agosto 01, 2009

Campanha internacional de solidariedade a Honduras

Foto postada em neccint.wordpress.com

Notícias de Honduras

A situação em Hondura se complica pois continuam as manifestações e a repressão intensificou. Abaixo alguns informes e uma entrevista com Moniz Bandeira. E, para não ficar impotente diante da repressão aos movimentos de Honduras, apoie a proposta abaixo de enviar e-mails, fax e/ou telefonar para Costa Rica, denunciando a represssão. Faça este movimento. Ajude a abarrotar a caixa de e-mails e fax do "negociadores".

Repressão em Honduras contra a direção da resistência! Urgente campanha internacional de solidariedade

Por e-mail, companheiros de El Salvador avisam que as coisas se complicam em Honduras; as forças repressivas atingiram a cabeça do movimento popular hondureño. Nos informaram que durante a repressão a uma atividade foram assassinados dois companheiros. Bateram tão intensamente no dirigente Carlos H. Reyes que acabou sendo hospitalizado e foi preso Juan Barahona, coordenador do Bloque Popular de Resistência e membro da Frente Nacional de Resistência contra o golpe. Juan é membro da direção nacional da Tendência Revolucionaria.

A repressão contra a mobilização tem sido brutal. Disparam desde helicópteros a tanques de guerra. O ataque provocou dois mortos. A direção da resistência foi golpeada. Dos três dirigentes principais, Carlos Humberto Reyes - possível candidato dos movimentos sociais - está hospitalizado sob custódia policial. Juan Barahona é outro dos três dirigentes presos.

É importante uma rápida e efetiva de solidariedade, através do envio de urgentes telegramas e e-mails ao presidente da Costa Rica, Oscar Arias, denunciando esta agressão. É urgente começar para nossos parlamentares e figuras públicas, estendendo o apelo para todas as organizações políticas e sociais. E que esse resposta seja a mais rápido possível.

Telefone da Presidência de Costa Rica: (506) 2207-9100
Fax da Presidência da Costa Rica: (506) 2253-1485
Site da Presidência de Costa Rica para enviar mensagens:
http://www.casapres.go.cr/inicioContactenos.aspx


Nota do blog: O texto acima foi enviado por Pedro Fuentes, Secretário de Relações Internacionais do Partido Socialismo e Liberdade PSOL - Brasil

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O golpe em Honduras e os neoconservadores dos EUA

Os militares hondurenhos não dariam um golpe de Estado se não contassem com respaldo de alguns setores, nos Estados Unidos, que se opõem à política exterior do presidente Barack Obama, sobretudo com respeito à Venezuela, Cuba e à América Latina, e querem criar-lhe dificuldades. A análise é do cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, em entrevista ao jornal A Tarde. Para ele, é provável que setores da CIA e do Pentágono, que se alinham com os neo-conservadores, tenham dado o sinal verde para a derrubada do presidente Manuel Zelaya.Moniz BandeiraEntrevista publicada no jornal A Tarde, de Salvador.

A Tarde: Com relação à crise em Honduras, é possível que tenha havido alguma participação dos Estados Unidos?
Moniz Bandeira -
Eu não diria participação dos Estados Unidos, mas me parece certo que os militares hondurenhos não dariam um golpe de Estado se não contassem com respaldo de alguns setores, nos Estados Unidos, que se opõem à política exterior do presidente Barack Obama, sobretudo com respeito à Venezuela, Cuba e à América Latina, e querem criar-lhe dificuldades. Há fortes evidências neste sentido. Congressistas do Partido Republicano, como Mário Díaz-Balart, da representante da comunidade cubano-americana de Miami, e Mike Pence, também um conservador extremista, declararam que não houve golpe militar no sentido do termo e atacaram a posição do governo de Obama bem como a posição assumida pela OEA. O mesmo pronunciamento fez Roger Noriega, ex-secretário assistente o para o Hemisfério Ocidental, no governo do presidente George W. Bush, e o que mais impulsionou o agravamento das sanções contra Cuba, que Obama agora começa a reverter. Manifestou-se abertamente em favor do golpe militar, alegando que o presidente Manuel Zelaya agiu fora da lei e que os irresponsáveis diplomatas regionais, que haviam falhado de confrontar os caudilhos anti-democráticos caudillos na Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras, foram cúmplices nos seus abusos.Esses neocons (neo-conservadores) justificaram o golpe militar, dizendo que os hondurenhos, derrubando o governo do presidente Manuel Zelaya, atuaram para defender a democracia e preservar a lei. Mas não que o governo de Manuel Zelaya houvesse suprimido no país as liberdades civis e as instituições democráticas.

