dezembro 04, 2011

Dilma, a mídia, as minorias e a radicalização da coragem

PICICA: Esta é a Dilma que comoveu o país, pelo destemor em falar sobre a circunstância em que a mentira foi usada para enfrentar a ditadura militar. Foram suas convicções, seu amor ao país e a lealdade aos seus companheiros de luta que a tornaram símbolo da mulher consciente do século XX. É essa mesma coragem que queremos de Dilma para enfrentar o fundamentalismo cristão, a criminalização da droga e dos drogados, o capital predador que gera impactos socioambientais irreversíveis, a justiça para com a memória daqueles que tombaram na luta pela democracia no Brasil. Para nos situarmos no âmbito de apenas uma das políticas públicas em curso no país, não faz sentido que até a presente data o governo federal venha negando o direito ao contraditório e a audiência que reclama o movimento por uma sociedade sem manicômios, contrário à instituição das medidas de internação compulsória e do uso de verbas públicas para a manutenção das comunidades terapêuticas. Em política de saúde mental - como de resto, a qualquer política que se queira maiúscula -, ceder demasiadamente aos interesses de uma falsa maioria não é pedagógico e atenta contra as minorias que sustentaram a mudança de paradigma no campo da saúde mental e no enfrentamento da questão do abuso de drogas na sociedade atual. Até quando ficaremos reféns do alardeamento da mídia sensacionalista, que fabrica epidemias e factóides com a mesma desfaçatez com que conspira contra governos legitimamente consagrados por sufrágio universal? A ausência de democratização da comunicação nos parece decisiva nos recuos a que o governo federal vem sendo forçado a ceder, comprometendo o jogo democrático. Seu destemor, Dilma, é o nosso também. Em jogo as incômodas verdades da relação da sociedade com as drogas, a manipulação das maiorias e as mentiras midiáticas contra o destemor das minorias. Conte conosco. Em certas circunstâncias, nada como a radicalidade dos princípios para a navegabilidade do barco.


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