abril 30, 2007

Retrato da incúria VII (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Rua Monteiro de Souza
Manaus-Am, março/2007


Vendo o estado de abandono em que se encontra esse sítio histórico, com a privatização do Porto de Manaus, na qual até ruas foram privatizadas, como a Rua Monteiro de Souza (ao lado da Booth Line) - rua que tantas vezes percorri na minha infância -, lembro do protesto solitário do artista plástico Otoni Mesquita. Com tinta vermelha fez jorrar sangue dos tocos de árvores da estrada do V-8, cortadas para dar lugar a um viaduto. Anoitecia quando ele e seus alunos do curso de Arte da Universidade do Amazonas desenhavam seus protestos, pintando de vermelho os restos mortais das mangueiras, e sobre elas depositando uma vela em cada uma. De um automóvel, um anônimo personagem gritou furioso: "Vai trabalhar vagabundo, é o progresso que chegou, seu leso!" A imoralidade da frase tem sua gênese na moral do escravos, e como se sabe a moral dos escravos é sempre a moral dos senhores.

Retrato da incúria VI (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - A civilização do automóvel
Manaus-Am, março/2007


Prece a N. S. da Conceição

Valei-me, virgem santa!
Livrai-nos da estupidez humana,
caso contrário até o Teatro Amazonas
acaba virando estacionamento de carros;
mas, por favor, não perdoai os autores de tamanho
crime contra o patrimônio...
... eles sabiam o que estavam fazendo.

NOTA: No centro da fotografia, a catedral da padroeira de cidade de Manaus - N. S. da Conceição; do lado esquerdo, a horrenda arquitetura do Banco do Brasil, que cometeu um dos piores crimes contra o patrimônio histórico da cidade ao por abaixo um prédio de estilo neo-clássico; no fundo, uma outra construção modernosa do Banco do Brasil no coração da cidade; e, por fim, do lado direito, o retrato da leseira atual.

Retrato da Incúria V (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Estado do sítio abandonado
Manaus-Am, março/2007

Professores, corai! Nesta terra, meia-passagem não rima com defesa do patrimônio histórico e paisagístico; tampouco com qualidade de vida. Digo e repito o que falei para o meu amigo João Bosco Chamma, arquiteto nascido na Praça dos Remédios, como eu e toda a família de minha mãe: "Se os estudantes reduziram suas bandeiras a um só item, 'tamo pebado, maninho!"

Retrato da incúria IV (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Paisagem urbana
Manaus-Am, março/2007

Ainda estamos no sítio abandonado no Porto privatizado de Manaus. No primeiro plano, a arquitetura negada pelos novos manuaras; ao fundo, o monstrengo arquitetônico onde funciona a Receita Federal do Ministério da Fazenda, exemplar da estética do mal gosto que se propagou na cidade, com o surto comercial advindo da criação da Zona Franca de Manaus.

Retrato da incúria III (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Fundos da Booth Line
Manaus-AM, março/2007


Enquanto uma demorada tramitação jurídica se arrasta, para decidir a quem pertence a administração do Porto privatizado de Manaus, veja o que está por trás das fachadas dos prédios abandonados em seu entorno: uma casca de ovo prestes a ruir.

Retrato da incúria II (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Quarteirão sem tombamento
Manaus-AM, março/2007


À execeção do prédio da esquina, de propriedade inglesa, onde funcionou a filial da Booth Line Limited, com sede em Liverpool - companhia de navegação onde trabalhou meu pai, o comandante Rogelio Casado Marinho, prático da bacial fluvial da Amazônia -, os demais foram propriedade dos portugueses que abandonaram Manaus com a derrocada do Ciclo da Borracha.
Segundo o historiador Antonio Loureiro, dá noite para o dia, na primeira metade do século XX, dos 40 mil habitantes da cidade de Manaus, cerca de 20 mil deixaram a cidade rumo ao Rio de Janeiro ou a Lisboa. Algumas décadas depois, quase todo o quarteirão foi vendido para Cassiano Batará Assunção, proprietário do jornal Diário do Amazonas, que, nos anos 1990, venderia todos os imóveis para o Porto privatizado de Manaus (fonte: jornalista Deocleciano Bentes de Souza, que, brevemente, estará lançando o livro de memórias: "Por trás das rotativas"). Além do Porto, até as ruas do entorno foram privatizadas. Vôte!!!

Retrato da incúria I (parodiando o senador Jefferson Pérez)

Foto: Rogelio Casado - Patrimônio ameaçado
Manaus-AM, março/2007

Um doce de cupuaçu japonês para o estudante das escolas municipais e estaduais
que souber o que funcionava em cada um dos prédios acima,
inclusive o nome da rua onde eles jazem sob o silêncio da sociedade manauara?

