PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
dezembro 23, 2006
Boas Festas
Na manhã de 10 de outubro de 2003 - Dia Mundial da Saúde Mental - familiares, usuários e técnicos de saúde mental, da Associação Chico Inácio e do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, participaram de mais um dos abraços em torno de três dos ícones da cultura amazonense (Palácio Rio Branco, onde funcionou a sede da Assembléia Legislativa do Amazonas - ALE; Palácio Rio Negro, antiga sede do governo estadual, e do Teatro Amazonas).
Ao envolver o Legislativo e o Executivo, sinalizando o desejo de dar continuidade à Reforma Psiquiátrica estagnada por todo os anos 1990, obteve-se como resultado o compromisso do governador Eduardo Braga em dotar o estado do Amazonas de uma legislação específica em saúde mental. O projeto é da Associação Chico Inácio. Dado um impedimento legal - ongs não podem propor projetos que impliquem em ônus para o tesouro, sem anuência do executivo -, somente em maio de 2006, por ocasião da inaguração do CAPS Silvério Tundis, finalmente obteve-se o compromisso do governador de estado. O projeto tramita na ALE.
Mas foi o abraço no Teatro Amazonas, um dos maiores ícones culturais do Amazonas, onde depositou-se a esperança do movimento social por uma sociedade sem manicômios: que os amazonenses superassem o silêncio que se abateu sobre o destino dos portadores de transtorno mental, resgatando os idos de 1980, tempo em que jovens psiquiatras ousaram combater a corrupção e a violência existente no único hospital psiquiátrico da cidade de Manaus, inaugurando um novo período na história da atenção em saúde mental no Amazonas.
Nos anos 1980, chamou atenção da opinião pública a façanha de homens e mulheres, hospitalizados por mais de uma a duas décadas, produzirem nas terras agricultáveis do então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro uma tonelada de verdura, roçados de milho, mandioca, macaxeira, criação de porcos, além de manter uma casa de farinha. Assim nasceu a Reforma Psiquiátrica no Amazonas, na vertente democracia e humanização do espaço hospitalar, através do primeiro tipo de trabalho protegido de que se tem notícia na história da saúde mental da cidade de Manaus.
Com essa imagem de luta, agora em prol de uma sociedade sem manicômios, desejo aos(às) companheiros(as) que constróem a reforma psiquiátrica, aos familiares, usuários(as), bem como aos(às) parlamentares, as autoridades públicas, e ao povo em geral, meus votos de um novo ano de avanços para a reforma psiquiátrica - sempre em permanente construção -, e um feliz natal para todos.
dezembro 20, 2006
Geraldo e Dulce falam do CAPS 1000
Geraldo Peixoto e Dulce Edie dos Santos,
dois tremendos pés-de-valsa, no primeiro
dia de festa do Encontro Nacional de Saúde Mental,
ocorrido em Belo Horizonte-MG, em julho de 2006.
NOTA: Familiares de usuários em tratamento em CAPS de São Vicente, São Paulo, na baixada santista, leia o depoimento emocionado desse dois companheiros da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial sobre a implantação do CAPS 1000 em Fortaleza-CE.
Companheiros,
Em meu nome e em nome de meu filho, André Luiz, queremos dizer, em alto e bom som: VIVA O CAPS 1.000 DO BRASIL!
Para nós dois, o de número 1.000, tem um significado muito especial, já que participamos do número 1, do primeiro e inesquecível CAPS Dr. Luiz da Rocha Cerqueira (CAPS Itapeva), onde tudo começou. Ana Pitta, Jairo Goldberg, Jonas Melman, Sandra Fischetti, Regina Bischapp, Ana Luísa Aranha, Sérgio Urquiza, Silvio Yassui, Adalberto Lamerato, Videira e, tantos e tantos outros, inumeráveis companheiros, dos quais, fazemos questão de dar este testemunho, para que essa história não se perca... jamais.
Parabéns, parabéns, parabéns. Quero continuar testemunhando esse extraordinário fato, essa mudança, essa transformação, essa história nova que vem sendo escrita por novos personagens, que se agregam nessa nova construção.
Valeu companheiros!
Geraldo e André Peixoto
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Parabéns aos companheiros! Parabéns pelo milésimo CAPS! Também quero aproveitar para deixar meu testemunho em favor dessa realização.
Depois de mais de vinte anos de internações, sem qualquer resultado, consegui levar meu filho a se tratar num dos muitos CAPS espalhados por este Brasil, e hoje posso afirmar, com a mais absoluta convicção - VIVA A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA! Que muitos outros mil, dois mil, três mil, sejam criados!
Agradeço a todos esses visionários, que puderam fazer com que tudo isto acontecesse.
Obrigada,
Dulce
Pedro Gabriel fala do CAPS 1000
Pedro Gabriel Delgado, Coordenador Nacional de Saúde Mental,
cumprimenta usuários do CAPS Silvério Tundis, em Manaus-AM.
NOTA: Inaugurado o CAPS 1000 em Fortaleza-CE. Leia mensagem enviada pelo Coordenador Nacional de Saúde Mental Pedro Gabriel Delgado aos companheiros(as) que constróem a Reforma Psiquiátrica brasileira em todas as latitudes.
Queridos companheiros e companheiras que defendem e constróem no dia-a-dia a Reforma Psiquiátrica:
Foi uma festa muito bonita a inauguração do CAPS AD Casa da Liberdade, o CAPS 1.000, no Alagadiço Novo, região da Messejana, em Fortaleza. A jovem prefeita Lisiane Lins, o secretário Odorico Monteiro, um representante dos usuários, outro dos familiares, expressaram em discursos emocionados a importância desta conquista para a luta pela democratização da saúde mental no Brasil. Havia lá dezenas de trabalhadores dos serviços municipais, professores da Universidade, representantes de entidades associativas e do Mínistério Público, a população dos bairros da Messejana, em um cenário belíssimo, cercado por coqueiros e sob o sol e o céu do Ceará. Fortaleza, que antes ficava sempre atrás do grande avanço que o interior do estado teve nos anos 90, agora deu uma virada, e passa a ter uma forte rede de 14 serviços, leitos em hospital geral, residências terapêuticas. Falta muito o que fazer, ainda é preciso aperfeiçoar a regulação da porta-de-entrada das internações e a integração com a atenção primária. Mas ser o Caps 1000 aqui é uma homenagem justa ao esforço do município de 2,5 milhões de habitantes e brutais problemas de desigualdade social. Chegamos ao CAPS 1.000, a reforma psiquiátrica é uma realidade no cenário das políticas públicas do Brasil. Acredito que estamos entrando agora em um novo ciclo, de sustentabilidade da mudança do modelo de atenção, de qualificação dos serviços, de ampliação das ações da atenção primária. É significativo que, simultaneamente ao CAPS 1.000, agora em dezembro tenhamos ultrapassado o limite dos 40.000 leitos em hospitais psiquiátricos, com 39.600 leitos SUS, e demonstrando de modo inequívoco que a garantia do acesso da população ao cuidado em saúde mental não depende do número de leitos especializados, mas do bom funcionamento da rede de atenção psicossocial, e da adequada resposta à atenção às crises no território. Fiquei tentado a mandar esta mensagem àqueles que contribuem com seu trabalho e sua militância para a mudança do modelo assistencial, para dizer que finalizamos esta atual gestão 2003-2006, apesar de todos os obstáculos e todos os problemas reais do SUS, com conquistas concretas, que inauguram uma nova etapa na política de saúde mental no Brasil. Um grande abraço, de cá do Ceará, para todos os companheiros. Pedro Gabriel Delgado
dezembro 18, 2006
Qual o futuro da Reforma Psiquiátrica no Amazonas?
Médicos concorrem a 25 programas de residência médica; aos fundos,
a professora Débora Laredo e os professores Luís Ferreira e Raymison
Monteiro, ambos da Comissão de Residência Médica (Coreme).
Uma curiosa forma de lidar com a baixa auto-estima fez do Amazonas um estado superlativo. Tudo aqui é o maior ou o primeiro do mundo. Explica-se essa idiossincrasia dos amazonenses - não todos, obviamente -, como resultado da perda do status adquirido no surto gomífero do século XIX, que, depois de instituir no imaginário coletivo, como afirmou a professora de história da Universidade Federal do Amazonas Edinéa Dias, a ilusão do fausto, ensinaria com quantos paus se faz uma canoa se quisermos fugir de economias baseadas em monocultura. Com a derrocada dos preços da borracha no mercado internacional, e o subsequente desmoronamento da economia responsável por 40% do PIB nacional, passou-se a valorizar a exuberância da floresta equatorial, o longo curso do Rio Amazonas, o majestoso teatro Amazonas e o indefectível Encontro das Águas, em sua extensão quilométrica.
Feito esse esclarecimento, para que não se tome este escrevedor como o mais recente objeto do atavismo nosso de cada dia, declaro que temos motivos para comemorar a primeira Residência Médica em Psiquiatria do estado do Amazonas, cuja provas foram realizadas na manhã de domingo, 17 de dezembro de 2006, no auditório Dr. Zerbinni, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Amazonas. Sete médicos inscreveram-se, disputando três vagas. Há anos vinha caindo o número de médicos interessados pela psiquiatria. A turma de Medicina de 1977 foi a que apresentou o maior número de pretendentes; onze, ao todo. Obrigados a fazer Residência Médica fora do estado, esse transtorno está com seus dias contados.
A criação da Residência Médica em Psiquiatria é uma medida que tarda no Amazonas. Disso não há motivos para orgulho. Ao contrário. É um vexame que ela só tenha se viabilizado em pleno século XXI. Há responsáveis por esta façanha: a de fazer o Amazonas perder por mais de uma década o rumo da sua Reforma Psiquiátrica. Basta lembrar que há um área cinzenta na relação entre agentes de saúde que assumem cargos de gerência e de gestão com os administradores públicos da hora. Os interesses menores que prevaleceram deste bizarro encontro está por merecer melhor análise.
Por ora, é ir para o abraço e correr para torcida. Alô, torcida!.... Torcida... torcida, cadê você?
