PICICA: "O apêndice de Como Mudar o Mundo cita 198 métodos
de protesto e persuasão não-violentos, elencados por Gene Sharp."
Como mudar o mundo?
O livro dá dicas práticas de como alcançar o objetivo de mudar o mundo. No início pode parecer um pouco óbvio ou simplista demais, mas com o passar do texto até os pequenos exercícios se mostram bastante úteis. Além disso, discorre sobre o alcance de determinadas ações e como às vezes deixamos de valorizar as pequenas atitudes em detrimento dos grandes feitos de líderes ou pensadores.
Um exemplo desse é a situação descrita na página 16 do livro, que fala da queda do muro de Berlim:
No vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim, “líderes mundiais” foram à Alemanha a fim de discursar para multidões de ouvintes.Para quem já está engajado, indico como uma reflexão importante sobre estratégias para gerar mudanças e motivação para continuar a fazê-lo. Mas este livro também me ajudou a refletir sobre alguns pontos relacionados a militância.
Foi impressionante o fato de terem assumido o crédito por esse acontecimento histórico em particular, já que líderes mundiais tiveram pouquíssima influência na queda do Muro. Na verdade, a barreira entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental foi destruída porque muitos berlinenses comuns fizeram algo mínimo. Após testemunhar as mudanças significativas de que “o poder do povo” provocava em alguns países vizinhos, e após os protestos em massa na Alemanha Oriental, os berlinenses simplesmente foram até a fronteira para ver o que estava acontecendo. Soldados no posto de controle, estupefatos e igualmente cientes do que havia acontecido pouco antes em países vizinhos, abriram caminho para que eles transitassem de um lado para o outro da cidade. Logo depois, por já ter deixado de ser uma barreira afetiva, o muro foi demolido. O fato de “líderes mundiais” assumirem o mérito não desmerece a conquista, mas insinua que, ao mudar o mundo, não podemos necessariamente esperar reconhecimento”. (pg. 16)
Algumas pessoas acreditam que a militância e o ativismo se fazem apenas nas ruas e nos protestos. Existe ainda quem acredita que não devemos nos pronunciar sobre determinados assuntos, que pensar em certas coisas nos deixarias louc@s, que política, futebol e religião não se discutem.
Mas o ativismo tem um conceito muito mais abrangente, abaixo elenco algumas definições:
A.ti.vis.mo: qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da realidade em detrimento da atividade exclusivamente especulativa.
A.ti.vis.ta: Membro por afinidade em alguma ideologia política ou social.
Pessoa que exerce uma atividade política ou humanitário com grande empenho. Militante.
Mi.li.tan.te: Membro ativo de uma causa; que se posiciona de uma forma similar aquela ideologia, trabalho, profissão, causa, envolvido diretamente, ativamente e se identifica através de sua postura pessoal.
Nós escolhemos a militância e o ativismo por causa de um ideal. Como feministas, nos posicionamos contra a realidade atual, que nos parece injusta. Há quem diga que já conquistamos muito… E é aí que devemos perguntar: mas de onde vieram essas vitórias? Foi pelo silêncio e inércia que conquistamos o que temos hoje? Ou alguém teve que se posicionar e lutar por uma realidade diferente?
Aqui, quando falo de luta, não me refiro especificamente a embates, guerras. Lutar por direitos é um exercício diário que se pode fazer das mais diversas formas. O apêndice de Como Mudar o Mundo cita 198 métodos de protesto e persuasão não-violentos, elencados por Gene Sharp. Além dessas, cita também as pequenas escolhas que fazemos no dia-a-dia e que podem contribuir para mudar a realidade, a nossa vida e a das pessoas em volta.
É o ombro amigo que agente escolheu dar pr@ amig@, o incentivo que
damos às pessoas para arriscar uma atitude diferente, é a bandeira de
paz no meio dos conflitos diários, é a discussão de família ou no
trabalho que escolhemos participar para mostrar outro ponto de vista, ou
mesmo a que não escolhemos para nos preservar, é o sorriso com
que retribuímos as palavras agressivas que dirigem a nós, é o presente
não-sexista, o produto ou serviço que escolhemos adquirir ou não, é o
bolo de aniversário feito com carinho, é a palavra de apoio
e conscientização nos momentos difíceis, é o ouvido e o abraço que
doamos um pouquinho, o termo preconceituoso que deixamos de usar. Enfim,
não faltam exemplos.
Minha militância é uma militância de paz, acolhimento, amizade. Dos risos, da dança-como-se-ninguém-estivesse-olhando, da ocupação dos espaços públicos – principalmente à noite -, da independência… a militância pode ser tão plural quanto nós mesm@s.
Muitas vezes não enxergamos o poder transformador de certas atitudes.
Mas cabe a cada um@ de nós escolher o que queremos perpetuar ou
transformar. No livro, o autor cita a ação de Rosa Parks, jovem
negra que, ao se recusar a entregar seu lugar no ônibus a passageiros
brancos, acabou por desencadear um movimento contra a segregação racial
nos Estados Unidos.Minha militância é uma militância de paz, acolhimento, amizade. Dos risos, da dança-como-se-ninguém-estivesse-olhando, da ocupação dos espaços públicos – principalmente à noite -, da independência… a militância pode ser tão plural quanto nós mesm@s.
O legal de Como Mudar o Mundo é que ele dá várias dicas práticas, usando como exemplo ações atuais e históricas que fizeram a diferença. Além disso, ele ensina a se planejar para construir ações efetivas. Recomendo a leitura e convido tod@s ao exercício: se você quer mudar o mundo, qual é a sua militância?
Um mundo bom não é um mundo em que todos se concentram em problemas globais segundo um conceito de “importância” imposto pelo ambiente externo. Um mundo bom é aquele em que as pessoas encontram sentido em coisas especificas que elas fazem….” (pg. 88)
J. Oliveira
Nerd em tempo integral, baladeira nas horas vagas. Ativista de espirito e aventureira por hobby.Fonte: Blogueiras Feministas
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