janeiro 10, 2010

Alice no País das Maravilhas estréia em março

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[ Amálgama ]

Um mundo onde todos têm olheiras

por Ana Al Izdihar – Tim Burton começou a carreira como desenhista nos estúdios Disney, por isso ainda tem muita carta branca por lá. Mas como ele disse, desenhar em série milhares de frames por dia o entediava muito. E lá mesmo foi convidado para o departamento de criação, mas naquela época seus desenhos eram por demais “sombrios” para a Disney. Algum tempo depois começou a fazer suas incursões cinematográficas e não parou mais. Não vou contar toda a história dele. Para ver mais detalhes, você pode clicar aqui e aqui.

Burton pensa seus filmes primeiramente sob a perspectiva da imagem e do movimento. Além de desenhar, ele também cria bonecos e bugigangas que funcionam de verdade. Há um “que” na cabeça de Burton de industriário do século 19, que cria personagens e máquinas fabulosas cujas aparências remetem a algo entre o lixo, o futurístico e o imaginário. Uma mente julieverniana que acrescenta muitas vezes o elemento gótico (que já é completamente arquitetônico por natureza). Pertenceria Burton e seus personagens à dita “Era das Lendas” como Terry Gilliam, Terry Jones, Akira Kurosawa ou Fellini?

Somente a partir desses cenários, bonecos, desenhos, maquetes e máquinas é que ele imagina como o enredo se encaixará. E é por isso que alguns críticos mais cartesianos vêm suas narrativas como instável às vezes, por se preocupar muito com o visual. Bem, eu não concordo com isso. Acho que suas narrativas – quer o roteiro seja dele ou não – são bastante poéticas e inspiram fantasias mirabolantes em nossas cabecinhas. Fico com outros críticos que dizem que Burton é um dos poucos diretores que faz contos de fadas para adultos.

Arrisco-me a dizer que já existe um mundo chamado Burtonville, assim como já existe Tarantinópolis e como já existiu Spielbergtown. Em Burtonville você pode ver um boneco que parece a criatura de Frankenstein, mas ele é doce e carente, com tesouras no lugar das mãos. Tem o pior diretor do mundo que se veste de mulher no set de filmagens e tem uma fé cega em si mesmo. Tem um detetive que é muito inteligente, mas é muito medroso, no fundo só quer ser amado e aceito. Tem também um gênio das guloseimas que é meio sádico e sente saudades do pai. Nossa! Tem tanta coisa comestível e usável…

Quando o assunto é “fantasmas”, não pense que eles são maus – eles nem sabem assombrar a própria casa! O fantasma que poderia ser um vilão, é simplesmente um imbecil de dar pena. O coitadinho do rapaz magrinho que se apaixona por uma linda noiva… morta? E o outro magrinho que vivia num mundo triste e estranho? É de morrer, mesmo… Até marcianos podem aparecer, mas eles também só atacam gente burra.

Os únicos indivíduos dos quais você deve ter medo em Burtonville são os humanos. Eles são sempre amargos, inseguros, raivosos, perdidos, gananciosos, rígidos e muitas vezes moralistas. Humanos bons em Burtonville não são considerados normais… E acho que o humano mais mauzinho de todos em Burtonville foi um barbeiro e sua namorada… Ele realmente era medonho!

Os vilões são vilões, mas têm razões muito plausíveis para agirem como agem. O homem com a cara deformada por ácido e o bebê amorfo que é apelidado de “pingüim” são pessoas com uma vida dura por trás de suas malvadezas.

E uma coisa você pode reparar nos Burtonvillenses: todos têm umas olheiras propositais, por cima de uma cara muito pálida, mesmo a mocinha mais linda. Talvez um toque de realidade dentro desse mundo fantástico, um elemento gótico, como se a gente caísse de repente num buraco de coelho e descobrisse que foi parar num conto de Edgar Allan Poe encarando as criaturas que vivem lá.

Para Burton, uma das maiores inspirações para criar personagens é seu ator preferido, Johnny Depp. Depp com seu corpo franzino, seu olhar sexy e sofrido e sua voz quase chorosa emprega uma marca única nos Burtonvillenses que encarna. Suas mãos de guitarrista, com dedos finos e longos, seu cabelo que tem vida própria e sua mente desvairadamente experiente em sombras da vida real dá o sopro de genialidade à genética desses seres, a princípio parecidos, mas no fundo desdobramentos de um mesmo arquétipo: o estranho mal compreendido.

Johnny Depp teve sempre em Burtonville a chance de mostrar facetas do seu talento que o mundo de fora não conhecia. Depp só veio mesmo a atingir reconhecimento do grande público depois de Jack Sparrow (hit da Disney). Antes, só quem lhe dava crédito e tirava dele o melhor eram Tim Burton e as mulheres. Johnny fez muito mais filmes obscuros e de saldo baixo do que o contrário, mas uma vez nas mãos de Burton, ele acaba sempre lembrado e elogiado. Em Burtonville, Johnny mostrou que não era só um lindo rosto, rebelde. Conseguiu compartilhar conosco profundo pesar, choro, linguagem corporal elástica, caretas impagáveis, vozes intraduzíveis, risadas incomuns, cantos estranhos.

E agora no século 21, com mais um medo coletivo no ar (o fim deste mundo) veremos Burtonville invadir e tomar de assalto Wonderland! Você pode imaginar como vai ser isso? Já viu o trailer de divulgação? É mais do que fantástico! É absurdamente um pulo para outro planeta! É uma mistura de desenho de última geração com gente que você não vai conseguir distinguir de quem é desenho!

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