AT: Mais precisamente, quais os vínculos que os militares em Honduras têm com os Estados Unidos?
MB -
Provavelmente, setores da CIA e do Pentágono, que se alinham com os neo-conservadores e se opõem à política do presidente Barack Obama, deram ao Exército o sinal verde hondurenho para a derrubada do presidente Manuel Zelaya. Em Honduras, a presença militar dos Estados Unidos é marcante. Lá, na base aérea de Soto Cano (Palmerola), está sediada a Joint Task Force-Bravo, integrante do U.S. Southern Command (Southcom), com cerca de 350 a 500 soldados, do 612th Air Base Squadron e o 1st Battalion, 228th Aviation Regiment. Nessa base, nos anos 1970 e 1980, foram treinadas as tropas hondurenhas, integrantes do Batalhão 3-6, acusadas de inúmeros seqüestros, abusos e crimes contra os dissidentes hondurenhos. E, nos anos 1980, Honduras foi o santuário dos contra, dos guerrilheiros que combatiam o governo sandinista da Nicarágua, com recursos financeiros ilegais fornecidos pela administração do presidente Ronald Reagan. É lógico, portanto, concluir que os militares hondurenhos não se atreveriam a dar um golpe de Estado, em franco desafio à política exterior que o presidente Barack Obama pretende executar, sem contar com o respaldo de setores políticos do Partido Republicano, bem como do Pentágono e da CIA.

AT: O senhor disse em entrevista que Obama não teria condições de reverter a política externa de George W. Bush, que tais mudanças seriam apenas "cosméticas". Se a política externa que está sendo construída por Obama é tão cosmética, por que teria causado insatisfação destes setores internos do governo norte-americano, a ponto de fazê-los incitar um golpe em Honduras?
MB -
Eu disse que ele, fundamentalmente, não tem condições de reverter, porque um presidente, qualquer que seja sua tendência política, não pode fazer o que quer, o que deseja, devido às relações reais de poder nos Estados Unidos. O presidente, em qualquer país, sobretudo dentro de um regime democrático, faz apenas o que pode, dentro da correlação de forças existente na sociedade. Obama, por exemplo não pode cortar substancialmente as encomendas do Pentágono, a fim de reduzir o déficit fiscal dos Estados Unidos, que cresce de ano a ano. Se tentasse fazê-lo, diversas indústrias de material bélico logo quebrariam, aumentando o desemprego e arruinando os Estados onde estão instaladas. Nos anos 1980, o Estado da Califórnia dependia mais do que qualquer outro das despesas militares, a maior parte com programas nucleares, tais como a fabricação dos bombardeios B-1 e B-2, o Tridente I e o Tridente II, os mísseis MX, a Strategic Defense Initiative (guerra nas estrelas), e vários outros programas, tais como o MILSTAR. As empresas contratadas recebiam 20% do orçamento do Departamento de Defesa. As pessoas e as organizações na Califórnia e em outros Estados naturalmente que se opunham à redução das encomendas de material bélico.