Antes, porém, uma advertência de Dona Cândida, mãe de dois usuários dos serviços de saúde mental, todos sócios da Associação Chico Inácio, filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial: "Quais as garantias para que os futuros residentes abracem a causa da Reforma Psiquiátrica no Amazonas?". Bela indagação, que remete a uma outra: "Qual o futuro da Reforma Psiquiátrica no Amazonas?".
dezembro 17, 2006
Está nascendo a primeira residência médica em psiquiatria no Amazonas
Durante todo o século XX até a presente data, os amazonenses que desejassem se habilitar em psiquiatria precisavam sair do estado em busca de uma residência médica em psiquiatria. Estava entre os 11 colegas médicos que assim procederam após a graduação em medicina pela Universidade Federal do Amazonas, em 1977.
Entre 1978 e 1979 fiz residência médica em psiquiatria social em Diadema-SP. No primeiro ano, o programa da residência era realizado na Comunidade Terapêutica Enfance da Associação Pró Reintegração Social da Infância. No segundo ano, o programa acontecia no Instituto de Psiquiatria Social.
Tive a boa sorte de estar no lugar certo e na hora certa quando Franco Basaglia, o criador da psiquiatria democrática italiana, veio ao Brasil. A Comunidade Terapêutica estava entre as entidades que patrocinaram a vinda do articulador da Lei 180, de 1978, que subsituia a rede de hospitais psiquiátricos por uma rede de serviços substitutivos, pondo fim à violência praticada pela exclusão dos loucos da vida social.
A fotografia acima foi feita na Comunidade Terapêutica (CT). Nela vê-se Oswaldo di Loretto, preceptor e idealizador da CT e Franco Basaglia, que no final dos anos 1950 abandona a cátedra de psiquiatria de uma universidade italiana para liderar a terceira grande reforma no campo da psiquiatria. Talvez fosse mais apropriado chamá-la de revolução, tal os efeitos provocadas na cultura contemporânea.
Eis que, na manhã de hoje, dia 17 de dezembro - dia em que o Internacional de Porto Alegre tornou-se campeão mundial de clubes de futebol -, no auditório Zerbinni, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), está sendo realizado prova para admissão na primeira Residência Médica em Psiquiatria do estado do Amazonas.
Licencinha! Tô indo cumprimentar os autores da façanha, Dr. Raymison Monteiro e Dr. Luís Ferreira, docentes em medicina, na UFAM, membros da Comissão de Residência Médica para o estado do Amazonas e para a Região Norte, respectivamente. Neste momento, eles se encontram no local das provas. O Secretário Estadual de Saúde, Dr. Wilson Alecrim, está igualmente de parabéns por ter bancado o desafio. E a Coordenação Estadual do Programa de Saúde Mental, estabelece um marco importante na história da Reforma Psiquiátrica no Amazonas.
dezembro 16, 2006
CAPS 1000
NOTA: Com o coração a gargalhar, os companheiros em defesa da reforma psiquiátrica festejam a implantação do CAPS de número 1.000. Leia o release da Assessoria de Imprensa do Ministério da Saúde.
15.12.2006
Saúde inaugura milésimo Centro de Atenção Psicossocial
O Ministério da Saúde inaugura na próxima segunda-feira (18) o milésimo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil. O evento é um marco na consolidação da Reforma Psiquiátrica Brasileira com a implantação de uma rede de atenção psicossocial de base comunitária no Brasil.
O CAPS 1000 é o CAPS-AD Casa da Liberdade em Fortaleza (CE) que faz parte de uma rede de serviços de atenção psicossocial que estão sendo implantados no município e vai ampliar a resposta do Sistema Único de Saúde ao tratamento de pessoas que sofrem de transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas. O serviço será referência para o acolhimento destes usuários e irá trabalhar com a estratégia de Redução de Danos.
O CAPS 1000 é também uma homenagem ao esforço de todos os gestores estaduais e municipais que estão construindo uma rede de atenção efetiva em saúde mental em substituição ao modelo centrado nos hospitais psiquiátricos.
Os CAPS possibilitam outro tipo de atendimento às pessoas portadoras de transtornos mentais e de problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, situam-se próximos do lugar de moradia das pessoas, próximos das famílias e da comunidade, neste sentido os CAPS seguem as orientações mais atuais no tratamento em saúde mental, são mais adequados, mais eficazes, mais respeitosos com os usuários e, principalmente, mais acolhedores ao sofrimento desta população.
De acordo com o coordenador da Área Técnica de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado inaugurar o CAPS de número mil significa que uma das etapas da consolidação do novo modelo de atenção em saúde mental foi cumprido. “Associados aos outros recursos da rede, como ambulatórios, residências terapêuticas e outros, os mil CAPS são capazes de proporcionar cobertura em saúde mental a uma população de cerca de 80 milhões de pessoas”, afirmou o coordenador.
Serviço: CAPS-ad
Local: Rua Ministro Abner de Vasconcelos, 1500, Alagadiço Novo - Fortaleza (CE)
Data: Segunda-feira (18) às 11 horas
Agência Saúde
Mais informações
Assessoria de Imprensa do Ministério da Saúde
Tel.: (61) 3223-1113/ 3315-2351
Fax: (61) 3225-7338
Plantão: (61) 9962-3752
E-mail: imprensa@saude.gov.br
Portal: www.saude.gov.br
Governador do MT veta projeto que reduz Parque Cristalino
15/12/2006
Governador do MT veta projeto que reduz Parque Cristalino
Projeto de Lei elaborado por deputados desagrada ambientalistas e a própria Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Assembléia Legislativa decide na próxima segunda-feira (18) se mantém ou derruba o veto
Por Carlos Juliano Barros
O governador Blairo Maggi (PPS) vetou, nesta quinta-feira (14), o Projeto de Lei (PL) aprovado pela Assembléia Legislativa do Mato Grosso que reduziria em 14% - cerca de 27 mil hectares - a área do Parque Estadual Cristalino. "Foi uma vitória da conservação. O PL contraria o interesse público e a lei", afirma Laurent Micol, coordenador adjunto do Instituto Centro de Vida (ICV), entidade que atua na defesa do Parque. O projeto da Assembléia gerou uma série de manifestações contrárias da sociedade.
A própria Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso era contrária à sanção do PL. Em maio deste ano, o órgão havia encaminhado uma proposta para unificação das duas partes que compõem o parque, batizadas de Cristalino I e II, que sacrificaria apenas 3 mil hectares de sua área total. Isso porque as terras ocupadas antes da criação dessa unidade de conservação seriam retiradas do seu perímetro, a fim de resolver os conflitos fundiários na região. De acordo com a SEMA, o projeto dos deputados reconhece áreas desmatadas irregularmente após a criação do parque.
Contudo, a sentença de Maggi não significa que o PL esteja engavetado de vez (grifo deste blog). Na próxima segunda-feira (18), a Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa do Mato Grosso se reúne para discutir a decisão do governador. Caberá aos deputados opinar pela manutenção ou derrubada do veto. "Contamos com o governador para que ele use sua influência entre os parlamentares", comenta Micol. "Uma vez mantido o veto, esperamos que o projeto elaborado pela Sema, que tem um bom fundamento técnico, seja adotado", completa.
NOTA: Publicado no Repórter Brasil (http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=852)
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NOTA: Agora, se liga aí na mensagem do Renato Farias.
Caríssimos,
O Governador vetou o projeto Substitutivo dos Deputados para redução doParque Cristalino. Contudo O PARQUE CRISTALINO AINDA ENCONTRA-SE EM RISCO, pois OS DEPUTADOS PODEM AINDA DERRUBAR O VETO DO GOVERNADOR BLAIRO MAGGI e assim automaticamente a redução do Parque será Lei.
De modo que necessitamos continuar em alerta e ativos. Pedimos assim para todos vocês que já participaram do Manifesto de Apoio ao Parque Estadual Cristalino, que continuem participando encaminhando uma carta aos Deputados e ao Governador exigindo a não redução do Parque.
Para isso basta clicar no link http://www.soscristalino.org.br/carta.phpcolocar seus dados e encaminhar.
Abraços a todos e muito obrigado pela continuidade do apoio.
Renato Aparecido de Farias
Fundação Ecológica Cristalino
Av. Perimetral Oeste, 2001 - CEP.: 78580 000
Alta Floresta - Mato Grosso - Brasil
Fon.: 66 3521 8513 Cel.: 66 9646 0772
Rio de Janeiro - Carnaval de rua: Bloco Tá pirando, pirado, pirou! escolhe samba para 2007
O Instituto Franco Basaglia - Rio de Janeiro-RJ, envia para os amigos da Reforma Psiquiátrica, convite para a Finalíssima do Samba 2007 do Bloco Tá Pirando, pirado, pirou!!!!
O processo de criação do tema enredo envolveu uma grande discussão com a comunidade de saúde mental sobre a melhor forma de responder ao discurso reacionário contra a reforma psiquiátrica brasileira.
Os sambas inscritos foram de tal qualidade técnica que foi preciso reunir um júri de sambistas profissionais para a decisão final...
O bloco Tá Pirando já faz parte da programação oficial carnavalesca da Cidade do Rio de Janeiro.
Todos estão convidados, e o desfile será no dia 11 de fevereiro, um domingo antes do Carnaval.
NOTA: Mensagem enviada por Neli de Almeida do Instituto Franco Basaglia.
dezembro 15, 2006
Morre em João Pessoa-PB, aos 76 anos, Sivuca
Nascido no interior da Paraíba, em Itabaiana, em 23 de maio de 1930, morreu no início da madrugada do dia 15 de dezembro de 2006 o grande compositor e instrumentista Severino Dias de Oliveira - Sivuca. Tinha câncer. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Parque das Acácias em João Pessoa. As emissoras de rádios da capital paraibana passaram o dia de hoje tocando suas músicas. Sivuca possuía um jeito inigualável de tocar sanfona.
Sanfona foi o instrumento da minha infância. Não porque sabia tocá-lo, mas porque, entre os 8 aos 10 anos de idade, todos os dias, atravessa a Praça Pedro II, levando-a na costa, até a Escola de Música de Dona Zoraide e Fátima Fernandes, contraparentes do meu pai, o comandante Rogelio Casado Marinho, que servia à Marinha Mercante, na companhia inglesa Booth Line Limited, cuja sede ficava na mesma quadra da escola.
