PICICA: O cartaz é antigo, a notícia é velha, mas o PICICA não poderia deixar de registrar o movimento cultural da Rua do Frei e sua última programação, que rolou no dia 16 de abril lá pelas bandas da antiga "Pauzada". O atraso se deve à OI que deixou o PICICA fora do ar por mais de seis dias, como se não bastasse pagarmos um serviço de banda larga meia boca. Tenho um voto de louvor e alguns senões. Antes porém, quero declarar publicamente o meu amor por Lucinha Cabral, a cantora mais pop da nossa taba. Eita caboquinha paid'égua! Onde ela se mete, tenha certeza, é coisa boa. Com ela já celebramos grandes momentos da nossa vida cultural. Pouca gente sabe: Lucinha tem um hábito que adotei sem cerimônia: ela se serve de um chá verde produzido por freiras lésbicas da Alemanha e cultivado por anões eunucos da Alsácia, pra se livrar das tensões da urbe enlouquecida da Barelândia. Dito isto, digo mais: como antigo morador da Frei José dos Inocentes, em casa que até hoje continua entre as propriedades da família, localizada atrás da carcaça do vetusto Cabaré Chinelo, antigo Hotel Cassina, do áureo período da borracha, que de tão fake acabou dançando numa dessas reviravoltas do capitalismo selvagem, declaro meu desconforto pela supressão do nome do patrono da rua. É certo que Frei José dos Inocentes não era flor que se cheirasse. Ele patrocinou genocídios, enlameando de sangue a história do Amazonas. Mas cá pra nós, o nome, retrabalhado, permitiria brincadeiras divertidas com a linguagem, ainda que se reconheça a força do nome Bloco do Frei. Entretanto, passado o carnaval ele perde sua força, além de continuar se referindo a um sujeito que parece oculto, mas não está. A memória da cidade há de lembrar para todo o sempre que a rua Frei José dos Inocentes foi o lugar onde a prática da prostituição ocupou pelo menos dois dos seus espaços: a estância de D. Felismina e a Pauzada, misturadas às residências das classes médias ali residentes. E o Frei não estava só. Em sua companhia a Rua Itamaracá, igualmente famosa pelo número de rende-vouz espalhados naquele trecho da cidade (em vez de puteiro, as classes médias letradas assim nomeavam o lugar onde atuavam aquelas que mais tarde seriam eufemisticamente conhecidas como trabalhadoras do sexo - a cultura francesa, usada àquela época como linguagem do que hoje conhecemos como linguagem politicamente correto, servia para proteger ouvidos sensíveis). Vejam a riqueza da mistura sociocultural: uma rua com nome de um religioso católico, na qual a mais antiga das profissões fez moradia ali pelos anos 1950-1960. Daí que, em se tratando de movimento cultural, nomear é um ato simbólico, muito além do uso prático da linguagem. Diria que para um movimento que se pretende cultural, nomear poeticamente é tudo que importa, se queremos dar novos sentidos à ação cultural exigida nos tempos atuais, dito pós-moderno. Para um Frei Nada Inocente, só um Banquete dos Mendigos. Taí um belo achado. No mais, a ação cultural em defesa do patrimônio histórico é digno de louvor. Parabéns, e vida longa ao movimento cultural!
ARTE E LAZER NA RUA DO FREI
Sabado 16, a partir das 19horas, mais uma vez com com o Frei, agitando a rua Frei José dos Inocentes com oficinas de música para crianças, performas teatrais com a Cia Metamorfose, Cia de Idéias, grupo de dança The Kings e o grupo de capoeira Cativeiro.
Show musical com:
Lucinha Cabral, Marinho Simões, Paulo Góis e canja para quem se habilitar.
Se você é morador ou amigo do Centro Histórico de Manaus, venha conosco libertar o Paço da Liberdade, porquer preso atrás de tapumes não pode continuar.
O FREI RECOMENDA O BANQUETE DOS MENDIGOS
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