dezembro 05, 2009

Asfalto na Floresta: BBC Brasil percorre a BR-319 na Amazônia



Nota do blog: A proposta de criar áreas de conservação para proteger a BR-319 (Manaus-Porto Velho) é uma daquelas boas intenções que nos levará para o inferno. Dependendo de quem governará o Amazonas no futuro próximo, não tem lei que impeça o desastre da ocupação de terras pelos grileiros de sempre. É só neglicenciar a fiscalização. Sabecumuequié! Uma hora falta recurso financeiro; outra hora são os impostos que tiveram circulação reduzida. Argumentos para justificar a omissão não faltarão. O povo amazonense está escaldado por maus exemplos. Basta lembrar que foi só o prefeito Alfredo Nascimento (atual ministro dos Transportes) deixar de fazer o sucessor para o seu projeto Expresso ser abandonado pelo candidato vitorioso. Curiosamente é no corredor aberto pelo projeto que naufragou que será erguido o monotrilho de Manaus, cujo erro de traçado já foi comentado aqui neste blog. Cada governo se acha no direito de criar seus projetos, sem consultas à sociedade civil organizada. Muitos desses projetos são realizados à revelia da crítica. Veja o caso das hidrelétricas do Madeira. Chovem críticas, mas o governo federal não as ouve. E olha que o presidente Lula recentemente criticou a construção da hidrelétrica de Balbina, que entre outras coisas contribuiu para aumentar o efeito estufa sob o globo terrestre. Mas, é o tal negócio: "em casa de ferreiro, espeto de pau". A gente só está no mato-sem-cachorro porque os mecanismos institucionais de discussão de projetos hegemônicos ficou perigosamente reduzido nas mãos de "especialistas". Neste ovo-de-serpente está o futuro do problemas socioambientais do estado do Amazonas. Quem viver, verá!

Asfalto na Floresta: BBC Brasil percorre a BR-319 na Amazônia

Poucos quilômetros antes da parte mais deserta da BR-319 existe um posto de gasolina. Abandonado há cerca de vinte anos, ele mais parece um cenário de cidade fantasma com suas: bombas caídas e mato crescido.

Pela estrutura, entretanto, percebe-se que o movimento já deve ter sido bom: cabanas iglu para viajantes, um amplo restaurante servia comida amazonense e o espaço entre as bombas e a rua dá a impressão de que lá já houve um estacionamento.

Hoje, quase tudo está tomado por mato rasteiro, e alguém – talvez o dono protegendo o seu patrimônio? – ateou fogo nos arbustos.

Na década de 80, foram-se os carros, e a reboque foi-se o dinheiro.

Esperança

Desde então, para quem vive perto da estrada, a promessa de reabertura da BR-319 faz parte da rotina.

Marli Schroeder, uma catarinense que se mudou para o Amazonas há 19 anos, quando a rodovia já tinha sido fechada, admite que a esperança é renovada todos os anos.

“Seria bom, né? A gente poderia chegar em Humaitá em duas horas e meia. Hoje, se saímos cedinho, só chegamos lá às 17h”, afirma.

A família Schroeder é mais conhecida na região como “catarinos”. Todos louros e de olhos azuis, a aparência destoa da população amazônica.

Fibra

Mas o que mais chama a atenção nos “catarinos” é a fibra de se manter praticamente na fronteira selvagem durante tanto tempo.

“Meu marido sempre quis ser fazendeiro, mas não tinha mais terra para comprar lá no sul, então viemos para cá”, conta Marli Schroeder.

Passados quase vinte anos, a fazenda prosperou. Eles hoje vendem gado para corte em Humaitá, mas vivem praticamente isolados.

A filha mais velha de Marli, Sara, tem 18 anos e neste ano começou a estudar formalmente pela primeira vez na vida.

“As mães sempre ensinaram os filhos a ler e a escrever, mas não tinha escola.”

Graças a um acordo com a Prefeitura de Humaitá, uma professora primária foi enviada para a fazenda dos “catarinos”.

De segunda a sexta-feira, ela mora no local e dá aula para as nove crianças que lá vivem.

“Talvez nós tenhamos errado ao insistir em morar aqui. Eu poderia ter ido para a cidade com as crianças para elas irem à escola. Mas nós queríamos dar liberdade para elas aqui”, reflete Marli Schroeder.

Grilagem

A reabertura da BR-319 poderia ajudar os “catarinos” a correrem atrás do tempo perdido.

Marli Schroeder diz estar preocupada com a possibilidade de desmatamento que o recapeamento da rodovia pode trazer – “a gente tem filho, né”, resume.

Para ela, se as autoridades quiserem, podem evitar as derrubadas.

O maior medo dela são os grileiros que costumam ser atraídos por novas estradas.

“Ouvi dizerem que aqui tinha muita grilagem e até matança por causa de terra. Disso tenho medo.”

Fonte: BBC

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