Mestre Sivuca
Nascido no interior da Paraíba, em Itabaiana, em 23 de maio de 1930, morreu no início da madrugada do dia 15 de dezembro de 2006 o grande compositor e instrumentista Severino Dias de Oliveira - Sivuca. Tinha câncer. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Parque das Acácias em João Pessoa. As emissoras de rádios da capital paraibana passaram o dia de hoje tocando suas músicas. Sivuca possuía um jeito inigualável de tocar sanfona.
Sanfona foi o instrumento da minha infância. Não porque sabia tocá-lo, mas porque, entre os 8 aos 10 anos de idade, todos os dias, atravessa a Praça Pedro II, levando-a na costa, até a Escola de Música de Dona Zoraide e Fátima Fernandes, contraparentes do meu pai, o comandante Rogelio Casado Marinho, que servia à Marinha Mercante, na companhia inglesa Booth Line Limited, cuja sede ficava na mesma quadra da escola.
Sob um sol abrasador, lá íamos nós, numa época em que a infância podia sair às ruas sem estar sujeita aos perigos que as tirariam da via pública antes mesmo do findar do século XX. O trajeto era curto, da Frei José dos Inocentes até a rua da antiga Secretaria de Fazenda, situada nas proximidades da Manaus Harbour e dos armazéns do Roadway.
Curioso como a presença dos ingleses, na Manaus dos anos 1950-1960, refletiu-se na linguagem do cotidiano e essas palavras - roadway, pier etc. - foram incorporadas ao vocabulário da época. Hoje, seus vestígios encontram-se na memória de hepta e sexagenários de todos os gêneros.
Naquelas tardes prazerosas, em que minhas irmãs Elizabeth e Lilian exercitavam seus talentos musicais - e que terminavam com a chegada de nossos pais para longas e animadas conversas na imensa sala de jantar da família Fernandes, arejada por enorme janelas que se debruçavam para um pátio a mais de 5 metros de altura, onde pombinhos e pombinhas, sob o lusco-fusco do anoitecer, recolhiam-se por entre os beirais dos telhados -, ali naquela alegre e ruidosa escola de música eduquei, sem querer, minha audição. Tornei-me um músico de ouvido, recaindo minha escolha sobre um instrumento que se toca com a alma, porque ele depende dos movimentos de inspiração e expiração: a gaita.
O mundo perdeu duas sanfoneiras, mas ganhou duas dedicadas profissionais de enfermagem. Para mim, uma das mais nobres ocupações humanas: cuidar de outrem. Para compensar as perdas, de lambuja, fruto daquele período mágico de nossa infância, a vida me fez um gaiteiro.
No momento do desaparecimento do talentoso músico paraibano - o extraordinário Sivuca -, não pude deixar de lembrar o quanto devo às minhas irmãs minha educação musical. Viva o Sivuva! Viva a Beth e a Lilian!
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