A história em quadrinhos de R. Crumb se repete em Manaus, com uma particularidade: áreas degradadas convivem com áreas arruinadas. Veja o caso da (in)evitável privatização do Porto; com ela, uma parte da história da cidade está em processo de decomposição. "Uma verdadeira imbecilidade", ouvi de alguns. Estou certo que sim. Entretanto, convenhamos, toda imbecilidade de modo algum é natural, senão algo socialmente produzido e reforçado. Diante deste quadro, o que preocupa não é a ação dos maus, mas o silêncio dos bons.
DICA: A rua tem o nome de um pesquisador que dá nome a uma importante instituição de saúde brasileira, inclusive com representação em Manaus. Envie sua resposta para rogeliocasado@uol.com.br

abril 29, 2007

Pequena história de quem mesmo?

O genial R. Crumb intitulou os quadrinhos acima de "Short History of America". Olhe ao redor; não lhe parece familiar essa história? Credo!!!

abril 28, 2007

O prefeito e a cangula pensa


Rua dos Andradas. Aos fundos, na rua Floriano Peixoto, o decadente prédio onde outrora funcionou o glamuroso Hotel Amazonas, que hospedou ilustres personalidades da república. Estamos no centro histórico da cidade de Manaus - a capital dos operários eletrônicos da Amazônia - em sua área mais degradada. São quase 8 horas da noite. O comércio local há muito fechou a porta das dezenas de estabelecimentos de miudezas e outras quinquilharias. O lixo, devidamente ensacado, foi depositado na frente das lojas à espera do caminhão de coleta, o que só acontecerá bem mais tarde. Justamente nesse período de tempo, o cenário será inteiramente modificado, no trecho entre os fundos da Igreja Nossa Senhora dos Remédios e a rua Mundurucus, única rua do centro da cidade a desembocar numa bucólica escadaria, hoje soterrada por um aterro com grossas camadas irregulares de asfalto, fruto da insanidade urbanística que há quase trinta anos desfigura, dia-a-dia, o patrimônio histórico e paisagístico de Manaus.

Os desavisados que ali passassem e pousassem os olhos nesta cena - captada pela minha câmera fotográfica - imaginaria tratar-se de puro ato de vandalismo. Lêdo engano! Trata-se de um outro fenômeno social: anônimos cidadãos, ao tentar se incluir, informalmente, na economia da cidade no setor dos reciclados, deixam um rastro de sujeira, que só os analfabetos políticos poderiam imputar como total ausência de regras de conduta. Papel, papelão são os objetos desse desejo. Mulheres com criança de colo, crianças e adultos, jovens e mais velhos, são os protagonistas dessa obscenidade que diuturnamente atinge aquele trecho, logo após o lusco-fusco do anoitecer que banha a capital da Zona Franca, essa cidade morena que ostenta o título de quarto PIB brasileiro.

Eis que o prefeito Serafim Côrrea, há dois anos do encerramento do seu mandato, resolveu por fim à escandolosa proteção de abastados setores da cidade na cobrança do IPTU. Há pelo menos duas décadas os reajustes eram irrisórios, cabendo às classes médias e à população mais pobre o ônus de manter esse mecanismo classista de privilégio de muito poucos. Mais do que uma peça publicitária, a divulgação da decisão política do prefeito encerra princípios inegáveis de justiça social contra a desigualdade alimentada pelos suseranos encastelados no poder: "paga mais quem pode; paga menos quem não pode; e não paga nada quem não tem com o que pagar".

Entretanto, uma lógica anti-dialética insiste em defender a tese classista de sempre: "paga quem pode; quem não pode se sacode". Eis o retrato acabado de uma cangula pensa; e, pensa para a direita, meus prezados.
No quesito IPTU, tô nessa barca com o Sarafa! Um IPTU justo poderia evitar a constrangedora cena da imundície reinante em algumas áreas do centro histórico da cidade, livrando-nos da falta de fiscalização a que estão submetidas as áreas degradadas que ainda não foram objeto de revitalização pelo poder público.

Evidentemente que a questão da inclusão social, que está por trás da sujeira provocada pelos que tentam se incluir na vida social e econômica da cidade, há muito reclama por uma discussão mais aprofundada sobre o modelo Zona Franca, que, se retirou o Estado da indigência do pós-ciclo da borracha, gerou uma concentração de renda perversa, haja vista a pobreza da nossa periferia. Um desafio para todos, especialmente para a esquerda política, outrora mais crítica quanto aos limites do modelo econômico baseado em incentivos fiscais e na abolição de alguns impostos. Eis o desafio intelectual de hoje, se não quisermos que o cérebro vire tacacá nos verões que se anunciam com o degelo próximo.
*****
NOTA1: Cangula - papagaio ou pipa grande e que não imbica.
NOTA2: Penso - gíria de empinador de papagaio que se refere ao papagaio que tende a inclinar para o único lado.
Fonte: O manaura - Leôncio Oliveira, Manaus: Edições Kintaw, 2005.
Curiosidade: Até o presente momento, a obra de Leôncio Oliveira é única. Apesar de algumas irregularidades (como a grafia de picica, com dois esses, que mereceu uma crítica de Zefofinho de Ogum, consultor e conselheiro espiritual do site PICICA - Observatório dos Sobreviventes), é leitura obrigatória para quem aprecia a erudição cabocla, ou o caboquês, segundo o filólogo amador Joaquim Marinho, que escreve a orelha do livro.Posted by Picasa

