Movimento contra a extradição de Cesare Battisti
Brasil - Repressom
Segunda, 03 Maio 2010 12:09
Passa Palavra - A decisão sobre extraditar ou não extraditar Cesare Battisti para a Itália está nas mãos do presidente Lula. A questão lhe foi entregue nesses moldes pelo acórdão de 15 de Abril do Tribunal Supremo brasileiro.
Mas é da maior importância que esse objetivo, a ser atingido brevemente, seja alcançado por meio das vozes que se levantam nas ruas, nos bairros, nas escolas e faculdades. Não é apenas a libertação física e formal de Cesare que está em causa, são também as causas - revolucionárias e anticapitalistas - que o levaram à prisão.
Como o Passa Palavra refere no recente artigo Libertação de Cesare Battisti: dilemas e problemas, esta luta não é separável do contexto de criminalização dos movimentos sociais que se vive agora no Brasil e no mundo. Por isso é da maior importância que os movimentos sociais brasileiros compreendam quão relevante pode ser esta luta particular para o avanço das suas lutas mais gerais.
Mas que posso eu fazer para se ouvir a minha voz neste caso?, perguntará você.
Além da assinatura da petição, há muitas iniciativas possíveis, nos mais diversos contextos.
Nos bairros, nas empresas, nas escolas e faculdades, difundir pequenos cartazes e panfletos volantes pressionando o presidente Lula para libertar Cesare.
Na internet, nos espaços de sociabilidade virtual, nas listas de emails, fazer circular petições, abaixo-assinados, declarações, pressionando o presidente Lula.
Estimular os coletivos, associações, sindicatos, movimentos sociais a tomarem posições públicas pressionando o presidente Lula.
Realizar atos públicos em todo o lado, pressionando o presidente Lula para negar a extradição de Cesare e o libertar de imediato.Não falta o que fazer, e o que quer que se faça é por demais urgente.
Assine AQUI a petição a entregar ao presidente Lula (assinaturas até 10 de Maio próximo) E transmita esse endereço aos seus amigos e conhecidos.
Obrigado.
Libertação de Cesare Battisti: dilemas e problemas
O debate Cesare Battisti, três anos de prisão política, que realizámos e transmitimos ao vivo no dia 15 de Abril (veja aqui), levantou várias questões, não só as que foram expostas pelos oradores na mesa e as que foram colocadas na sala e pelos espectadores na internet, mas ainda as que alguns de nós, do colectivo do Passa Palavra, pensámos e discutimos em seguida.
É urgente libertar Cesare Battisti. E, na situação jurídica a que se chegou, sobretudo depois da publicação em 16 de Abril do acórdão do Supremo Tribunal Federal, quem pode libertar Battisti é o presidente Lula. Assim, todos os problemas parecem resumir-se a um só: como influir na decisão do presidente?
Colocada a questão deste modo, a resposta parece óbvia. É necessário efectuar pressões nos bastidores do governo e para isto deve obter-se o apoio de personagens influentes. Foi neste sentido que se exprimiu a mesa no debate. E, goste-se ou não se goste, esta conclusão é incontroversa para quem tenha realmente o objectivo de alcançar a libertação de Cesare Battisti.
A conclusão é incontroversa mas não se esgota por si só, porque no mercado da política, tal como no mercado de bens e serviços, nada se dá, tudo se troca, e quem obtém de um lado deve fornecer por outro. A possível libertação de Cesare, sobretudo num ano eleitoral, é contabilizada em termos de votos. «O caso de Battisti está se tornando moeda de troca eleitoral, como pôde-se ver no debate», salientou Iraldo Matias num comentário on line. «O compromisso eleitoral sempre cria essas vias corporativistas de apoio a certos candidatos, em troca de "ajuda" a esta ou aquela causa particular. Nunca se ultrapassa essas demandas imediatas e fragmentárias. A solidariedade a um militante vale quantos votos?» A questão é pertinente. Lula vai libertar Cesare e este acto pode fazer com que Dilma Rousseff perca quantos eleitores? E quantos eleitores pode ela ganhar com a libertação de Cesare?