AT: Zelaya, Chávez e Evo Morales se sustentam num discurso de representação dos pobres. Esse neo-populismo de esquerda seria a única resposta possível aos regimes de direita, militares e conservadores que eram apoiados pelos Estados Unidos entre os anos 60 e 80 na região? A política de Chávez, que apontou o governo Micheletti de "ditadura", não seria também opressora para com os opositores do governo venezuelano?
MB -
Não vou entrar no caso de Honduras, porque a situação, na América Central, não é igual à da América Sul. Do ponto de vista geopolítico, os países da América Central, como Honduras, gravitam mais na órbita dos Estados Unidos. Porém, o que sei é que Hugo Chávez e Evo Morales foram eleitos democraticamente e seus governo exprimem um tipo de revoltas das camadas mais exploradas e oprimidas, tanto na Venezuela como na Bolívia. E falar de neo-populismo de esquerda” nada explica, porque, antes de tudo, é necessário explicar porque neo, porque populismo, porque de esquerda. O populismo é um fenômeno bastante complexo, que apresenta, em cada país, especificidades, e esse conceito perde, na generalização, o rigor científico e, em conseqüência, a utilidade teórica e prática. De modo geral, é um contrabando ideológico que os conservadores aplicam a todos os governos que tratam de atender às reivindicações populares, contrariando os interesses das elites, das classes dirigentes. E quanto ao governo do presidente Chávez, embora não se possa estar de acordo ou aprovar todas as suas iniciativas, todas as suas atitudes, não se pode dizer que sua política é opressora” dos que se opõem ao seu governo. Que eu saiba, lá não há presos políticos e a imprensa não está sob censura. Mas é bom lembrar que os Estados Unidos, em abril de 2002, apoiaram abertamente um golpe militar-empresarial para derrubá-lo e, através da National Endowment for Democracy (NED), com fundos do Congresso, sempre financiaram, na América Latina, sobretudo na Venezuela e em Cuba, as correntes de oposição, que dizem defender a democracia.

AT - Neste novo contexto latino-americano, há definições possíveis e claras para democracia e ditadura? Quais os exemplos?
MB -
Não vou entrar em discussões teóricas, conceituais, sobre o que é democracia e o que é ditadura, numa simples entrevista, sobre um caso concreto, como o golpe militar em Honduras.

AT - A Igreja Católica em Honduras foi a única instituição a defender o novo governo de Micheletti, alegando evitar a infiltração de um modelo chavista. Como avalia esta posição?
MB -
A Igreja Católica tende, em geral, para o conservadorismo. No Brasil, apoiou o golpe militar de 1964, mas depois grande parte do clero inflectiu para a oposição à ditadura.

AT - Até agora o governo brasileiro tem se mantido afastado da crise em Honduras? A que o senhor atribui essa posição do governo brasileiro?
MB -
O Brasil tem como princípio de política exterior não intervir nos negócios internos de outros países. Porém, demonstrando de forma inequívoca que não reconhece o governo emanado do golpe de Estado, retirou seu em embaixador de Tegucigalpa.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16099

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Em entrevista, Manuel Zelaya afirma que hondurenhos têm direito a pegar em armas

por Michelle Amaral da Silva

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, advertiu que se as armas voltaram às mãos da direita para derrocar presidentes reformistas, então os povos também têm direito de voltar a buscar soluções nesse caminho”

29/07/2009

Claudia Jardim - Enviada a Las Manos (Honduras) Cercado por guarda-costas, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, cumprimentava com euforia um grupo de hondurenhos que cruzaram a fronteira com a Nicarágua, local em que ele havia convocado seus simpatizantes para, juntos, reingressarem ao país depois de 26 dias de exílio.

A entrada triunfal programada por Zelaya foi minguada pelo governo golpista de Roberto Micheletti, que decretou estado de sítio nos estados cuja rodovia leva à fronteira, em uma tentativa de impedir a mobilização convocada pela Frente de Resistência ao Golpe.

Empenhados em receber o presidente deposto, porém, centenas de hondurenhos se aventuraram pelas montanhas do país para driblar a repressão do Exército. Entre abraços e gritos de urge Mel! (algo como apareça, Mel!, apelido pelo qual é conhecido), a segurança do mandatário advertia sobre a presença de franco atiradores em uma colina.

Sem a multidão esperada, Zelaya não cruzou a fronteira. Se o fizesse, seria preso, advertiu um coronel do Exército hondurenho encarregado da vigilância da aduana. O presidente deposto aguardava a resposta de uma "negociação" para que o Exército permitisse sua entrada. Não houve acordo.

Sentado em um jeep rodeado por simpatizantes, Manuel Zelaya conversou brevemente com o Brasil de Fato. Visivelmente cansado e aparentemente sem estratégia real para garantir seu retorno à presidência, ele advertiu que se as armas voltaram às mãos da direita para derrocar presidentes reformistas, então os povos também tem direito de voltar a buscar soluções nesse caminho”.