Sob um sol abrasador, lá íamos nós, numa época em que a infância podia sair às ruas sem estar sujeita aos perigos que as tirariam da via pública antes mesmo do findar do século XX. O trajeto era curto, da Frei José dos Inocentes até a rua da antiga Secretaria de Fazenda, situada nas proximidades da Manaus Harbour e dos armazéns do Roadway.
Curioso como a presença dos ingleses, na Manaus dos anos 1950-1960, refletiu-se na linguagem do cotidiano e essas palavras - roadway, pier etc. - foram incorporadas ao vocabulário da época. Hoje, seus vestígios encontram-se na memória de hepta e sexagenários de todos os gêneros.
Naquelas tardes prazerosas, em que minhas irmãs Elizabeth e Lilian exercitavam seus talentos musicais - e que terminavam com a chegada de nossos pais para longas e animadas conversas na imensa sala de jantar da família Fernandes, arejada por enorme janelas que se debruçavam para um pátio a mais de 5 metros de altura, onde pombinhos e pombinhas, sob o lusco-fusco do anoitecer, recolhiam-se por entre os beirais dos telhados -, ali naquela alegre e ruidosa escola de música eduquei, sem querer, minha audição. Tornei-me um músico de ouvido, recaindo minha escolha sobre um instrumento que se toca com a alma, porque ele depende dos movimentos de inspiração e expiração: a gaita.
O mundo perdeu duas sanfoneiras, mas ganhou duas dedicadas profissionais de enfermagem. Para mim, uma das mais nobres ocupações humanas: cuidar de outrem. Para compensar as perdas, de lambuja, fruto daquele período mágico de nossa infância, a vida me fez um gaiteiro.
No momento do desaparecimento do talentoso músico paraibano - o extraordinário Sivuca -, não pude deixar de lembrar o quanto devo às minhas irmãs minha educação musical. Viva o Sivuva! Viva a Beth e a Lilian!
Escândalo
Nota: Se Tia Pátria estivesse viva, ela diria solenemente: "Tão levando a gente no pagode... isso é uma patifaria". Assino embaixo, e digo mais: estes senhores e estas senhoras perderam o senso.
Marco Aurélio Weissheimer, colunista da Carta Maior, não deixa barato.
14/12/2006
IDÉIAS
Alguém aprendeu algo com a crise política?
As falas de parlamentares justificando o reajuste de seus próprios salários na escala em que o aprovaram e na velocidade em que o fizeram revelam, de modo exemplar, que estão perdendo o vínculo com a vida real do país. Aparentemente, não aprenderam rigorosamente nada com a crise política.
Marco Aurélio Weissheimer
A decisão tomada nesta quinta (14) por líderes da Câmara dos Deputados e do Senado, reajustando os salários dos parlamentares em praticamente 100%, é um escândalo, para dizer o mínimo. Lembremos o significado dessa palavra, segundo o dicionário Houaiss: “fato ou acontecimento que contraria e ofende sentimentos, crenças ou convenções morais, sociais ou religiosas estabelecidas”. Ela deriva do grego skándalon, que significa “pedra, obstáculo que faz tropeçar, tombar”. Os parlamentares que decidiram dobrar seus próprios salários tropeçaram numa pedra chamada realidade, que parece ser algo alheio ao seu mundo, e sofreram mais um tombo feio. Aparentemente, não estão muito preocupados com os efeitos deste tombo. A decisão foi tomada rapidamente pelo chamado colégio de líderes, que aumentou o salário dos parlamentares de R$ 12.847 para R$ 24,5 mil, equiparando o valor ao teto do Judiciário. O reajuste entrará em vigor em 1° de fevereiro de 2007.
É importante registrar de saída a posição daqueles que se opuseram ao aumento: os líderes do PSOL no Senado, Heloísa Helena (AL), e na Câmara, Chico Alencar (RJ), e o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), foram os únicos que se pronunciaram contra a equiparação dos salários dos parlamentares ao dos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF). A líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC), absteve-se de votar, mas o senador Tião Viana (PT-AC), membro da Mesa do Senado, e o deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo na Câmara, defenderam o aumento. Líderes de todos os demais partidos votaram a favor do aumento. Após um rápido encontro com os líderes partidários da Câmara e do Senado, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), confirmou o reajuste de 90,7%, que será concedido por ato conjunto das Mesas da Câmara e do Senado, sem debate ou votação nos plenários do Congresso. O reajuste deve representar um gasto extra anual de cerca de R$ 1,66 bilhão aos cofres públicos, já que Estados e municípios seguem o aumento federal, gerando um efeito cascata.
Chico Alencar e Henrique Fontana defendiam um aumento entre 26 e 28%, correspondente à inflação acumulada nos últimos quatro anos. A proposta foi derrotada. Os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PcdoB) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB), ambos em campanha para reeleição nos respectivos postos, disseram que o aumento provocará “um corte de gastos”, de modo a que não ocorra um impacto negativo no orçamento.
Segundo eles, serão feitos cortes nas áreas administrativas, como reformas de apartamentos funcionais e construção de prédios para acomodar os parlamentares. Por outro lado, não deve haver corte nas verbas indenizatórias dos parlamentares, que ninguém é de ferro. Essas são as informações básicas sobre o que ocorreu na tarde desta quinta-feira no Congresso. Mas não são, necessariamente, as informações mais importantes. Vale a pena ler com atenção as justificativas dos defensores do aumento.
Um debate “realista”
Os presidentes das duas casas, por razões óbvias, evitaram dizer se consideravam esse aumento justo. Aldo Rebelo limitou-se a repetir que foi uma decisão conjunta da Mesa da Câmara e do Senado, com a presença dos líderes. Renan Calheiros, por sua vez, disse que “equiparar a remuneração dos parlamentares ao teto do Supremo resolve definitivamente o problema”. Não chegou a explicitar o problema do qual estava falando. O corregedor da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI) defendeu a decisão, dizendo que o reajuste de quase 100% dos parlamentares é justo. “Fui a favor sim. Não tenho vergonha de forma nenhuma”, resumiu. O líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira (RJ) resumiu assim sua posição favorável ao aumento: “É aviltante um deputado falar em causa própria. Não me sinto bem participando dessa reunião, mas também me sentiria pior se não participasse”.
Já o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE), ao tomar conhecimento que se havia chegado a um consenso sobre o reajuste, decidiu gastar seu latim: “Habemus, aumento!”. E o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (PSDB), defendeu um “debate realista” sobre o assunto sem “jogar para a platéia”. Como “jogar para a platéia”, a sociedade, neste caso, é se manifestar contra o aumento, o que o líder tucano disse de fato foi; “precisamos defender esse aumento de modo realista”. Difícil é saber qual é o princípio de realidade que está operando neste caso. Certamente não é aquele comum à esmagadora maioria da população brasileira, que não tem como aprovar um aumento de quase 100% de seus salários, sem maiores delongas. Certamente, tampouco é o princípio que recomenda uma necessária recomposição da imagem do parlamento e dos políticos de um modo geral, junto à sociedade. Aparentemente, para a maioria dos líderes do Congresso, o que aconteceu há bem pouco tempo no parlamento – parece que houve algo parecido com uma crise política -, na verdade, não aconteceu.
Onde está o vínculo com o real?
É importante lembrar que a decisão dos parlamentares ocorre no momento em que se começa a debater no Congresso o reajuste do salário mínimo. É importante lembrar que ela ocorre também no momento em que se arrasta pelos corredores do Congresso o debate sobre a Reforma Política. Podemos lembrar também que a operação “habemus aumento” ocorre logo após um processo eleitoral que teve a ética como um de seus temas centrais. É claro que os parlamentares têm seus problemas, como disse Renan Calheiros, que exigem um debate realista, como afirmou Artur Virgílio. As dívidas de campanha estão aí para serem pagas, há uma eleição para a presidência das duas casas, há os temas da coalizão, da governabilidade, etc., etc. O que esses parlamentares insistem em não enxergar é que se há algo que está ausente na sua conduta e nos discursos que procuram justificá-la é justamente algo parecido com um princípio de realidade. Eles permanecem de costas para a vida real da imensa maioria da população brasileira, população, aliás, da qual são representantes.
Se alguém tinha alguma dúvida de que estamos vivendo uma grave crise da representação política, está aí mais uma oportunidade para dissipá-la. Aqueles que, durante a crise do “mensalão” bradavam indignados ao país que o Congresso era a casa da cidadania e que iriam restaurar a dignidade perdida, agora defendem um “debate realista” para justificar um aumento salarial de quase 100%. E muitos daqueles que foram atingidos em cheio por essa crise seguem se comportando como se fossem portadores de uma sabedoria política estratégica de última geração que, na verdade, cada vez mais se parece com um comportamento suicida. Se os suicídios fossem individuais o dano seria menor. O problema é que eles podem arrastar junto para a cova o próprio princípio da representação e os valores que constituem a idéia de democracia.
É o caso de trazer, aqui, uma reflexão do filósofo italiano Giorgio Agamben, em seu livro “Estado de Exceção” (publicado no Brasil, em 2004, pela Boitempo Editorial): “O que a arca do poder contém em seu centro é o estado de exceção – mas este é essencialmente um espaço vazio, onde uma ação humana sem relação com o direito está diante de uma norma sem relação com a vida”. É disso que se trata, fundamentalmente. Perder o vínculo com o direito e com a vida. As falas dos parlamentares justificando o reajuste de seus próprios salários na escala em que o aprovaram e na velocidade em que o fizeram revelam, de modo exemplar, que eles perderam o vínculo com a vida real do país. Mais ainda, perderam o vínculo com a história recente do país que deixou como uma tarefa urgente para o próximo Congresso a necessidade de uma reforma política profunda que reate os vínculos dilacerados entre representantes e representados. Aparentemente, nada, rigorosamente nada, foi aprendido com a crise política. É muito triste, para dizer o mínimo, ver parlamentares do PT, do PC do B e do PSB embarcarem nesta nau suicida. Parecem também não ter aprendido nada com a crise. Parecem também ter perdido o vínculo com a vida real do país.
