dezembro 15, 2006

Morre em João Pessoa-PB, aos 76 anos, Sivuca

Mestre Sivuca












Nascido no interior da Paraíba, em Itabaiana, em 23 de maio de 1930, morreu no início da madrugada do dia 15 de dezembro de 2006 o grande compositor e instrumentista Severino Dias de Oliveira - Sivuca. Tinha câncer. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Parque das Acácias em João Pessoa. As emissoras de rádios da capital paraibana passaram o dia de hoje tocando suas músicas. Sivuca possuía um jeito inigualável de tocar sanfona.

Sanfona foi o instrumento da minha infância. Não porque sabia tocá-lo, mas porque, entre os 8 aos 10 anos de idade, todos os dias, atravessa a Praça Pedro II, levando-a na costa, até a Escola de Música de Dona Zoraide e Fátima Fernandes, contraparentes do meu pai, o comandante Rogelio Casado Marinho, que servia à Marinha Mercante, na companhia inglesa Booth Line Limited, cuja sede ficava na mesma quadra da escola.

Sob um sol abrasador, lá íamos nós, numa época em que a infância podia sair às ruas sem estar sujeita aos perigos que as tirariam da via pública antes mesmo do findar do século XX. O trajeto era curto, da Frei José dos Inocentes até a rua da antiga Secretaria de Fazenda, situada nas proximidades da Manaus Harbour e dos armazéns do Roadway.

Curioso como a presença dos ingleses, na Manaus dos anos 1950-1960, refletiu-se na linguagem do cotidiano e essas palavras - roadway, pier etc. - foram incorporadas ao vocabulário da época. Hoje, seus vestígios encontram-se na memória de hepta e sexagenários de todos os gêneros.

Naquelas tardes prazerosas, em que minhas irmãs Elizabeth e Lilian exercitavam seus talentos musicais - e que terminavam com a chegada de nossos pais para longas e animadas conversas na imensa sala de jantar da família Fernandes, arejada por enorme janelas que se debruçavam para um pátio a mais de 5 metros de altura, onde pombinhos e pombinhas, sob o lusco-fusco do anoitecer, recolhiam-se por entre os beirais dos telhados -, ali naquela alegre e ruidosa escola de música eduquei, sem querer, minha audição. Tornei-me um músico de ouvido, recaindo minha escolha sobre um instrumento que se toca com a alma, porque ele depende dos movimentos de inspiração e expiração: a gaita.

O mundo perdeu duas sanfoneiras, mas ganhou duas dedicadas profissionais de enfermagem. Para mim, uma das mais nobres ocupações humanas: cuidar de outrem. Para compensar as perdas, de lambuja, fruto daquele período mágico de nossa infância, a vida me fez um gaiteiro.

No momento do desaparecimento do talentoso músico paraibano - o extraordinário Sivuca -, não pude deixar de lembrar o quanto devo às minhas irmãs minha educação musical. Viva o Sivuva! Viva a Beth e a Lilian! Posted by Picasa

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