Brasil de Fato - O governo dos EUA criticou sua decisão de tentar voltar ao país sem um prévio acordo com o governo golpista. Qual sua opinião?
Manuel Zelaya
- Dei todas as tréguas. Fui extremamente tolerante, esperei e apoiei todas as decisões tomadas pela comunidade internacional. Aceitei o que disse a Secretária de Estado [estadunidense, Hillary] Clinton. No entanto, os golpistas continuam reprimindo o povo, violando os direitos humanos da população, apropriando-se de recursos que não lhes pertencem, usurpando a soberania popular, traindo os poderes do Estado. Me tiraram de casa em uma madrugada a balaços, amarrado. Nunca me acusaram formalmente em uma demanda judicial, nunca fizeram acusação anterior. Agora inventaram acusações contra mim, minha família e meus ministros. Os militares falam de democracias, mas quando alguém emite uma posição contrária, é declarado comunista, perseguem e dão um golpe de Estado. A elite hondurenha é extremamente conservadora.

O senhor não pôde entrar em Honduras como previsto. O que pretende fazer?
Mantenho o chamado ao povo hondurenho para que venham à fronteira. [O Exército impede que os manifestantes cheguem à zona fronteiriça]. São só 12 quilômetros entre El Paraíso [último ponto de bloqueio do Exército] e Las Manos. As pessoas podem vir caminhando, a polícia não vai deter. E também há outras possibilidades. Tenho dois helicópteros e posso aterrizar em qualquer lado.

Quais foram os fatores determinantes que desencadearam o golpe de Estado?
Honduras é a terceira economia mais pobre na América Latina. De cada dez hondurenhos, oito vivem na pobreza e três vivem em pobreza extrema. Acredito que uma sociedade que vive assim há pelo menos um século deve ser analisada para a promoção de mudanças. E essas mudanças estão relacionadas com a forma de estabelecer o sistema de governo. É evidente que as elites econômicas, que são privilegiadas por essa situação, pelo status quo, não querem essas mudanças. Então, a única maneira de promover mudanças em Honduras é ampliar os espaços de participação cidadã, os processos de participação social. Apontei isso e os oligarcas me declararam inimigo da pátria; e começaram a conspirar contra mim.

Aumentei o salário dos trabalhadores, tentei incorporar a reforma agrária, abri as portas ao socialismo do Sul e isso foi considerado um delito. Tudo isso contribuiu para que a oligarquia econômica apoiada pelos velhos falcões de Washington, como Otto Reich e Robert Carmona, e alguns congressistas estadunidenses começassem a conspiração que resultou no golpe. Mas se equivocaram. Pensaram que seria fácil como no século 20, quando em 48 horas os golpistas conseguiam dominar o povo. O povo agora já leva 28 dias nas ruas, reclamando, dizendo que não aceitam esse golpe. A comunidade internacional também mudou. Já não aceitam golpes de Estado, porque realmente são ilegítimos, são um retrocesso, é a volta da força sobre a razão. É a volta da violência sobre as urnas. Isso provocou o golpe. O temor às mudanças, temor ao que o povo se organize.

A imprensa hondurenha o compara com o presidente Hugo Chávez. Como o senhor define seu governo?
De centro-esquerda. De centro porque apoiamos o liberalismo econômico e de esquerda porque apoiamos processos sociais, socialistas. Busquei um meio termo. Mesmo assim me declararam inimigo das elites econômicas, precisamente porque aumentei o salário mínimo dos trabalhadores. Me parece injusto que me deem um golpe de Estado porque estava fazendo uma consulta pública para ver qual era a tendência do povo em relação aos processos de participação cidadã. É ridículo o que aconteceu, o mundo está rindo dos golpistas, ninguém reconhece suas ações.

