agosto 01, 2009

Loucura em família

Casos & Causos Acontecidos no Tempo das Diligências - Oswaldo di Loreto, 04/05/2009

Loucura em família

Psiquiatra faz conferência e lançamento de livro sobre o universo das doenças mentais

Por que as pessoas enlouquecem? "A origem da maioria das doenças mentais está na família, em relações humanas desfavoráveis que contêm fatores negativos à mente. Como pai e mãe que sobrecarregam a criança com um ambiente cheio de ódio e desprezo, em que o filho é utilizado como pombo correio na luta entre dois adultos", é a resposta do psiquiatra paulista Oswaldo di Loreto, especialista e terapeuta de criança e família, fundador e supervisor da Associação Criança (Enface) e supervisor do Projeto Pixote. Ele falou ao POPULAR, por telefone de sua residência em São Paulo.

Oswaldo desembarca hoje, em Goiânia, para conferência e lançamento do seu terceiro livro: Casos & Causos Acontecidos no Tempo das Diligências (Editora All Books, 288 páginas, 20 reais). O evento será realizado das 8 às 12 horas, no auditório da UCG, Área II. Aos 80 anos, Oswaldo aceitou convite da Capsi Água Viva, um serviço de Saúde Mental Infanto-Juvenil, órgão ligado à Secretaria de Saúde do Município, para ministrar a palestra A Família da Gente.

O psiquiatra traz no currículo o registro de atendimento a 15 mil pacientes psiquiátricos em 54 anos de profissão. Ele já atuou em instituições como Hospital Psiquiátrico Juqueri e Hospital das Clínicas, em São Paulo. Atualmente, Oswaldo se dedica a promover cursos voltados para a família. "É neste núcleo, principalmente na infância, a partir de relações inconvenientes, desajustadas e tóxicas, que vão surgir vários tipos de delinquências mentais", atesta o psiquiatra.

Na sua opinião é "visível" o fenômeno do abandono emocional da criança, em lares em que pai e mãe saem cedo e só retornam à noite, delegando a educação do filho a terceiros como funcionários e a escola. Tal situação, destaca ele, cada vez mais trará adultos com doenças mentais diversas. "Essa criança tem pais? A família como um núcleo estável, amoroso, afetivo, está estourando", diz.

Questões de família

Oswaldo não enxerga mudanças à vista na sociedade brasileira que diminuam as diferentes formas e as manifestações de perturbações mentais. "Vivemos um momento difícil. Os jovens estão ficando com uma personalidade mal formada. Não querem saber de limitações de ordem social. Não têm referências de conceitos que se apreende nos primeiros anos de vida, como o ato de respeitar a propriedade alheia. Temos a formação de um indivíduo antissocial. Hoje a loucura está diferente da manifestação da psicose. Está aparecendo sob a forma agressiva daqueles que transgridem a unidade social. A fabricação da loucura está sendo em escala industrial. Louco não é só quem se acha Jesus Cristo", afirma.

Que tipos de soluções estão disponíveis para minimizar o surgimento das doenças mentais? "Não sei. O estilo de vida atual leva o indivíduo a dar mais valor ao êxito pessoal. Entre ficar em casa e cuidar dos filhos e sair para buscar a realização profissional a escolha de 99% é sair. A mulher está sobrecarregada no sistema. Do pai se escuta a boa desculpa de que precisa trabalhar, como se tal ação justificasse o abandono do filho. Já é rara a figura do pai que rola no tapete com o filho, que faz quebra-cabeças. O homem desertou das suas obrigações com a família."

No livro Casos & Causos o autor retrata 20 contos que são baseados em casos verídicos, ocorridos no consultório. "São as melhores, retirei o entulho. É um livro de histórias que tive a oportunidade de acompanhar. É um passeio curioso pelo universo das doenças mentais. Não é um trabalho científico", explica. Ele destaca que há casos delirantes, burlescos, pitorescos, mas que funcionam como elemento de reflexão. Um tema que continua carregado de estereótipos e preconceitos no Brasil.

Oswaldo diz que deu sorte de ter nascido e sido criado numa família organizada, pacífica, em que a autoridade era demonstrada de forma justa. "Tive um poço fundo de afetividade. Uma realidade bem diferente da que observo na atual estrutura da família brasileira. É preciso resgatar o núcleo estável e amoroso, que permite à mente humana se desenvolver de forma mais sã".

Nota do blog: A dica do texto acima, sobre os causos do grande di Loretto - o último da geração dos psiquiatras humanistas -, é de Márcia Pomper.
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