dezembro 02, 2009

Asfalto na floresta: as 'minas de ouro' dos cientistas


Nota do blog: De hoje até sábado, este blog estará dando munição para os deslumbrados com o recapeamento asfáltico da BR-319. Eméritos pesquisadores e professores da universidade participaram de debates públicos, anunciaram os impactos a ser provocados por essa obsessão em asfaltar florestas, mas nada sensibilizou as classes médias iletradas. Os argumentos científicos entraram por um ouvido e sairam por outro. Milton Santos - um dos nossos mais importantes geógrafos brasileiros - antes de morrer nos alertava: a universidade é o lugar dos intelectuais, onde o sujeito se dedica o tempo todo à busca da verdade; o espaço universitário é o lugar do livre pensar, de criar idéias e discuti-las. Quem se importa? Basta verificar o que já nos advertia o sábio brasileiro. Para ele, nesta fase da globalização, o trabalho de análise e crítica é mais difícil porque os projetos hegemônicos são precedidos de um forte discurso ideológico. Nesse contexto, a universidade está fragilizada, e ainda tem gente que faz questão de não querer ouvi-la. Quem lê a coluna do meu prezado Belmirinho Vianez sabe do que estou falando. Ele vai ficar tiririca com esse comentário, mas vai deitar e rolar ao saber que as matérias aqui postadas tem como fonte a BBC, de Londres. Taí mais um argumento para sua pena ágil: interesses externos se imiscuindo nas coisas do Brasil. Argumentos ideológicos continuarão se contrapondo às evidências científicas. Lulinha, aliás, no discurso de inauguração do gasoduto Coari-Manaus lembrou do desastre chamado Balbina, uma hidrelétrica que, além de ter colaborado para aumentar o efeito estufa, não gera mais do que 270 megawatts de energia, ao custo de um tremendo impacto ambiental. Mario Adolfo que o diga.

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Asfalto na floresta: as 'minas de ouro' dos cientistas

Eric Camara
Enviado especial ao Parque Nacional do Mapinguari (AM)

Para quem não conhece, os arbustos e árvores baixas podem até dar a impressão de que a área foi desmatada recentemente, mas o chamado cerrado amazônico é tudo menos isso.

São campos considerados minas de ouro para cientistas – viveiros da biodiversidade amazônica.

Foi em uma dessas regiões de cerrado amazônico que uma nova espécie de gralha foi registrada pela primeira vez pelo pesquisador Mario Cohn-Haft, há menos de um ano.

Ao longo da BR-319, há diversos campos como estes, que podem ser vistos em imagens de satélites.

Eles aparecem como manchas amarelas que – para os leigos, é bom repetir – podem parecer focos de desmatamento. A diferença é que esses tais “focos” ao longo da BR-319 ficam em locais bastante inacessíveis.

Só se chega até eles com um mateiro e várias horas abrindo trilhas floresta adentro.

Por isso é que decidimos pegar um atalho: fomos até o recém-criado Parque Nacional do Mapinguari.

Lá vimos cotias, araras, muitas andorinhas, papagaios e até rastros de anta, o maior mamífero da América do Sul.

Da “nova” gralha, nada. Mas tudo bem, tivemos uma bela impressão do que os inimigos da reabertura da BR-319 dizem estar sob risco de sobrevivência, caso ela realmente seja inteiramente recuperada.

A partir desta segunda-feira, vamos começar a encontrar as pessoas que vivem às margens da rodovia, muitas vezes em condições de pobreza com enormes dificuldades de acesso a serviços básicos, como saúde e educação.

Não vou ficar surpreso, se descobrir que para essas populações, a importância da incrível biodiversidade amazônica fique em segundo plano, diante da necessidade de, por exemplo, chegar rapidamente a um hospital.

Fonte: BBC

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