Muitos consideram que os EUA adotaram uma postura dúbia nesta crise. Condenou o golpe, porém não aplicou sanções econômicas ao governo de fato de Roberto Micheletti. Qual sua avaliação?
O governo de Barack Obama tem sido congruente com uma diplomacia multilateral e deu demonstrações de querer resolver o problema. Mas não ocorre a mesma coisa em outros grupos de poder dos EUA. Eles sim estão apoiando o golpe, a velha guarda dos conservadores está apoiando o golpe. Obama não. A secretária de Estado Hillary Clinton foi clara. Mas nos EUA há muitos interesses políticos e econômicos e há muita gente sectária, que querem impor sua ideologia.

O senhor busca retomar o poder, porém, até agora, Micheletti tem reiterado que não acatará a determinação da Organização de Estados Americanos (OEA) de restituí-lo ao cargo. O que pode significar esse precedente para a América Central?
Este golpe mata a força da soberania popular. Isso abre um precedente no sentido de que se as armas voltaram às mãos da direita para derrocar presidentes reformistas, então os povos também têm direito de voltar a buscar soluções nesse caminho, coisa que não desejamos. Primeiro, dizem à população que há que votar e que a democracia é seu direito, e agora as armas voltam a atacar a democracia. Isso não se pode permitir. Há que lutar contra isso.

Com as Forças Armadas, Congresso e empresários sustentando o golpe, o que o senhor pretende fazer para recuperar o poder?
Me manter firme.

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HONDURAS - A árvore e a floresta da crise -

Fernando Massote em 28/7/2009

Um jornal mineiro, o mais tradicional da espécie, joga como bola da vez da sua pauta sempre enfadonhamente conservadora uma campanha a favor dos golpistas de Honduras.

No domingo (26/7), o diário publica dois textos nesse sentido. Um na página de Opinião e outro na de assuntos internacionais. O primeiro é de autoria de um de seus articulistas mais antigos, advogado afeito às nomenclaturas, exibindo, com destaque, como qualificação de seu nome, uma lista de títulos profissionais e de representação classista. O parafraseado, afetadamente autoconfiante, enfatiza o tom de quem quer desencorajar e intimidar, desde logo, qualquer atitude crítica a seu respeito ou de suas posições, considerando-as irrazoáveis. O estilo é, assim, psicologicamente, o do enfant terrible que cresceu habituado às loas de rebento prodígio da classe média. O taticismo verbal ou literário que imprime ao texto indica que qualquer discordância das suas posições é coisa considerada antecipadamente ridícula.

Quem lê com serenidade crítica o insígne articulista se dá conta, facilmente, que o que mais falta ali é objetividade e o que mais abunda é a raiva afetada dos críticos dostatus quo e a incapacidade de se distanciar cientificamente dele.

Não conheço a história de Honduras o suficiente para explicar pontualmente a reviravolta que está se dando naquele país. Mas que reviravolta hay, la hay! Um presidente saído das coortes dominantes, eleito com apoio delas, se rebelou da maneira mais ardita, consciente, ao mesmo tempo que explosiva, mas irrepreensivelmente "inocente" do ponto de vista legal, propondo um referendo para convocar uma Assembléia Nacional Constituinte para mudar a Constituição do país no sentido de permitir a reeleição do primeiro mandatário. Há algum mal nisto, ou seja, em perguntar ao povo o que pensa de um assunto, mesmo que ele esteja protegido por uma "cláusula pétrea" constitucional no interesse das mais petrificadas oligarquias dominantes?

Propor um referendo que autorize a instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte é uma ofensa à legalidade, permitindo a prisão do presidente da "república", o seu seqüestro no palácio do governo e sua expulsão do país? Estes fatos não bastam para confirmar que o país onde eles se deram é, com efeito, uma republiqueta de banana?

Malha de interesses

A questão colocada pela crise hondurenha é muito maior do que a de saber se o presidente errou ou não, foi legal ou ilegal, merecia ser preso e expulso do país. A questão é saber, primeiro, por que um presidente saído das oligarquias propôs uma reviravolta constitucional e depois por que, diante disto, as hostes civis e militares da elite bananeira de Honduras decidiram prendê-lo e expulsá-lo do país. E, ainda, decidir se é ou não sintomático que o governo de Barack Obama, assentado sobre tantas promessas de abertura ou de flexibilização da dureza imperialista de Bush e seus antecessores, se conduz de forma tão fraca no episódio envolvendo atitudes tão consensualmente golpistas?

