PICICA: Leia Outros valores, além do frenesi de consumo e as críticas de Bruno Cava e Cleber Lambert à entrevista de Viveiros de Castro.
por Cleber Lambert, sexta, 21 de Setembro de 2012 às 15:16 ·
Hoje
tenho algumas, para não dizer varias, reticências filosoficas em
relação ao pensamento de Viveiros de Castro, mas como não concordar, em
parte, com essa visão, de que o projeto politico no Brasil, hoje, é
transforma-lo numa grande Barretos, bovina e bronca, cuja finalidade
ultima seria alimentar de carne e minérios o crescimento chinês? Certo.
Creio sermos muitos os que estamos juntos no combate cotidiano a essa
inserção homogeneizante e violenta, do ponto de vista da socio e da
biodiversidade, do Brasil na economia-mundo. Porém, ao contrario dele,
penso que haja forças bandeirantes no Governo de Dilma, que como
qualquer outro governo, jamais é homogêneo, é ambiguo, com vetores
multiplos e instaveis. Não penso, assim, que o PT (uma coisa é falar o
governo, outra coisa o partido) seja "visceralmente bandeirante e
paulista", nem a transformação do Brasil em Barretos, pelo Governo do
PT, não vai sem transmutações mais sutis e imprevisiveis (Barretos tem
la suas surpresas, quando aceitamos sair da pureza da tribo, seja ela na
Amazônia, seja ela na Quinta da Boa Vista, e suas perspectivas molares,
ou seja, nada ou miseravelmente perspectivistas). Essa visão unilateral
e molar de EVC tem la também algo de bovino e bronco e, talvez, muitas
afinidades com o que ela critica, supondo como "retardado", "retrogrado"
toda a inventividade vital dos pobres (reduzidos, assim, a uma massa
decerebralizada, consumista, fundamentalista cristã, reacionaria, etc.),
toda a proliferação dos brasis nos ultimos 10 anos, conforme tento
mostrar em artigo a sair em breve, a "Floresta Hipertecnizada". Nem
desenvolvimentismo nem reenvolvimentismo, mais um esforço. Segue uma das
passagens mais problematicas, ao meu ver, da entrevista extremamente
interessante de Viveiros de Castro: "O projeto de Brasil que tem a
presente coalizão governamental sob o comando do PT é um no qual
ribeirinhos, índios, camponeses, quilombolas são vistos como gente
atrasada, retardados socioculturais que devem ser conduzidos para um
outro estágio. Isso é uma concepção tragicamente equivocada. O PT é
visceralmente paulista, seu projeto é uma “paulistanização” do Brasil.
Transformar o interior do país numa fantasia country: muita festa do
peão boiadeiro, muito carro de tração nas quatro, muita música
sertaneja, bota, chapéu, rodeio, boi, eucalipto, gaúcho. E do outro lado
cidades gigantescas e impossíveis como São Paulo. O PT vê a Amazônia
brasileira como um lugar a se civilizar, a se domesticar, a se
rentabilizar, a se capitalizar. Esse é o velho bandeirantismo que tomou
conta de vez do projeto nacional, em uma continuidade lamentável entre
as geopolítica da ditadura e a do governo atual"
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