Palavras e exemplos
Uma última observação. No último dia 12 de dezembro, em Porto Alegre, o deputado estadual do PT, Flavio Koutzii, despediu-se da Assembléia gaúcha, com um pronunciamento de 20 minutos na tribuna. Ele decidiu não disputar a reeleição, entre outras razões, para manifestar sua contrariedade com o que aconteceu no PT, no processo da crise política – e com tudo o que não aconteceu em relação ao que aconteceu. Muita gente, dentro e fora do PT, até hoje não entende essa decisão. Mas muita gente também entendeu o gesto, não como uma expressão de desistência, mas como um brado em alto e bom tom que diz: as coisas têm limite!!! A luta política não é uma loja de departamentos onde vale tudo para vender o seu produto. Ela é uma luta que dá sentido à vida e, portanto, tem um compromisso com a verdade, com a justiça, com a lealdade e com a confiança. Um compromisso com a semeadura de exemplos e palavras. E, pelo que se viu nesta quinta-feira no Congresso, há poucas coisas que precisamos mais hoje em dia do que palavras e exemplos que não tentem justificar o injustificável e que não voltem às costas para a vida real do povo brasileiro.
Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
Publicado em http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3433&boletim_id=186&componente_id=3564
De onde vem Pirõ-Diho, Otacila Lemos Barreto?
Otacila Lemos Barreto é filha do alto Rio Negro, da etnia Tukano. Seu povo, como tantas outras etnias existentes no estado do Amazonas, luta pela demarcação dos territórios indígenas, sob forte resistência de grupos políticos e econômicos que atuam na região.
Eis os principais acontecimentos descritos pela Mestre em Geografia Humana Ivani Ferreira de Faria, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, no livro publicado pela Editora da Universidade do Amazonas, Manaus, 2003, intitulado "Território e Territorialidade - Indígenas do Alto Rio Negro", que demonstram a difícil arte de sobrevivência das nações indígenas que habitam a Amazônia:
* O massacre do Capacete, ocorrido em 14 de março de 1988 em Benjamin Constant (alto Solimões), no qual dezesseis índios foram violentamente mortos por fazendeiros;
* Manifestação da população envolvente de Benjamin Constant, em 05/12/91, contra a regularização das terras indígenas nesse município, incitada por políticos da região (A Crítica, 05/12/91);
* A declaração do ex-Governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho à imprensa local, afirmando que mandaria metralhar qualquer agente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que fosse iniciar o processo de demarcação das terras indígenas no Estado (A Crítica, 14/12/91).
Quanto às tentativas de demarcação do território indígena do Alto Rio Negro ocorridas a partir da década de 70, as negociações fracassariam devido as disparidades existentes entre as propostas dos líderes indígenas e as da FUNAI, segundo a Profa. Ivanir Ferreira de Faria.
Para ela, o não reconhecimento das reivindicações tem dois componentes inconciliáveis: para o Estado a terra indígena é um espaço homogêneo, meio de produção onde estão distribuídos recursos naturais; na concepção indígena, terra é um mosaico de recursos naturais, morais e espirituais.
Decididamente, o território indígena, além de conter dimensões sociopolíticas, também contém uma ampla dimensão cosmológica, o que não ocorre na concepção de território do Estado, afirma a Mestre em Geografia Humana, para concluir: "A importância do território está no seu significado, pois as nações indígenas do Alto Rio Negro constroem sua identidade por meio da relação mitológica que mantém com o território, considerando-o como sítio da criação do mundo".
Para a Profa. Ivanir Ferreira de Faria "a luta implementada pelos povos indígenas contra o Estado traz consigo o desafio de romper com ideologias e forças tradicionais e conservadoras e de abrir um novo horizonte para uma ordem político-territorial e principalmente ideológica, ainda embrionária no meio acadêmico e político".
Nesse cenário, é no território indígena conhecido como Cabeça do Cachorro ou Alto Rio Negro, fragmentado em quatroze terras indígenas e onze florestas nacionais que nasceu Pirõ-Diho - Otacila Lemos Barreto, a primeira Mestre indígena do Norte e Nordeste brasileiros; mais precisamente no rio Tiquié, que junto com os rios Uaupés, Papuri e Negro, constituem o denominado Triângulo Tukano, em cujas aldeias são manufaturadas a arte com fibra de tucum.
A produção de tucum como alternativa econômica dos povos do alto Rio Negro
No dia 4 de dezembro de 2006, Otacila Lemos Barreto defendeu no auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras, no campus da Universidade Federal do Amazonas, a tese de mestrado intitulada "A produção de tucum como alternativa econômica dos povos indígenas do alto Rio Negro".
Entre o público presente estavam seus parentes do Rio Tiquié, no município de São Gabriel da Cachoeira, de onde é oriunda.
O objeto da tese de Otacila, a fibra de tucum, vem colocando o município de São Gabriel da Cachoeira no mercado internacional sob a condição de artesanato indígena. Desde 2004 foram enviadas mais de 2000 cestas para a Alemanha, graças ao reconhecimento internacional da Associação "NUMIA KURÁ", que significa, na língua tukano, "grupo de mulheres". Trata-se de um grupo de 90 associadas entre as etnias do Alto Rio Negro, como Tukano, Tariana, Dessano, Pira-tapuya e Tuyuka. É a primeira organização indígena de mulheres a atuar no espaço urbano, e que trabalham com artesanto desde 1984.
A tese de Otacila problematiza a questão artesanato versus arte, bem como o processo de desmonte da cultura indígena promovida pelos religiosos salesianos e missões evangélicas - processo condenado pelo Tribunal de Haia nos anos 1980 -, que resultou num período de desvolorização da manufatura indígena. Tanto assim, que as novas gerações retomaram a produção da sua arte com o auxílio de Organização Não Governamentais. Santas Ongs!
dezembro 14, 2006
Banca de mestrado confere título de Mestre para uma indígena do Amazonas
Alfredo Wagner de Almeida e Adolfo de Oliveira
A banca de mestrado que examinou a tese da indígena tukano Otacila Lemos Barreto foi composta pelos Doutores Adolfo de Oliveira, da Associação Brasileira de Antropologia, e Alfredo Wagner de Almeida, professor de mestrado do Programa de Pós Graduação em Sociedade Civil e Cultura da Amazônia, do Instituto de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Amazonas. A orientadora da tese é a Profa. Dra. Heloísa Helena Corrêa da Silva, do ICHL-UFAM.
O número de indígenas que obtiveram títulos universitários no Brasil contam-se nos dedos. Otacilia está entre eles, sendo a primeira do Norte e Nordeste brasileiros.
Perdoem-em os politicamente corretos, motivos para celebrar não faltam: é festa para uma semana de caxiri à cuia colta.
Mestre Otacila Lemos Barreto
Ao superar os limites impostos por uma sociedade que exclui o outro estigmatizado em sua diferença, a indígena tukano Otacila Lemos Barreto enfrentou com dignidade os impactos culturais vividos no processo de instalação na cidade de Manaus, e, sobretudo, as formas de pensar da civilização ocidental. Tornou-se Mestre em Sociedade e Cultura da Amazônia, para orgulho da sua comunidade.
Desde que o Prof. Dr. Narciso Lobo e a Profa. Dra. Elenise Scherer, como chefes de departamento do Instituto de Ciências Humanas e Letras, propuseram o oferecimento de cotas para a população indígena, em respeito à legislação federal vigente, as vagas só seriam ocupadas algum tempo depois da sua propositura. Quatro candidatos se apresentaram: 2 de etnia baré e 2 de etnia tukano, entre eles Otacila.
O grau de dificuldade para a adaptação de um aluno indígena em cursos de mestrado é tanto maior quanto menor for a oferta de apoio concreto por parte da Universidade. A Universidade Nacional de Brasília - UNB é a única que oferece uma Casa do Apoio Pedagógico para os Indígenas com equipe multiprofissional, o que dá direito, inclusive, a assistência psicológica. Um exemplo a ser seguido.
Por essa e por outras, Otacila é uma vencedora.
Pirõ-Diho defende tese na Universidade Federal do Amazonas e se torna a primeira Mestre indígena do Norte e Nordeste do Brasil
Ritual indígena na abertura da defesa de tese
4 de dezembro de 2006. Para Pirõ-Diho, ou Otacila Lemos Barreto, um dia glorioso na sua trajetória acadêmica, desde que entrou na Universidade Federal do Amazonas, num curso de licenciatura, na cidade de São Gabriel da Cachoeira, no alto Rio Negro, afluente do Rio Amazonas. Nesse dia obteve o título de mestre pela Universidade Federal do Amazonas, ao defender tese no Programa de Pós Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia - PPGSA.
Para a Prof. Dra. Heloísa Helena Corrêa da Silva, orientadora da tese, um dia muito especial: a Universidade Federal do Amazonas conferiu o título de mestre a uma indígena, estabelecendo um marco da política de cotas do governo Luís Inácio Lula da Silva. O fato é inédito, pois trata-se da primeira indígena do Norte e Nordeste brasileiros a ir tão longe em sua vida acadêmica.
Conosci Astrid? (2)
Astrid Lima e Cibele, durante as filmagens sobre a vida do conde Ermano Stradelli no Amazonas.
NOTA: Astrid Lima recupera a língua pátria e revela, na velha e boa língua portuguesa, o porquê de tanta alegria com sua última cria, dela e de Andrea Palladino: "Parintins, a Ilha dos Contrários". Como dizem os materialistas: leia com esses olhos que a terra há de comer.
Acabamos de participar do II Castelli Film Fest (http:// www.castellifilmfest.it/), um festival de Cinema que acontece numa região limitrofe de Roma chamada Castelli Romani e que compreende várias cidades, algumas delas muito mais antigas que a própria Roma.
Nessa segunda edição, que teve por tema Direito Humanos e Ambiente, estiveram presentes representantes de importantes Festivais latino americanos e italianos, como o Derhumalc - Festival de Direitos Humanos da Argentina (http://www.derhumalc.org.ar/) e o Festival di Cinema e Ambiente de Turim, um dos principais da Europa sobre a temática ambiental (http://www.cinemambiente.it/).