Há uma contradição entre o presidente norte-americano e sua secretária para assuntos de política externa, Hillary Clinton, que repreendeu Zelaya porque, com o apoio de meio mundo, está tentando voltar para casa, ou não há contradição alguma mas uma parceria para ela falar em nome dele, traindo as suas promessas?

Toda esta fraqueza, ambigüidade e contradições com as promessas de respeito pela democracia não serão porque o presidente dos EUA está preso na malha dos interesses dos seus aliados tradicionais em Honduras, em outros países da América Central e dos clientes norte-americanos daquelas mesmas elites bananeiras? Esta mesma trama não o envolve ou o envolverá também em outras situações do tabuleiro internacional?

Ímpetos bachalerescos

O que está acontecendo na América Central é, generalizadamente, enfim, uma crise que serpenteia no mundo inteiro, envolvendo os países mais "coloniais-colonizados", configurados num planetário "elo mais fraco" da cadeia de controle exercido pelo imperialismo, em busca de um establishment social e político mais adequado para gerir a realidade ou equilíbrio sociopolítico interno e regional.

Esta crise, mudando as relações de poder, mexe naturalmente com as hegemonias locais e internacionais. Há, nesse sentido, uma indefectível relação entre os fatos que se dão no Oriente Médio envolvendo Irã, Iraque, Afeganistão, Palestina e Israel, Paquistão e Índia; na Ásia envolvendo também a Coréia do Norte e do Sul; na América Latina, os países social e politicamente mais fracos, como Paraguai, Bolívia, Equador e agora os da América Central, Nicarágua e Honduras que se reorganizam com o apoio da Venezuela, escudada na fartura petrolífera e no protagonismo de Hugo Chávez.

Os arautos golpistas do jornal mineiro só enxergam a árvore e não veem, por incapacidade política e mesmo intelectual, a floresta. A crise hondurenha e o caso Zelaya são apenas um grão de areia neste vasto panorama mundial da crise atual. E que não se venha tentar desmerecer, com ímpetos bachalerescos e no interesse consciente ou não do golpismo esta visão mais ampla. Só ela permite uma abordagem não só mais crítica, mas também mais responsável ou, se quisermos, isenta, ou ainda melhor, objetiva, para tratar toda a crise planetária e/ou qualquer um dos seus capítulos.

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Militares podem se rebelar contra golpe, diz Zelaya - 31/7/2009

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24395


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou na Nicarágua, onde se encontra exilado, que militares descontentes com o golpe de Estado no país podem se rebelar a qualquer momento contra o governo interino e forçar sua restituição no poder.

A notícia é do jornal O Globo, 31-07-2009.

Segundo Zelaya, alguns soldados e oficiais estão insatisfeitos com a liderança do general Romeo Vasquez.—

Não tenha dúvida de que, a qualquer momento, jovens militares afetados pelo golpe vão amarrar Romeo Vasquez Velasquez e forçá-lo a restaurar a ordem constitucional disse a jornalistas.

Ontem, o presidente interino Roberto Micheletti e membros de seu governo, fortemente pressionados pela comunidade internacional para recolocarem Zelaya na Presidência, emitiram sinais contraditórios sobre o possível retorno, numa aparente estratégia para ganhar tempo. Uma fonte ligada a Micheletti disse que ele pode estar aberto ao retorno de Zelaya, mas o braço direito do presidente interino, o ministro Rafael Pineda, voltou a descartar essa possibilidade.

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Observador brasileiro relata repressão à marcha pró-Zelaya - 31/7/2009 -

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24396


Apoiadores do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e forças de segurança do país voltaram a se enfrentar ontem durante um bloqueio a uma rodovia realizado por manifestantes no norte de Tegucigalpa. A repressão violenta foi presenciada pelo brasileiro João Batista Gomes, representante da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em uma missão internacional de direitos humanos.A entrevista é do jornal Folha de S. Paulo, 31-07-2009.

Eis a entrevista.

