setembro 07, 2007

Plebiscito da semana da pátria discute desenvolvimento soberano do país


EM DEBATE: Plebiscito da semana da pátria discute desenvolvimento soberano do país

O Plebiscito Popular que ocorre durante a semana da pátria entre os dias 1º e sete de setembro é antes de tudo, um exercício de democracia na qual impera a vontade do povo. O evento, entre outros pontos, discutirá a validade da privatização da companhia Vale do Rio Doce.

A Vale foi leiloada em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o pretexto de pagar a dívida pública do país, fato que não se deu. A companhia foi vendida por R$ 3 bilhões, valor três vezes menor do que a empresa valia na época.

Tudo indica que a venda da Vale do Rio Doce atendeu aos interesses de bancos e instituições estrangeiras, pois estas entidades – que participaram do processo de avaliação prévia da empresa – hoje se tornaram seus principais acionistas.

Esses e outros fatos justificam a existência de mais de 100 ações judiciais em decurso, encaminhadas ao Tribunal Regional Federal de Brasília (TRF) que questionam a validade do leilão da empresa.

Em entrevista à Radioagência NP, o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, fala da importância do Plebiscito para refletir sobre questões pontuais para o desenvolvimento soberano e sustentável do país.

Radioagência NP: Porque o governo FHC não tinha o direito de privatizar a Vale?
JPS: A Vale do Rio Doce tinha concessões públicas sobre a maior parte das reservas minerais que são um patrimônio público. Tinha a concessão de amplas extensões do nosso território. A Vale do Rio Doce tinha concessão das três maiores ferrovias, de três portos. Todas essas obras não eram propriedades da empresa, foram construídas com dinheiro público, portanto não cabia serem privatizadas. A Vale não se constituía em uma empresa comercial de propriedade do estado, era na verdade uma empresa pública e por essa razão é que jamais o governo FHC teria o direito de vender uma coisa que não éra dele, mas sim do povo.

Radioagência NP: Porque o Plebiscito representa uma grande pedagogia de massas?
JPS: Os movimentos sociais, as entidades, as pastorais, ao exercitarem esse direito de opinião sobre qualquer assunto, mesmo que ele não tenha força de lei, representa uma grande lição de democracia e um exercício da vontade popular. E por essa razão que o plebiscito popular que agora vai perguntar ao povo sobre a Vale se transforma então numa grande pedagogia de massas, para que o povo vá aprendendo que ele tem o direito de decidir.

Radioagência NP: Como o Plebiscito contribui para democratizar a informação sobre assuntos relativos às decisões políticas tomadas no país?
JPS: Já antes da realização do leilão, juristas e advogados entraram com mais de 100 ações contestando o direito e fazer o leilão. Infelizmente na época, tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ), como o Supremo Tribunal Federal (STF), eram totalmente coniventes com os interesses do governo Fernando Henrique e o leilão somente pode se dar sob a condição de liminares dadas na calada da noite. O plebiscito popular sobre a vale permite então esse exercício, de levar esse tipo de informação ao conhecimento de toda população, já que os meios de comunicação massivos, financiados por polpudas verbas de publicidade negam ao povo o direito ao conhecimento dessas informações.

Radioagência NP: Qual o posição do governo Lula frente a esse processo?
JPS: O governo Lula, de certa forma, interrompeu as privatizações das empresas estatais, mas não mudou a política neoliberal baseada na garantia de um enorme superávit primário que significa que o governo Lula transfere aos bancos na forma de pagamento de juros, 30% de todos os recursos recolhidos nas formas de impostos. É daí que surge mais uma pergunta que também vai ser debatida, se o governo tem o direito de pegar o dinheiro que é público e transferir para os bancos na forma de pagamento de uma dívida interna que nunca é paga, muito pelo contrário, que está aumentando ano a ano.

Radioagência NP: Qual o tamanho do prejuízo da manutenção dessa dívida?
JPS: O governo Lula está pagando em média R$ 180 bilhões [por ano] em juros com dinheiro público. Quando o governo assumiu em janeiro de 2003, a dívida interna federal era de aproximadamente de R$ 600 bilhões. Nós pagamos nesses quatro anos quase R$ 600 bilhões e, no entanto, a dívida pulou para um trilhão e cem. Então é evidente que o mecanismo da dívida e superavit primário é apenas uma medida de política monetária que os bancos impõem ao governo. E o governo Lula, apesar de eleito com ampla maioria dos votos, não tem tido força política e nem vontade política para mudar esse quadro.

De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.31/08/07

Fonte: Rádio Agência Notícias do Planalto

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