O júri, composto por operadores culturais, arquitetos, expertos de cinema e teatro, jornalistas, diretores, roteiristas e produtores cinematográficos premiou em primeiro e segundo lugar respectivamente:
- "Primavera in Kurdistan" - (França/Itália - 80') - No novo Iraque, após a o fim de Saddan Hussein, os curdos iniciam uma nova era na luta pelo reconhecimento da identidade e os direitos do povo curdo na Turquia. O documentário conta a viagem ao lado do PKK (partido independente curdo, norte do Iraque) através de lugares maravilhosos, transcorrendo alguns dias em um campo de adestramento feminino - onde as combatentes se preparam para a luta pela liberdade - até a fronteira com a Turquia, onde os guerrilheiros prosseguem o próprio destino.
- "Mitumba" - (Itália - 54') - A camiseta de um menino alemão de 10 anos termina na colheita de roupas usadas: dali parte para uma viagem que conduzirá ela através de dois continentes: doada, depois recolhida, depois vendida várias vezes até chegar, no final do seu percurso, nas mãos do seu novo e último proprietário: Lucky, uma criança de 9 anos que vive em uma cidadezinha perdida da Tanzânia. Personagens, lugares e eventos criam um enredo no qual passa a via do comércio das roupas usadas, uma via tortuosa e ainda desconhecida que revela uma surpreendente realidade.
Além deles foram feitas duas Menções Especiais do júri: a primeira para o documentário "Parintins, a Ilha dos Contrários" (UK/Itália 58') e a segunda para "As águas de Nashipur" (Itália 9'), que conta a situação da água em uma aldeia situada a 200 km de Calcutá que é contaminada por um altíssimo percentual de fluor. Nesse trabalho o autor, junto a um jornalista, recolhe o depoimento de algumas pessoas com fluor, revelando um drama que se consome em silêncio, na indiferença geral.
Esse degrau conquistado me fez relembrar Nestor, o meu principe Nagô; me recordou que a Amazônia tem os instrumentos para relacionar-se como igual nesse complexo mundo contemporâneo, e, por um momento, ali, eu, que não posso acreditar numa vida após a nossa mas porto sempre comigo o nosso sincretismo, vi naquela sala da cidade de Ciampino, o Nestor, a dona Alice e o velho Gaúcho que nos observavam. Atrás deles um boto completava um salto gracioso.
Um beijo,
Astrid
Allende vive!
Nota: Geraldo Peixoto, companheiro da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, envia o poema abaixo, de autoria do poeta uruguaio Mario Benedetti, sobre a morte do general Augusto Pinochet que liderou a mais sangrenta ditadura da América Latina, depois de um golpe de estado perpetrado em 11 de setembro de 1973. Naquele dia, o médico socialista Salvador Allende, presidente dos chilenos, eleito democraticamente, morre em defesa do palácio presidencial - Palácio de la Moneda.
Naquele período, no Brasil, a ditadura do general Emílio Garrastazu Médici cometia atrocidades contra os opositores do regime militar, vitimando inúmeros companheiros da esquerda brasileira. Parte da esquerda sobrevivente se tornaria aliada do companheiro presidente Luís Inácio Lula da Silva, em sucessivas companhas pela presidência da república. Lula, por sua vez, ainda não se decidiu pela abertura dos arquivos da ditadura militar, numa demonstração do que o país está longe de acertar as contas com o seu passado, com afirmava Sérgio Buarque de Holanda, um dos nossos mais importantes historiadores brasileiros, que foi, também, crítico literário e jornalista.
Para a doutora em sociologia pela USP Maria José de Rezende: "Os que defendem a abertura dos respectivos arquivos são aqueles que desejam ver esclarecidos muitos fatos nebulosos que ainda pairam sobre as ações repressoras daquele momento. O acesso aos documentos daria, até mesmo, uma melhor dimensão da estrutura repressiva que foi montada pelo regime militar. Revelaria o quão complexa foi tal estrutura e como ela envolvia muitos civis, além dos próprios militares, nessa tarefa de coagir, de amedrontar, de ameaçar, de espionar, de torturar, de chantagear, de silenciar, de amordaçar e de eliminar aqueles que eram considerados não-confiáveis pela ditadura".
Sobre o golpe de estado no Chile de Allende, lembro-me, com horror, a notícia que circulou na Faculdade de Ciências da Saúde, onde cursava o segundo ano do curso de medicina: o músico e cantor Victor Jara, de etnia mapuche, tivera as mãos decepadas no Estádio Nacional do Chile, que havia se transformado num grande campo de concentração dos presos do general ditador. Trinta anos depois do golpe militar, em 2003, o mesmo estádio de futebol, onde fôra torturado e assasinado, passou a chamar-se Estádio Victor Jara. Saiba mais sobre este músico, cantor e pesquisador do folclore chileno, autor de Canto por Travesura, no depoimento de uma brasileira que reside no Chile e que assistiu um show inesquecível, numa noite fria de maio de 2004, em sua homenagem (http://www.cordal.cl/nosnochile/VictorJara.htm).Às novas gerações, uma síntese da biografia do grande Salvador Allende, publicado em http://www.vidaslusofonas.pt/salvador_allende.htm :
Salvador Allende
(Valparaíso, 1908 - Santiago, 1973)
Político chileno. Estuda Medicina, mas dedica toda a sua vida ao exercício da política. Em 1933 é um dos fundadores do Partido Socialista Chileno, de cujo grupo parlamentar faz parte entre 1937 e 1946. Entre 1939 e 1942 é ministro da Saúde; 1943 é o ano em que assume a direcção do partido. Perde as eleições presidenciais de 1952, 1958 e 1964, atinge em 1970, como candidato de uma coligação de esquerda, a presidência do Chile.
A sua política, a chamada «via chilena para o socialismo», pretende uma transição pacífica para uma sociedade mais justa, de raiz socializante. Nacionaliza os bancos, as minas de cobre e algumas grandes empresas, e enfrenta pressões políticas norte-americanas. Apesar das gravíssimas dificuldades económicas, a referida coligação obtém 43% dos votos nas eleições legislativas de 1973. Em Junho desse mesmo ano ultrapassa uma tentativa de golpe de Estado, mas numa nova intentona, em Setembro, os militares de direita, chefiados pelo general Pinochet, derrubam-no. Allende morre durante o golpe, na defesa do palácio presidencial. Após a sua morte, o regime democrático é extinto e o país sofre um terrível banho de sangue.
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OBITUARIO CON HURRAS
Mario Benedetti (poeta uruguaio)
Vamos a festejarlo
vengan todos
los inocentes
los damnificados
los que gritan de noche
los que sueñan de dia
los que sufren el cuerpo
los que alojan fantasmas
los que pisan descalzos
los que blasfeman y arden
los pobres congelados
los que quieren a alguien
los que nunca se olvidan
vamos a festejarlo
vengan todos
el crápula se ha muerto
se acabó el alma negra
el ládron
el cochino
se acabó para siempre
hurra
que vengan todos
vamos a festejarlo
a no decir
la muerte
siempre lo borra todo
todo lo purifica
cualquier día
la muerte
no borra nada
quedan
siempre las cicatrices
hurra
murió el cretino
vamos a festejarlo
a no llorar de vicio
que lloren sus iguales
y se traguen sus lágrimas
se acabó el monstruo prócer
se acabó para siempre
vamos a festejarlo
a no ponermos tibios
a no creer que éste
es un muerto cualquiera
vamos a festerjarlo
a no volvermos flojos
a no olvidar que éste
es un muerto de mierda
dezembro 12, 2006
Adeus, Pátria amada!
Pça dos Remédios, Manaus-AM, 1958
Tia Pátria, aos fundos, e seu sobrinho
Rogelito, no primeiro plano.
Adeus, Pátria amada!
Aos 85 anos, acaba de desaparecer o último ícone da Praça dos Remédios: Pátria Barbosa, minha tia. Por insistência, morreu no mesmo lugar em que viu desaparecer, com a instalação da Zona Franca de Manaus, sua comunidade de origem, composta por uma minoria de portugueses e uma grande maioria de sírio-libaneses.
Como não se valer do único bálsamo oferecido pela cultura cristã, tão pródiga em imagens poéticas, para aliviar a dor da perda dos nossos entes queridos? Embora Tia Pátria, nem de longe lembre a Irene de Manoel Bandeira, que tão logo morreu foi imortalizada em versos singelos, certamente é no céu dos cristãos que ela finalmente encontrará o descanso eterno.
Merecido descanso para quem enfrentou uma vida dura com a morte do meu avô, o imigrante português Antônio Barbosa, funcionário da firma J.G. Araújo & Cia. Ltda. O nome de batismo dado por ele – Pátria –, mais do que um símbolo nostálgico da terra amada foi um marco no qual ergueu-se uma forte personalidade que nunca esmoreceu diante das adversidades.
A imagem do pai amoroso foi transmitida aos cinco sobrinhos que ajudou a criar. Como não se enternecer com a história contada e recontada ocorrida em 21 de maio de 1936, quando, ao completar 15 anos de idade, recebeu de presente um vestidinho novo e um passeio de catraia pela baía do Rio Negro? Em sua companhia, a irmã Luzitânia e o pai querido, que morreria cinco meses depois.
Como não lembrar de uma Manaus que seus sobrinhos ainda alcançaram, nos anos 1950-1960, no relato de suas caminhadas pelos arrabaldes da cidade na companhia do pai? Fins de semana inesquecíveis, registradas para sempre na sua alma de menina-moça, época em que a cidade possuía invejável qualidade de vida, com igarapés límpidos e gelados. No trajeto de bonde para Flores, nas agradáveis manhãs de domingo, parada obrigatória, após a travessia da ponte dos Bilhares, no local que passaria a ser conhecido por Chapada Recreativa Clube (atual Clube Sírio Libanês) - balneário que o pai ajudou a construir com a comunidade sírio-libanesa.
Todos os seus sobrinhos apreciam uma qualidade reconhecida por quantos a conheceram: a mulher de fibra que ela foi. O arquiteto João Bosco Chamma, meu amigo de infância, diz que com um pouco mais de estudo e ela seria uma executiva admirável.
