PICICA: "Certamente, a
entrada de Marta no cargo marca, por si só, a possibilidade de uma
melhora na pasta, o que não quer dizer muito, mas não é de um todo ruim.
Mas Marta não é da área e resta saber que direcionamento ela vai dar.
Sua gestão na prefeitura de São Paulo (2001-04) foi marcada por
iniciativas ousadas na forma de projetos que ela bancou -- embora nem
sempre tenham sido de sua lavra pessoal, como os CEU's, criação do ora
candidato Fernando Haddad -- e, por outro lado, aproximações com o
mercado e a iniciativa privada, sobretudo no que diz respeito à área de
moradia e urbanismo, cujos resultados práticos foram ruins. No entanto,
Marta certamente foi melhor prefeita do que líder partidária. Fica o
detalhe para a completa incógnita de Marta no MinC, uma vez que alheia à
área da pasta, ela será o que os assessores que ela escolher --
possivelmente segundo o que partido orientar -- forem. Fora do eterno
confronto Bahia x Rio na Cultura, Marta pode ser tudo e nada." EM TEMPO: Recomendo a re-leitura de Arte-ativismo OMO: a cultura como higienização Rainha Morta, Rainha Posta: Marta no Lugar de Ana no MinC, de Bruno Cava.
Meme contra Ana de Hollanda, ainda no início de sua gestão |
Ontem, Ana de Hollanda
foi demitida do Ministério da Cultura (MinC) após uma reunião de
meia-hora com a presidenta Dilma Rousseff, sendo substituída pela
senadora Marta Suplicy (PT-SP). A escolha de Ana de Hollanda para
o Ministério da Cultura, lembremos, foi a primeira grande polêmica de
Dilma na Presidência. Não só pelo fato disso ter marcado um recuo e, de
certa forma, o desmonte nas políticas inovadoras e libertárias de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC como, também, pela própria torpeza da ocupante do cargo, uma irmã obscura, e com pouquíssimo traquejo político, do antológico cantor e compositor Chico Buarque.
Muito do que diz respeito à continuação descontinuada de Dilma em relação a Lula, sobretudo tudo no que toca ao giro Ordem & Progresso,
é, não raro, ignorado ou relativizado pela competência dos ocupantes
dos ministérios, o que não acontecia no caso de Ana: politicamente
indefensável e odiada pelos militantes e especialistas da área de sua
pasta, ela foi uma bola fora sob qualquer ponto de vista. Foi sob a gestão de Ana que o MinC deixou de usar a licença creative commons no seu site -- um belo simbolismo no que toca à capitulação ao lobby
dos direitos autorais --, que voltou a rufar os tambores para o mito da
"classe artística" -- em detrimento de pensar a produção cultural como
multitudinária e plebeia -- além de manter sem ânimo e (quase) por
inércia os programas da gestão anterior.
Poderíamos
começar especulando o motivo que levou Ana a cair, mas seria melhor
questionar, antes de mais nada, por que diabos ela não caiu antes. Não
caiu porque Dilma teve problemas em ministérios demais em tempo de menos
-- pois, paradoxalmente, se quase não há mais oposição neste país,
também não parece haver mais do que alguns elétrons livres na chamada base governista
-- e porque, no limite, o projeto de Ana não destoava do giro promovido
pela própria Dilma em outras áreas. Depois, ela caiu porque roeu a
corda, rompeu com aliados pesados seus como Antônio Grassi -- seu fiador
junto ao lobby da "classe artística" no Rio de Janeiro -- e teve
uma carta sua para a ministra do planejamento, Miriam Belchior, na qual
fazia duras críticas ao "estado da cultura" no país -- isto é, o valor
insatisfatório da verba da pasta -- repercutida pelo jornal O Globo.
Se Dilma
sabia que, no fundo, só era ela mesma a segurar a ministra no cargo, por
outro, imaginava que ela viesse a ter qualquer tipo de gratidão
profunda por isso. A carta n'O Globo foi o fim da linha, como fica claro
na declaração oficial de apaziguamento em meio à polêmica, tornando Ana uma ministra sacrificável
no jogo político. Sua queda, contudo, talvez tenha sido adiantada pelas
tensões relativas à disputa pela prefeitura paulistana, onde a
tentativa de costurar apoio de Marta Suplicy à candidatura de Fernando
Haddad, dentro do próprio PT, parecia impossível, tornando o
oferecimento do MinC para a senadora -- a exemplo do que já tinha sido
feito com Aloísio Mercadante e o Ministério da Educação -- uma
possibilidade selar a união do partido da estrela. Foi o que aconteceu. A
entrada "para valer" de Marta numa campanha na qual ela relutou até o
último momento se deu junto de sua entrada no MinC.
Certamente, a
entrada de Marta no cargo marca, por si só, a possibilidade de uma
melhora na pasta, o que não quer dizer muito, mas não é de um todo ruim.
Mas Marta não é da área e resta saber que direcionamento ela vai dar.
Sua gestão na prefeitura de São Paulo (2001-04) foi marcada por
iniciativas ousadas na forma de projetos que ela bancou -- embora nem
sempre tenham sido de sua lavra pessoal, como os CEU's, criação do ora
candidato Fernando Haddad -- e, por outro lado, aproximações com o
mercado e a iniciativa privada, sobretudo no que diz respeito à área de
moradia e urbanismo, cujos resultados práticos foram ruins. No entanto,
Marta certamente foi melhor prefeita do que líder partidária. Fica o
detalhe para a completa incógnita de Marta no MinC, uma vez que alheia à
área da pasta, ela será o que os assessores que ela escolher --
possivelmente segundo o que partido orientar -- forem. Fora do eterno
confronto Bahia x Rio na Cultura, Marta pode ser tudo e nada.
Essa
articulação sela a paz no PT -- pelo menos até o ponto que demanda a
presente eleição municipal paulistana -- em momento no qual Haddad
cresce, possivelmente ultrapassa José Serra, mas precisa adquirir mais massa crítica para tirar de Celso Russomano
um eleitorado que é petista, votaria em Marta, mas não está com ele
agora -- embora a classe média e os mais jovens venham se aproximando de
Haddad de um modo que não se aproximariam de uma nova candidatura Marta
(como foi, aliás, nos pleitos de 2004 e 2008). Interessante notar pelo
menos dois coisas: como a candidatura Haddad forçou o PT paulistano à
esquerda, obrigando Dilma a compensar forças conservadoras, e em certa
medida personalistas, com espaços no plano nacional -- Marta no MinC,
Mercadante no MEC, Tatto na liderança do PT na Câmara -- e, é claro, o
descompasso e a falta de diálogo de Dilma com os ativistas da área de
Cultura, muitos dos quais seus fiés apoiadores em 2010; Ana de Hollanda
terminou caindo por motivos diversos e até estranhos ao debate travado
ao longo dos últimos vinte meses...
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