Como foi a repressão aos manifestantes?
Cheguei ao local do bloqueio quando a polícia e o Exército dispersava todo mundo. No caminho, pelas montanhas, já fui encontrando pessoas chorando, com o braço quebrado, com muitas marcas de agressão. Ao chegar, vi muitas frentes de conflito. O Exército atirava com balas de borracha de um helicóptero, e a polícia usava gás lacrimogêneo e batia com cassetetes. A informação que temos é que há muitos presos e duas pessoas baleadas entre a vida e a morte.

Foi o dia mais violento que você presenciou?
Estou aqui desde terça-feira e havia participado da marcha ontem [quarta], mas não houve violência. Acho que hoje [ontem] foi mais forte por causa da paralisação nacional, do setor de saúde e educação, e porque mobilizou mais gente, aí veio a repressão.

O que você está fazendo em Honduras?
Represento a CUT em uma missão internacional de direitos humanos, que foi montada por ONGs e entidades sindicais para observar o que acontece no país. Há outros seis integrantes, de países latino-americanos e europeus.

Como é o trabalho da comissão?
Estamos conversando com as pessoas da Frente de Resistência ao Golpe, com movimentos sindicais e participando das atividades, como as marchas. Também nos reunimos com deputados da oposição, que condenam o golpe. UE adotará mais sanções contra Honduras.

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Bloco europeu deve proibir hoje a entrada de golpistas em seu território - 31/7/2009 -

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24397

A União Europeia deve proibir o ingresso de membros do governo de facto de Honduras em seu território. Segundo informou ontem o chanceler da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, a decisão deve ser tomada pelo Conselho Político Europeu, que se reúne hoje em Bruxelas. Ela segue a mesma linha da medida adotada pelos EUA, que suspenderam na terça-feira os vistos de quatro representantes do governo do presidente de facto, Roberto Micheletti, para pressionar pelo retorno do presidente deposto, Manuel Zelaya.

A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 31-07-2009.

Em reunião em Brasília com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, Moratinos defendeu a ideia do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de convocar o Grupo do Rio para aumentar a pressão sobre os golpistas em Honduras. Criado em 1986, o Grupo do Rio agrega 20 países latino-americanos e caribenhos e atuou na solução de vários conflitos na região, como a guerra entre Peru e Equador, em 1995.

Apesar da falta de resultados do diálogo mediado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, e das resoluções da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chanceler espanhol considera positivo o fato de a comunidade internacional ter mantido seu repúdio ao golpe em Honduras, exigindo o retorno de Zelaya à presidência sem aceitar condições do governo de facto. "Nunca vi um golpe de Estado ter recebido uma reação tão unânime", afirmou. "A comunidade internacional tem de continuar unida."

Ainda ontem, uma fonte ligada a Micheletti disse que o presidente de facto estaria disposto a discutir a volta de Zelaya, mas uma série de condições teriam de ser cumpridas para persuadir empresários e outros setores sociais a aceitar uma proposta nesse sentido. Micheletti pediu ontem o envio a Honduras de uma comissão mediadora para retomar as negociações.

Segundo a imprensa nicaraguense, Zelaya se reuniu, em Manágua, com emissários dos EUA, entre eles Hugo Llorens, embaixador americano em Tegucigalpa. Micheletti qualificou a reunião de "intromissão". Zelaya disse que denunciará os golpistas no Tribunal Penal Internacional por crimes de lesa humanidade.

O Congresso de Honduras adiou para segunda-feira sua resposta sobre a proposta de acordo de Arias, que inclui uma anistia política, a volta de Zelaya ao poder, a formação de um governo de conciliação e a antecipação em um mês das eleições gerais de novembro.

Segundo o presidente do Congresso, Alfredo Saavedra, a decisão foi adiada para que seja realizada uma rodada de consultas com instituições e setores da sociedade civil hondurenha.

Pelo menos 6 pessoas ficaram feridas e 88 foram detidas ontem quando a polícia dispersou seguidores de Zelaya que bloqueavam uma estrada perto de Tegucigalpa. Um dos feridos levou um tiro na cabeça.

Como se Honduras não estivesse mergulhada em uma de suas piores crises políticas, após o golpe de Estado de junho, os dois principais candidatos presidenciais preparam a todo vapor suas campanhas para as eleições de novembro, cuja validade está em dúvida.

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