Fibra não lhe faltou para enfrentar mais uma perda, a da irmã Luzitânia, atingida por tuberculose, uma doença da pobreza. Fibra não lhe faltou para atravessar os anos difíceis da 2ª. Guerra Mundial quando eram escassos os gêneros alimentícios, obrigando a família a alimentar-se de borrachos (filhotes de pombo). Fibra não lhe faltou quando, em 1953, no ano que nasci, com a morte da mãe, Tereza de Jesus Barbosa, também imigrante portuguesa, manteve a banca de tacacá que desde os anos 1940 garantia o pão na mesa da modesta casinhola, na rua dos Barés, onde nasceu e morreu - única herança material deixada pelo pai querido.
Sua banca de tacacá foi referência na Praça dos Remédios até o final dos anos 1960. Através dela educou sua irmã Tereza Barbosa, minha mãe, na Escola Normal do Amazonas (atual Instituto de Educação). Através dela ouviu histórias que lhe enriqueceram a sensibilidade. Através dela serviu quase três gerações de descendentes sírio-libaneses, além dos estudantes que freqüentavam a Faculdade de Direito, onde fez muitos amigos. Através dela, construiu uma consciência política exemplar e foi, ao seu modo, uma espécie de terapeuta popular.
Mulher de comunicação espontânea, nunca seus amigos políticos, desembargadores, arquitetos, médicos, advogados estranharam a invulgar saudação: “Como vai, seu salafra?” Reunidas essas qualidades - a da comunicadora espontânea, da ouvinte atenta, da cuidadora solidária, não foi à toa que dos seus saíram novos cuidadores e comunicadores, todos muito orgulhosos da origem trabalhadora de Tia Pátria. Adeus, Pátria amada, querida!
Manaus, Dezembro de 2006.
Rogelio Casado, psicoterapeuta
Coordenador do Programa Estadual de Saúde Mental
E-mail: rogeliocasado@uol.com.br
Rio de Janeiro-RJ - III Encontro: A Medicina Baseada na Narrativa
III Encontro: A Medicina Baseada na Narrativa
O III Encontro do Fórum de Psiquiatria e Saúde Mental será realizado no dia 11 de dezembro às 20hs no auditório do Instituto Phillipe Pinel.
O tema debatido será A Medicina Baseada na Narrativa, apresentado pela Prof. Dra. Alicia Navarro (professora de Psicologia Médica do HU/UFRJ e chefe do departamento de psiquiatria e medicina legal da Faculdade de Medicina da UFRJ).
Esse tema dá continuidade à discussão sobre a Psiquiatria Baseada em Evidências.
Mais informações e textos de referência em www.forumpsi.blogspot.com
São Paulo-SP: Premiação Arthur Bispo do Rosário
Premiação Arthur Bispo do Rosário – obras de arte no Metrô República
No dia 12 de dezembro, às 13h30, haverá a entrega do prêmio IV ArthurBispo do Rosário aos três primeiros colocados de cada uma das quatro categorias (esculturas/instalações, pinturas/artes plásticas em geral, fotografias/imagens e poesias/textos).
Para esta edição, foram inscritas 891 obras, um recorde na história do Prêmio. Já é possível conferir no site do CRP S (www.crpsp.org.br) quem são os quarenta selecionados - dez em cada categoria - para a exposição na Estação República do Metrô.
A solenidade de premiação acontecerá no Teatro Fernando Azevedo, que fica na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Praça da República, 53, próximo ao metrô República. A entrada é pelo portão 4 (av. São Luiz).
As obras estarão expostas após o evento a partir do dia 12 na Estação República do Metrô, a partir do dia 12 de Dezembro de 2006.
Esculturas e instalações, pinturas e artes plásticas, fotografias, poesias e textos de artistas usuários de serviços de saúde mental do Estado de São Paulo serão apresentados nessa exposição.
O Prêmio Arhur Bispo apresenta à sociedade, por meio dela, a condição de cidadania e a potência de criação e de vida para além da condição de sofrimento psíquico das pessoas, permitindo a revisão dos preconceitos que sustentam formas diversas de exclusão e apresentando um convite ao encontro com a diversidade.
Fortaleza-CE: CAPS 1000
NOTA: Leia mensagem encaminhada por Sandra Fagundes do Rio Grande do Sul, em que ela comemora um marco da Reforma Psiquiátrica brasileira e pede que a boa nova seja espraiada por todos os recantos do país. Como entre os mentaleiros que se prezam o desejo de Sandra é Lei, aproveito essa garrafa de mensagens cibernéticas e mando a notícia para a sua praia.
O Ministério da Saúde e a Prefeitura de Fortaleza inaugurarão no dia 18/12 o milésimo Caps do Brasil!
É uma marca afirmativa da reforma psiquiátrica brasileira: são 1000 serviços;
são milhões de brasileiros com um serviço de saúde mental no seu território;
são milhares de trabalhadores assumindo o desafio da construção de coletivos singulares;
é um Caps Ad, materializando a atenção ao problema por parte de gestores públicos federais e municipais;
é mais uma mudança na cartografia da rede de serviços da reforma psiquiátrica, pois Fortaleza passa a contar com 10 Caps no município e, portanto, com uma das melhores relações entre serviços/população das capitais.
Parabéns, a todos que defendem a reforma
a luta e os desafios continuam.
abraços mentaleiros
Sandra Fagundes
dezembro 11, 2006
Carta Aberta ao Governador Reeleito do Estado do Amazonas
NOTA: No dia 5 de Dezembro, em todo o país a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, através das entidades filiadas, entregou para os governadores eleitos e reeleitos, e ao Presidente da República, uma Carta Aberta em que reconhece os avanços e as limitações da Reforma Psiquiátrica brasileira.
Em Manaus, enquanto o governador do estado do Amazonas, Eduardo Braga, recebia em seu gabinete a presidência do Banco Mundial, a Associação Chico Inácio era recebida pelo Chefe da Casa Civil, Dr. José Pacífico, que recebeu das mãos do Presidente Aderildo Guimarães a Carta Aberta ao Governador Reeleito do Estado do Amazonas, onde estão expressas as expectativas sobre o seu segundo mandato.
Leia abaixo o conteúdo da Carta Aberta.
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ASSOCIAÇÃO CHICO INÁCIO
(ASSOCIAÇÃO AMAZONENSE DO CAMPO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CHICO INÁCIO)
Praça Santos Dumont, 15 – Centro – CEP 69.020-550 – Manaus-AM
FUNDADA EM 18 DE MAIO DE 2004
CNPJ – 06.925.907/0001-48
Filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial
Site: www.picica.com.br E-mail: chicoinacio2004@yahoo.com.br
Manaus - Amazonas
Carta ao Governador Reeleito do Estado do Amazonas
POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS, AGORA MAIS DO QUE NUNCA
Manaus, 05 de dezembro de 2006.
O povo amazonense fez sua escolha, reconduzindo-o ao governo do estado. Se o fez é porque sabia que estava em jogo interesses populares legítimos, que não aceitavam o retrocesso representado pelo seu opositor. Embora impedidos estatutariamente do exercício partidário da política, não podemos nos abster de nos manifestarmos politicamente quando ações de governo vão ao encontro de interesses coletivos. É o que fazemos agora como entidade que defende uma nova ética na relação da sociedade com a loucura, na construção dos direitos de cidadania historicamente negados aos portadores de transtorno mental.
O seu governo, diferentemente do seu antecessor que ao ocupar o Executivo por três mandatos não investiu um centavo sequer na expansão da rede de serviços de saúde mental, tampouco aumentou o número de profissionais exigidos para as demandas de uma cidade que progressivamente vem aumentando sua população, soube, desde os primeiros momentos, respeitar todas as nossas manifestações (abraços simbólicos na Assembléia Legislativa, no Teatro Amazonas e no Palácio Rio Negro, além das Paradas do Orgulho Louco). Do simbólico às ações práticas, temos o que comemorar.
Ao reconhecer os acertos do seu governo na anunciada substituição do Hospital Psiquiátrico por um Hospital de Clínicas, mantendo os leitos de psiquiatria para emergência; na implantação da Residência Médica em Psiquiatria; na criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial da cidade de Manaus (CAPS), embora a legislação defina o Poder Público Municipal como responsável pela sua implantação, não podemos deixar de lhe dar mais um voto de confiança diante da gigantesca tarefa de tirar o Amazonas do vexatório atraso a que sua Reforma Psiquiátrica foi submetida por todos os anos 1990.
Estamos certos de que seu compromisso, firmado conosco por ocasião da inauguração do Centro de Atenção Psicossocial Silvério Tundis, de dotar o estado do Amazonas de uma legislação em saúde mental, capaz de igualar-se a outros estados da federação que têm legislação própria, será mais do que um marco de governo, será uma vitória do povo amazonense na luta por uma sociedade sem manicômios.
Não podemos deixar de mencionar os avanços da Reforma Psiquiátrica no plano nacional, quando o governo federal, suportando pressões de toda sorte, ainda assim conseguiu chegar à marca de quase 1000 Centros de Atenção Psicossocial, fechando quase 20.000 leitos psiquiátricos, reduzindo o poder da indústria da loucura em nosso país. Igualmente, não podemos nos esquecer da lei "de volta pra casa", outra importante conquista. Temos motivações para estarmos felizes, porque temos avanços a comemorar.
Entretanto, se temos razões para reconhecer os avanços, temos razões para crê-los muito tímidos, tal foi o legado que seu governo recebeu do seu antecessor. Basta lembrar que, até a presente data, Manaus não possui um CAPS sequer para tratar dos problemas da infância e da adolescência, nem CAPS para abordar os problemas do uso de álcool e outras drogas; no interior do estado, apenas dois CAPS foram implantados, num universo de mais de 60 municípios, dos quais 16 são pólos de saúde. Igualmente, inexistem Centros de Convivência para a prática de esporte e lazer, atividades artísticas e programas de geração de renda.
Vencida a primeira etapa – a etapa residual de anos de indiferença institucional – queremos ajudá-lo a reavaliar qual o melhor caminho rumo a uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva, rumo à cidadania para todos, a uma sociedade sem manicômios. Para isso, é necessária a avaliação e a correção dos erros cometidos.
