dezembro 15, 2006

De onde vem Pirõ-Diho, Otacila Lemos Barreto?

Foto: Rogelio Casado - Otacila defende tese de mestrado, ICHL-UFAM, 4/dez/2006












Otacila Lemos Barreto é filha do alto Rio Negro, da etnia Tukano. Seu povo, como tantas outras etnias existentes no estado do Amazonas, luta pela demarcação dos territórios indígenas, sob forte resistência de grupos políticos e econômicos que atuam na região.

Eis os principais acontecimentos descritos pela Mestre em Geografia Humana Ivani Ferreira de Faria, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, no livro publicado pela Editora da Universidade do Amazonas, Manaus, 2003, intitulado "Território e Territorialidade - Indígenas do Alto Rio Negro", que demonstram a difícil arte de sobrevivência das nações indígenas que habitam a Amazônia:

* O massacre do Capacete, ocorrido em 14 de março de 1988 em Benjamin Constant (alto Solimões), no qual dezesseis índios foram violentamente mortos por fazendeiros;

* Manifestação da população envolvente de Benjamin Constant, em 05/12/91, contra a regularização das terras indígenas nesse município, incitada por políticos da região (A Crítica, 05/12/91);

* A declaração do ex-Governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho à imprensa local, afirmando que mandaria metralhar qualquer agente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que fosse iniciar o processo de demarcação das terras indígenas no Estado (A Crítica, 14/12/91).

Quanto às tentativas de demarcação do território indígena do Alto Rio Negro ocorridas a partir da década de 70, as negociações fracassariam devido as disparidades existentes entre as propostas dos líderes indígenas e as da FUNAI, segundo a Profa. Ivanir Ferreira de Faria.

Para ela, o não reconhecimento das reivindicações tem dois componentes inconciliáveis: para o Estado a terra indígena é um espaço homogêneo, meio de produção onde estão distribuídos recursos naturais; na concepção indígena, terra é um mosaico de recursos naturais, morais e espirituais.

Decididamente, o território indígena, além de conter dimensões sociopolíticas, também contém uma ampla dimensão cosmológica, o que não ocorre na concepção de território do Estado, afirma a Mestre em Geografia Humana, para concluir: "A importância do território está no seu significado, pois as nações indígenas do Alto Rio Negro constroem sua identidade por meio da relação mitológica que mantém com o território, considerando-o como sítio da criação do mundo".

Para a Profa. Ivanir Ferreira de Faria "a luta implementada pelos povos indígenas contra o Estado traz consigo o desafio de romper com ideologias e forças tradicionais e conservadoras e de abrir um novo horizonte para uma ordem político-territorial e principalmente ideológica, ainda embrionária no meio acadêmico e político".

Nesse cenário, é no território indígena conhecido como Cabeça do Cachorro ou Alto Rio Negro, fragmentado em quatroze terras indígenas e onze florestas nacionais que nasceu Pirõ-Diho - Otacila Lemos Barreto, a primeira Mestre indígena do Norte e Nordeste brasileiros; mais precisamente no rio Tiquié, que junto com os rios Uaupés, Papuri e Negro, constituem o denominado Triângulo Tukano, em cujas aldeias são manufaturadas a arte com fibra de tucum.

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