públicos de Saúde Mental que funcionam como mini- albergues. Em Londrina, em Recife ou em tantas e tantas cidadezinhas do Brasil inteiro onde o CAPS é um "postinho" controlado pelo "doutô" psiquiatra local, nesses lugares a rede substitutiva ainda tem muito para se firmar.

Assim, como as experiências exitosas (e por muitos exultadas... Será que existe Fla x Flu dentro da Reforma Psiquiátrica?) ainda se concentram majoritariamente no Centro-Sul, acho que a Reforma ainda tem muitas desigualdades regionais que devem questionadas numa Marcha em Brasília sim!

Qualquer brasileiro com transtornos mentais merece não ir parar numa Tamarineira da vida (ainda hoje a porta de entrada oficial da Rede de Saúde Mental em Pernambuco); isso pra mim é um princípio. Porém, enquanto discutimos e publicamos artigos, a galera manicomial fez audiência pública no Senado no dia 19 de Maio!

Estamos esperando o quê para pressionar o governo Lula a ter comprometimento com a Lei Paulo Delgado e com a orientação assistencial que ela aponta? Esperar revogarem-na? Ou esperar ter alguma voz política na instância certa que faça de Juqueri a porta de entrada da Rede de Saúde Mental no estado de SP?

É fácil criticar a necessidade de um ato como a Marcha para quem habita lugares acostumados com os privilégios econômicos e não enfrenta coronéis.

A Marcha é necessária nesse momento SIM! E acho que todos que dizem defender idéias antimanicomiais deveriam contribuir para uma articulação nacional em defesa e aprofundamento do comprometimento dos gestores com o modelo substitutivo!

[...] eu desde minha formação na Unesp/Assis- SP já sei que os riscos de se cair numa lógica política manicomial não são inerentes à geografia, e sim aos ethos... Em Assis/SP ou em Camaragibe/PE pode existir trabalhos de referência num mar de descaso com a prestação do bom atendimento ao usuário do SUS.

Mas, o que mais me indigna é a postura de alguns ditos intelectuais (influenciadores de diversas opiniões nestas searas) que , talvez por se sentirem meio como padrinhos do CAPS, fazem proliferar artigos que apesar da prolixidade por vezes são interessantes. Mas acreditar que a produção acadêmica irá mexer no imaginário dos congressistas, é ilusão. Assim, em tempos que as conquistas dos últimos 20 anos de Reforma Psiquiátrica vem sendo ameaçadas, é hora de papaguearmos menos e agir mais !

Eu suspeito o quanto deva ser importante para muita gente que depende de verbas de bolsas de pesquisa, editais etc. etc. ter cautela ao criticar o atual governo. Mas, até então não é meu caso, essas pessoas deveriam olhar menos pro peixe e mais para o devir histórico. A luta da Reforma Psiquiátrica está longe de acabar e se, como movimentos sociais organizados, não deixarmos que os setores ultra-conservadores brasileiros (que por vezes tem rostos de psiquiatras, mas não exclusivamente) ganhem mais força política e derrubem a lei Paulo Delgado, acho que toda luta terá sido em vão!

Modelo substitutivo só vale se substituir de vez! Não existe meia liberdade! E não pode haver nem liberdade e nem democracia enquanto não acabarmos com todas as formas de gritantes exclusões sociais, das quais a realidade manicomial é a figura mais tenebrosa!!

Vamos para Brasília dia 30 de Setembro para mostrar a força da nossa luta! Loucos por Justiça social! Manicômio deve ser extinto de vez e para sempre !!!!!!!

Francisco do Nascimento Couto - psicólogo na terra da Tamarineira

Nota do blog: Tamarineira é como é conhecido um dos manicômios de Recife-PE.