Acreditamos que seu segundo mandato trará novos investimentos para a área de saúde mental do estado do Amazonas, e como estamos certos de que não existe política de saúde que se sustente, especialmente quando ela contraria interesses econômicos e corporativos, conte com nossa vigorosa atuação em defesa de uma sociedade mais justa, mais fraterna e que faça caber o louco na nossa cultura. Como afirmam nossos companheiros da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, à qual somos filiados, somos muitos a apostar na liberdade, na alegria de viver, na democracia e na cidadania.
Atenciosamente,
Aderildo Guimarães
Presidente da Associação Chico Inácio
ASSOCIAÇÃO CHICO INÁCIO
1. Apostar no homem e na decisão do seu desejo;
2. Construir uma outra consciência social;
3. Defender a solidariedade da ação coletiva.
dezembro 10, 2006
Conosci Astrid?
Astrid Lima, manauara do bairro de N.S. Aparecida, casada com Andrea Palladino, mãe de Matteo, reside na Itália há mais de 20 anos. Junto com Andrea tem produzido e dirigido filmes com temáticas amazônicas. Desgraçadamente, os amazonenses ainda não conhecem uma das suas obras-primas, intitulado L'Acqua invisibile, sobre o drama da escassez de água nos bairros periféricos de Manaus. Solo per curiositá: Dio mio, Dov'è TV Cultura?
No último dia 6 de dezembro, no I Mostra Amazônica do Filme Etnográfico - realização da Universidade Federal do Amazonas - quem foi lavou a égua. Finalmente os manauras puderam assistir uma outra obra prima: L'Isola dei Contrari.
Astrid está exultante. Leia o que ela escreveu sobre. Antes, porém, um recadinho: "Se liga na fita, Astrid! Ainda escreves em português?"
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Olè, olè, olè, olè,olè, OLà!
Scusate se inizio in un modo poco ortodosso (per i miei stessi standard ) però mi sto concedendo qualche momento di sana felicità (il che, da una brasiliana atipica come me è, come minimo, curioso...).
No, oggi nessuna critica ai mali politici, all'ossigeno modesto della praxis italiana, alla nostra (ormai, ahimé, mi sento italiana) incapacità di prendere la vita per il petto e portarla oltre.
Abbiamo ricevuto la menzione speciale ai Castelli Film Fest per il documentario "L'Isola dei Contrari" ed è stato ahhh, è stato bello.
Non è una questione di vanità, chi di voi mi conosce sa che evito con cura certe sciocchezze. Il documentario è un spaccato di Amazzonia, di quella realtà che, come le rive di alcuni fiumi amazonici, non ha ancora trovato una stabilità, non si è ancora sedimentato. Una Amazzonia sovrapposizione di concetti, di modi di essere radicalmente contraddittori che ha ben poco a che vedere con l'esotismo e l'idealismo di alcune letture.
Una volta un carissimo amico che non è più tra di noi mi ha detto che ogni volta che sembravo aver trovato un percorso definitivo ritornavo facendo tutt'altra cosa, opposta, diversa.
Ecco, questo gradino a Ciampino ieri sera mi ha fatto ricordare il mio amico, principe Nagô, militante dalla lotta contro il pregiudizio razziale in Brasile, mi ha fatto ricordare che l'Amazzonia ha gli strumenti per rapportarsi alla pari con questo complesso mondo contemporaneo e per un momento io, che non posso credere ad una vita dopo questa ma sono brasiliana, ho visto Nestor, Alice, Gaucho, che guardavano quella piccola sala, dietro loro il delfino amazzonico compiva un salto grazioso :)
baci a tutti
Astrid
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dezembro 09, 2006
Sociedade Civil versus Congresso Nacional
NOTA: Leia a Petição abaixo, e, se você for tomado por indignação, tasque sua assinanatura no abaixo assinado CONTRA AUMENTOS dos salários dos nossos Representantes no Congresso Nacional.
Para assinar:
1) Entrar no link 3) Rever como ficou sua assinatura (Preview Your Signature)
4) Clicar no aprovar a assinatura (Approve Signature)
http://www.PetitionOnline.com/oeleitor/petition.html
"A SOCIEDADE CIVIL PROTESTA CONTRA A INTENÇÃO DE AUMENTO DE 90,7% SOBRE OS SALÁRIOS DOS REPRESENTANTES DO POVO BRASILEIRO NO CONGRESSO NACIONAL".
Aos representantes do povo brasileiro no Congresso Nacional:
Os signatários desta Petição, integrantes da sociedade civil brasileira, vêm manifestar a Vossas Excelências protesto relacionado à proposta de aumento de 90,7% em seus próprios vencimentos.
Num país em que grande contingente da população é obrigada a viver com um salário-mínimo de R$ 350,00 (2,7% de seus salários atuais); onde aqueles que ganham acima de R$ 1.250,00 já são considerados classe média, situando-se entre os que terão sua renda taxada por imposto de 15%, onde os projetos sociais, como o Bolsa Família e o acesso universal à saúde e a educação são comprometidos pelos parcos recursos públicos , é vergonhoso, que, logo após "a festa da democracia" materializada nas eleições, os representantes do povo brasileiro ousem colocar este assunto em pauta de votação - pior é, ainda pensar, que poderá ser aprovado.
Passamos um ano inteiro vendo os projetos de lei de interesse do povo trancados na pauta de votação, pelo motivo de estar o Congresso Nacional debruçado sobre si mesmo, em apuração de denúncias internas de corrupção e falta de decoro parlamentar, logo, não podemos aceitar tal pretensão em relação aos vossos rendimentos.
Estaremos atentos e monitorando os que estiverem a favor do que consideramos um absurdo, estejam certos disso.
Deixamos registrado, através desta petição, o protesto da sociedade civil brasileira inconformada com esta manobra oportunista e repulsiva, um verdadeiro acinte à dignidade e à honradez do povo brasileiro.
E se, como desculpa para esta aprovação, vocês nos dirão que estão sendo pressionados pelo Poder Judiciário, o primeiro a reivindicar tal aumento, lhes dizemos em alto e bom som que também somos contrários.
Insensatez no Mato Grosso
Insensatez no Mato Grosso
O Parque Estadual Cristalino, Municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, Mato Grosso, é reconhecido no Brasil e internacionalmente, como um dos melhores destinos de ecoturismo. Isto ocorre graças à visão de longo prazo dos proprietários do Cristalino Lodge que investiram em um empreendimento em que a qualidade se encontra com a sustentabilidade, além de projetos de conservação em uma região de alta biodiversidade e chave para proteger a Amazônia.
O que está acontecendo?
A Assembléia Legislativa do Estado está estudando um substitutivo de projeto de lei que, na prática, reduz a área sob proteção ambiental no Parque Estadual Cristalino em 14%. A redução beneficiaria fazendeiros locais, numa área sob forte pressão de desmatamento. Um dos apoiadores da medida é o presidente da Casa e vice-governador eleito do Estado, Silval Barbosa (PMDB).
Todos perdem...
A aprovação do substitutivo para atender a insensatez de alguns que só pensam no próprio benefício significa que:
o Brasil perde,
a Amazônia perde,
o Mato Grosso perde,
Alta Floresta e Novo Mundo perdem,
a área de Cristalino perde.
Como você pode ajudar?
Assinando o Manifesto:
http://www.ecobrasil.org.br/cristalino/noticia_cristalino.htm
Roberto M.F. Mourão
roberto@ecobrasil.org.br
EcoBrasil
http://www.ecobrasil.org.br/
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NOTA: Leia o que já dizia o Grupo de Observadores da Natureza - GON - sobre o Parque Estadual Cristalino: http://www.aultimaarcadenoe.com/gonatividade4.htm
O jogo pesado do poder
Nota: Segundo o sociólogo Marcelo Seráfico reflexões como a do jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto aplicada aos jornais de província ajudam a entender um pouco do porquê das posições assumidas nas eleições.
A hipótese do Lúcio Flávio é intrigante: a hostilidade ou fraternidade das empresas de comunicação para com os governos têm a ver com o grau de dependência de suas estratégias de expansão em relação às verbas públicas.
Para Marcelo Seráfico, vale a pena pensar no assunto e dedicar algum tempo para levantar informação sobre ele. Se é que isso ainda não foi feito, arremata.
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O LIBERAL, 60 ANOS
O jogo pesado do poder
Por Lúcio Flávio Pinto em 5/12/2006
Reproduzido do Jornal Pessoal nº 380, 2ª quinzena de novembro/2006
A trajetória de O Liberal, que no dia 15/11 chegou a 60 anos, pode ser dividida em três etapas, exatamente iguais até agora: 20 anos (1946-66) como jornal de partido, o PSD de Magalhães Barata; 20 anos (1966-86) sob o comando pessoal de Romulo Maiorana; e 20 anos (1986/2006) mantido pelos herdeiros, à frente dos quais está o mais velho dos dois filhos homens, Romulo Maiorana Júnior.
A novidade, depois da data do 60º aniversário, é que a terceira fase pode se tornar mais longa do que as anteriores. No curso dos próximos anos a corporação ainda terá que responder a um desafio que se impôs com a morte de Romulo. Ele carregou o bastão de passagem entre uma etapa e a outra, mas não concluiu o item fundamental para sua obra prosseguir depois de seu afastamento: a profissionalização da empresa.
Em contínua atividade, impondo-se sempre novos desafios, Romulo não teve tempo nem disposição para preparar convenientemente a profissionalização da sua empresa familiar, que criou e transformou numa fonte de poder no Pará. Surpreendido por uma doença feroz, dedicou seus últimos meses a azeitar as engrenagens para que elas continuassem a funcionar sem maiores entraves: deixou dinheiro em caixa, obrigações em dia e um plano de expansão em andamento.
