Com a desativação da clínica de Santa Cruz,
pessoas com transtornos mentais passaram
a contar com atendimento prestado nos Caps
NOTA: As mídias locais conseguem oferecer para o leitor uma visão da Reforma Psiquiátrica, que raras vezes frequenta a grande mídia.
Especial
Melissa Bulegon redacao@gazetadosul.com.br
SAÚDE
O que mudou com a reforma psiquiátrica
Internações em clínicas psiquiátricas foram reduzidas com a rede substitutiva de ações em saúde mental que oferecem tratamento especializado para quem sofre com problemas psíquicos
Dejair Machado
No final dos anos 70 teve início no Brasil o processo de Reforma Psiquiátrica com foco na mudança dos modelos adotados para o cuidado de pessoas com transtornos mentais. O objetivo era humanizar o tratamento e reduzir o número de internações em manicômios, oferecendo um atendimento integral para quem precisava. A medida pareceu ousada, mas serviu para combater a crise que se abatia sobre os serviços de saúde pública no País.
Foram anos de estruturação das novas propostas. O processo foi complexo, envolveu políticos, governos, universidades, conselhos e profissionais e mexeu com a opinião pública. Afinal, se propunha acompanhamento para tratar crises e surtos, o que até então não era prática comum.
O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), formado por integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações profissionais e pessoas com histórico de internações psiquiátricas surgiu em 1978. Foi ele que passou a protagonizar e a constituir, a partir desse período, a denúncia quanto à violência dos manicômios, mercantilização da loucura e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais.
A experiência italiana de combate aos manicômios serviu de inspiração para um movimento que, a partir de 1987, com a realização do 2º Congresso Nacional do MTSM (Bauru/SP) adotou o lema “Por uma sociedade sem manicômios”.
Foi nesse período que surgiu o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no Brasil. Em meio a isso, a Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) iniciou um processo de intervenção na Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. Foi esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou as condições de se construir uma rede de cuidados que substituísse o hospital psiquiátrico. Ainda nessa época surgiram os primeiros Núcleos de Atenção Psicossocial (Naps), que funcionam 24 horas, e foram criadas cooperativas e residências terapêuticas para os egressos do hospital. Essa experiência passou a ser o marco da Reforma Psiquiátrica brasileira.
PARÂMETROS
De acordo com o guia de Serviços de Saúde Mental do Rio Grande do Sul, em municípios com população de 20 a 70 mil habitantes, além do serviço de atenção básica, oficinas terapêuticas e ambulatórios especializados, deve funcionar o Caps I. Cidades entre 70 e 200 mil habitantes devem contar com Caps I e II e ainda o Caps Álcool e Drogas. Em todos os casos também devem ser disponibilizados leitos em hospital geral. Acima de 200 mil moradores, a cidade pode ter Caps I, II e III, Caps Criança e Adolescente e Caps Álcool e Drogas.
COMO É NA REGIÃO
Caps I
Candelária
Rio Pardo
Venâncio Aires
Vera Cruz
Caps II, Caps Infância e Adolescência e Caps Álcool e Drogas
Santa Cruz do Sul
Saúde mental na rede básica
Gramado
Xavier
Herveiras
Mato Leitão
Pantano Grande
Passo do Sobrado
Vale Verde
Assistência especializada em saúde mental
Vale do Sol
O QUE FAZ UM CAPS
- Promove e gerencia as ações de saúde mental no município
- Atenção diária para pacientes com transtornos mentais severos e persistentes
- Consultas individuais, grupais e oficinas terapêuticas
- Grupo para familiares
- Visitas domiciliares e atividades comunitárias
- Serviço ambulatorial
- Parcerias com os postos de saúde e PSFs
- Parcerias com empresas para geração de empregos
- Atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas
- Promove cadastramento de pacientes que utilizam medicamentos especiais e excepcionais
NOTA: Publicado na Gazeta do Sul, em 18.11.2006
http://gazeta.via.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdEdicao=1010&intIdConteudo=65246
*************
Medida acabou com os manicômios no País
Em 1989 deu entrada no Congresso Nacional o projeto de lei do deputado Paulo Delgado (PT-MG), que propunha a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no País.
Foi o início das lutas do movimento da Reforma Pisiquiátrica nos campos legislativo e normativo. A partir de 1992, os movimento sociais, inspirados pelo projeto de Delgado, conseguiram aprovar em vários estados – o Rio Grande do Sul foi pioneiro na aprovação da lei estadual de Reforma Psiquiátrica – as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. Os Caps e os Naps começaram a ser implementados e, embora normatizados pelo Ministério da Saúde, não contavam com financiamentos para os serviços.
Em Santa Cruz do Sul a Reforma culminou com a desativação da Clínica Vida Nova, que oferecia internação e medicamentos para pessoas com algum tipo de transtorno. Aos poucos os pacientes passaram a ser atendidos no Caps que foi cadastrado pelo Ministério da Saúde em 2002.
No Vale do Rio Pardo existem atualmente sete unidades deste tipo em funcionamento. São elas as responsáveis por atender as pessoas que sofrem de transtornos mentais, depressões ou outras patologias psiquiátricas. Já em Santa Cruz do Sul são três.
Nos municípios onde não há Caps são desenvolvidas políticas de atenção à saúde mental. Todos trabalham com o mesmo objetivo: garantir um atendimento integral para quem sofre de transtornos psíquicos.
NOTA: Publicado na Gazeta do Sul, em 18.11.2006
http://gazeta.via.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=65247&intIdEdicao=1010
Nenhum comentário:
Postar um comentário