Mas a questão não termina aqui. Cesare em liberdade não se reduz a um peão no xadrez eleitoral. O dilema é ainda mais grave porque o presidente Lula não só não é uma pessoa de esquerda como − muito pior − é uma pessoa que no passado foi de esquerda e agora deixou de o ser.
Assim, já não é só de Cesare Battisti que se trata, mas do fortalecimento de mecanismos políticos contra os quais ele lutou enquanto militante dos Proletari Armati per il Comunismo, na Itália dos anos setenta. «[...] este problema que atingiu a Europa inteira na perseguição aos partidos políticos e movimentos populares», como Douglas Anfra destacou nos comentários on line, «resultou na tensão que conduziu à luta armada contra os assassinatos de militantes». Foi contra aqueles mecanismos políticos que os mais velhos de nós lutaram também nos mesmos anos em outros lugares. É contra eles que todos nós lutamos hoje. Será que só libertaremos Cesare Battisti a custo de renegarmos tudo aquilo por que ele lutou? Mas nós queremos a liberdade para um Cesare vitorioso, não para um Cesare derrotado. Parece-nos indispensável que a campanha para libertar Cesare Battisti sirva também para prolongar − na época actual e com os meios de hoje − o combate que Cesare e os seus companheiros de há trinta ou quarenta anos atrás travaram contra a exploração capitalista.
Para que a libertação de Cesare corresponda a uma vitória de Cesare, a uma vitória do que ele representa, seria necessário que as pressões sobre o presidente Lula não se devessem apenas a personalidades bem instaladas nos bastidores do governo. Seria necessário que os movimentos sociais, que mobilizam em todo o Brasil muitas centenas de milhares de trabalhadores, tivessem dito a sua palavra acerca do assunto. Talvez seja muito pedir que tivessem feito alguma coisa. Mas pelo menos que tivessem dito alguma coisa. Num dos comentários ao debate escreveu Otto: «Me parece que a questão central é essa passividade dos movimentos sociais em relação ao caso Cesare. Será que não caiu a ficha?» «Realmente, o que me impressiona», insistiu José noutro comentário, «temos movimentos no Brasil que promovem ocupações, greves, oposições sindicais. Cadê eles? Aonde estão?» O apoio a Cesare, como observou alguém da assistência, não contou com eles.
Será que a campanha de criminalização dos movimentos sociais os está a tornar bem comportados, para mostrarem na prática que respeitam as regras do jogo da democracia capitalista? Mas é precisamente isto que os governantes e os patrões querem, fazerem-nos obedecer às regras que o capitalismo dita. Se for isto que está a suceder, os movimentos sociais perdem duplamente. Perdem, primeiro, porque recuam quando podiam atacar os pontos frágeis do inimigo. Perdem, depois, porque recuam para um terreno que não é aquele onde os movimentos sociais têm força, mas para o terreno das instituições capitalistas. Será que a situação está tão má que justifique o comentário feito on line por Mané? «Me parece que não é exatamente uma apatia. O segredo reside no seguinte: a maioria dos movimentos estão institucionalizados, e jogam suas fichas na via parlamentar. Daí dá para entender o seu silêncio e passividade. É a miséria da esquerda!». Será necessária «a miséria da esquerda» para conseguir a libertação de Cesare Battisti?
Iraldo Matias, no seu comentário ao debate, acertou no alvo ao escrever: «percebi que o argumento maior a favor de Battisti é sua suposta "inocência". Se ele não for "inocente", deixa de ser merecedor da solidariedade da esquerda?? Ou apenas a esquerda "light" é politicamente defensável, diante das atrocidades que o Estado comete, principalmente nos tempos do fascismo italiano?»
Nós faremos tudo o que for necessário fazer − o quer que seja − que possa contribuir para a libertação de Cesare Battisti. E continuaremos a fazer tudo o que for conveniente e oportuno para dar continuidade aos desejos de uma vida diferente, que levaram Cesare à prisão.
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Fonte: Diário Liberdade
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