Graças a essas providências, não houve problema de continuidade quando ele morreu, em abril de 1986. O Liberal continuou a crescer, principalmente pela via da modernização industrial, e pela incompetência dos seus concorrentes (o que já fora decisivo quando Romulo, assumindo o mais fraco dos jornais diários, colocou-o no topo do ranking cinco anos depois). Mas em vez de complementar essa ousadia em investimentos em capital fixo com aplicações em material humano e em consistência administrativa, o jornal passou a usar seu incontestável poder de pressão para extrair receitas crescentes do poder público, em especial do governo do estado.
A fórmula que garantiu uma expansão constante da empresa em meio a tantas crises ao redor revela mais uma vez a sua fragilidade: as poderosas e impressionantes Organizações Romulo Maiorana se tornaram patologicamente dependentes de verbas públicas de publicidade e assemelhadas, em grandes doses.
Essa dependência já se manifestara quando Jader Barbalho assumiu pela segunda vez o governo do Pará, em 1991. Depois de sofrer uma campanha sistemática e agressiva, tentou retaliar os Maiorana, que o boicotavam, fechando o caixa do tesouro. Mas, aos poucos, acabou cedendo às exigências. Pragmaticamente falando, não tinha escolha: qual a outra alternativa, num mercado de virtual monopólio, como o da imprensa paraense naquela época (98% dos leitores de jornal liam O Liberal, dizia a propaganda, que, já então, talvez fosse mesmo enganosa, mas ninguém conferiu)? O império Maiorana ganhou essa batalha, depois de perder a guerra eleitoral.
Manipulação de informações
O segundo momento se apresentou quando Edmilson Rodrigues, então no PT, assumiu a prefeitura de Belém pela primeira vez, em 1997. Ele tentou seguir o caminho de ataque de Jader Barbalho, mas acabou retornando pelo mesmo caminho de composição: provavelmente concedeu ao império ainda mais verba do que seu antecessor, Hélio Gueiros, que era um aliado, mas deixou cascas de banana na rota de saída do Palácio Antônio Lemos (que o novo alcaide precisou recolher, a peso de ouro).
Nos três entreveros seguintes – com a Rede/Celpa, o Banco da Amazônia e a Companhia Vale do Rio Doce, três das mais poderosas empresas em atuação no Estado – os Maiorana também se saíram bem. A CVRD, que chegou a contestar judicialmente a cobrança de um título supostamente não pago (sem o endosso do emitente) apresentado em nome de Delta Publicidade. A Vale replicou com uma ação de indenização, algo inédito nos anais do grupo Liberal, recuou, fez acordo, voltou a despejar publicidade nos veículos e nunca mais tocou nas demandas em juízo, que dormem a sono solto na 8ª e na 18ª varas cíveis de Belém.
Reforçados pela sensação de onipotência extraída desses episódios, os Maiorana podem se sentir acima do bem e do mal, tudo – digamos assim – podendo. Calafetaram as rachaduras, pintaram as manchas, amarraram os locais soltos e colocaram sua fé numa impressora alemã de última geração, comprada por 10 milhões de euros sem a necessidade de aval. "Preparado", o espelho jamais revelaria a nudez do rei. Ele seria o rei da cocada preta, não o da quitanda, como querem os maledicentes e invejosos.
O primeiro imprevisto grave na manutenção desse plano de poder surgiu com a necessidade de desfiliação ao IVC (Instituto Verificador de Circulação). Apesar de a corte se recusar a admitir que o traje do rei é, na melhor (ou na pior) das hipóteses, invisível, já não é mais possível deixar de vê-la quando o traje bonito não é mais refletido pelo espelho "trabalhado".
O Liberal deixou de ser o líder absoluto no mercado de jornais, como proclamava. Mantém o primeiro lugar, mas a uma distância pequena do seu perseguidor, o Diário do Pará, que continua evoluindo, embora ainda não tanto quanto devia ou podia (se não, teria substituído o concorrente no IVC e, à queda, desferido o coice, se a tanto pudesse se credenciar).
Se a aparência de O Liberal ainda é melhor, em conteúdo não há diferença destacável. O crescimento do jornal do deputado federal Jader Barbalho é tão categórico que crescem os boatos sobre uma parceria dele com a CVRD – negócio que não é apenas eleitoral (a companhia foi a maior financiadora de campanhas na última eleição no Brasil). Quando sofreu combate cerrado nos veículos da família Maiorana, a Vale do Rio Doce fez sondagens cautelosas sobre uma "terceira via" na imprensa diária paraense, que estaria disposta a patrocinar, por becos e travessas.
O resultado não foi animador: a empresa acabou tendo que aceitar os termos da rendição. Mas um homem inteligente, decidido e pragmático como Roger Agnelli, o plenipotenciário presidente da Vale, não deve ter gostado da fragilidade da sua posição junto à opinião pública do Estado mais decisivo para os seus propósitos de grandeza. Daí a insistência das versões que dão como certa uma parceria CVRD-Grupo RBA – por baixo dos panos, naturalmente.
De objetivo, porém, há apenas a veiculação de publicidade no grupo barbalhista, o que não é pouco, e a troca de gentilezas entre os dois personagens. Deixou de haver favorecimento ao grupo Liberal, sempre tendente a cobrar privilégios em função do seu poder (de falar ou silenciar). O efeito de mais esse ponto negativo para o império Maiorana se acentuou com a nova derrota eleitoral – e fragorosa – sofrida com a eleição de Ana Júlia Carepa (PT) para o governo do Pará.
A novidade em relação às derrotas das ORM no passado é que desta vez há dois adversários do outro lado (um potencial, Ana Júlia, boicotada pelos veículos dos Maiorana, e outro real, o próprio Barbalho). Além disso, a família exagerou na manipulação de informações contra a candidata do PT, como há muito tempo não se via. Combateu um jornal de político, como o Diário do Pará, renunciando a lhe opor profissionalismo empresarial. O Liberal foi tão ou mais tendencioso e passional do que o Diário. O menor volume de publicidade na edição comemorativa do 60º aniversário e o tom menos incisivo do inevitável artigo de primeira página assinado por Romulo Jr. dizem alguma coisa sobre o novo contexto.
Produto correto
Da retrospectiva (ou retroperspectiva) dos Maiorana, não havia outra opção durante a eleição: a empresa queria, a todo custo, manter seus privilégios na programação da publicidade oficial. Se uma derrota significasse a perda súbita do rio de dinheiro que drena do erário para o caixa das ORM, a vitória tinha que ser buscada por todos os meios e métodos. Ao menos para preparar a corporação para viver sem o aditivo monetário fundamental para sua programação financeira.
Veio a derrota sem qualquer preparo para a autonomia da empresa. A sorte do império está selada? Os mais apressados já estão achando que sim: todos os inimigos dos Maiorana, que não são poucos e não são destituídos de ímpetos de vingança, se reuniriam em torno de Ana e Jader para o acerto de contas. Logo, na gangorra do poder, o grupo RBA subiria para o grupo Liberal descer.
Mas a realidade é um tanto mais complexa do que essa geopolítica primária é capaz de expressar. Se o jornal está em franco declínio, apesar das aparências em contrário (sempre pouco mais do que aparências), há ainda o poder da televisão. A TV Liberal cometeu muitos erros, alguns crassos (como a ausência de investimentos em equipamentos, o contrário da regra no jornal, que a deixou para trás e envelhecida) e outros inacreditáveis (como as falhas na cobertura jornalística da rede).
A ainda mais poderosa TV Globo não reagiu com quebra de contrato ou qualquer outra medida dramática: simplesmente interveio na TV Liberal para colocar a afiliada no eixo do padrão Globo de qualidade. A intervenção já dura meses e não tem data para ser levantada. É por isso que pelo vídeo saem notícias que são cortadas ou maquiladas no papel impresso. Essa maior atenção ao jornalismo ecoa as ordens de profissionalização dos herdeiros de Roberto Marinho, muito mais sensíveis a essa determinação do que seus "primos" afins.
A Globo tenta corrigir os erros e as imprevidências dos Maiorana, mas essa tarefa demanda tempo. Até que um bom resultado seja alcançado, só podem contar com seus parceiros, se acharem-nos recuperáveis. Uma suspensão brusca do indecoroso convênio da Fundação de Telecomunicações do Pará com a TV Liberal privaria a rede Globo de espalhar sua imagem pelo estado, o segundo mais extenso do país. Os Maiorana criaram rede própria de retransmissão apenas na área de influência de Belém. Para a grande maioria do interior, a programação global segue pelas antenas e estações da Funtelpa, que, por isso mesmo, se tornaram vedadas à TV Cultura. Os Maiorana não se importaram com as extravagâncias desse convênio, pelo qual quem cede paga para servir a quem fatura.
Os termos de uma futura relação terão que sair desse enredo kafkiano, carrollliano ou orwelliano, conforme a escolha do surreal. Mas a Globo mandou dizer que não já e não por inteiro: na formação do seu preço de venda está computada uma audiência com a inclusão dos municípios paraenses; sem eles, haverá perda. Pequena, claro. Mas quem quer perder dinheiro?
Alguns situam nesse contexto o tratamento especial dispensado há duas semanas pela Globo a Jader Barbalho. A notícia do recebimento de mais uma denúncia contra ele pelo Supremo Tribunal Federal mereceu o latifúndio temporal de dois minutos e meio no Jornal Nacional. Por acaso? Óbvio que não foi só por isso: há questões nacionais, políticas e empresariais, algumas com um elo certo (o de Antonio Carlos Magalhães, por exemplo), mas o resíduo local deve ter sido lembrado também. O tempo excepcionalmente longo a uma notícia ruim para o ex-senador foi um recado inequívoco. Destinou-se a fazê-lo recuar em seu expansionismo de poder, sobretudo junto ao presidente Lula, avalista da sua tentativa de retornar ao centro decisório.
Esse tratamento não pode ser usado contra Ana Júlia Carepa, nem deve haver esse propósito quanto a ela. A intenção pode ser a de sugerir-lhe que uma negociação em torno de objetivos comuns será de bom tamanho. A nova governadora haverá de avaliar os recados e pedidos, mas a ela se impõe, para ser coerente com o discurso da campanha e a votação da vitória, uma outra dimensão, superior a essa: a dos legítimos interesses do povo paraense. Espera-se que ela chegue ao produto correto. Ou a história lhe apresentará a conta de chegada: a irrelevância e o esquecimento.