abril 27, 2007

Carta Aberta ao deputado Francisco Praciano

Meu caro companheiro deputado Francisco Praciano

O objetivo dessas mal-traçadas é parabenizá-lo pela iniciativa de interpelar o Ministério da Educação quanto ao prejuízo em que se encontram cerca de 1000 alunos da Universidade Federal do Amazonas devido a falta de professores em sala de aula.

Gostaria de agregar outros dados preocupantes, para que sejam igualmente objeto de defesa do ensino de qualidade na nossa querida UFAM junto ao Ministério da Educação. Semana passada, na condição de mestrando do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, na linha Sociedade, Estado e Políticas Públicas na Amazônia, participei com outros alunos dos anos de 2005 e 2006 da avaliação promovida pela CAPES, que, como se sabe, é uma fundação do Ministério da Educação, que investe no desenvolvimento da pós-graduação stricto sensu focada na formação de pessoal qualificado no Brasil e no exterior, sendo responsável por mais da metade das bolsas de pós-graduação no país, e que, avalia cursos de mestrado e doutorado, além de financiar a produção e a cooperação científica.

Pois bem! Em causa, a possibilidade de aprovação do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, em nível de doutorado. Chamo atenção para o item “produção científica”, um dos fundamentos capitais para a aprovação de tão nobre demanda. Corremos o risco de ver o sonho de alunos e professores ser mais uma vez adiado por uma razão: esgotados, os professores se desdobram em obrigações acadêmicas para com o curso de graduação e a pós-graduação, sem que haja tempo possível para por em dia sua produção científica, exigência do CAPES para a devida habilitação de programas de doutorado.

A competência dos nossos professores está acima de qualquer suspeita, haja vista a grande variedade de teses e dissertações publicadas pela Editora da Universidade do Amazonas, bem como a existência de revistas científicas que resistem heroicamente a despeito das adversidades. Mas, convenhamos, com a sobrecarga advinda da existência de poucos professores, é impossível arranjar tempo para a produção desejável dos artigos que problematizam a realidade brasileira, inclusive sobre as determinantes estruturais que levaram a Universidade Federal do Amazonas a viver esse período tão angustiante para professores e alunos, cuja gênese, certamente, vem de longe. É urgente a abertura de concurso público para contratação de novos professores.

Confio no diligente trabalho do querido companheiro na busca das soluções reclamadas pela UFAM.

Fraternalmente,

Rogelio Casado
PS: Conheça a CAPES; acesse http://www.capes.gov.br/

abril 26, 2007

A questão das hidrelétricas no rio Madeira

A Folha de São Paulo discute a questão das propostas de construção de hidrelétricas para o Madeira. Leia o artigo do editor de ciências Claudio Angelo e da correspondente da Agência Folhas em Manaus, Kátia Brasil, e entenda o que há por trás do imbróglio em que se envolveu a ministra Marina Silva. O IBAMA, corretamente, apresentou um parecer sobre o relatório de impacto ambiental para o licenciamento ambiental das usinas do rio Madeira feita pelos empreendedores, classificando-o como insuficiente. A Odebrecht - um dos empreendedores - contra-atacou: "os técnicos que o elaboraram são "jovens" e, portanto, desqualificados".
Pagaremos um preço muito alto se pairar sobre essa questão o mesmo silêncio que envolveu a construção da hidrelétrica de Balbina no rio Uatumã, nos anos 1980. Corremos o risco de ver o mapa acima "coalhado" de hidrelétricas, como a Eletronorte propunha no Projeto Energético de 2030. Desenvolvimento e impacto ambiental: um tema que não podemos deixar para filhos e netos. A hora é essa.

Nota: Aos interessados no tema, o vídeo "Balbina, no País da Impunidade" está disponível no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, rua Frei José dos Inocentes, 132, tel.: (92) 3622-1260.

Programa de Pós-Graduação em Psicanálise da UFRJ lança "Freud não explica: a psicanálise nas universidades" e "Psicanálise Hoje"

Clique na imagem para melhor visualização
O Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em associação com a Contracapa Editora, lançara duas obras de leitura imprescindível, no dia 3 de maio: Freud não explica: a psicanálise nas universidades, sobre a psicanálise no contexto universitário, e Psicanálise hoje, sobre diferentes linhas de abordagem nos tempos atuais. Leia mais.


Leia o sumário, a orelha e a apresentação em:
http://www.contracapa.com.br/freud.php
Freud não explica: a psicanálise nas universidades
http://www.contracapa.com.br/psicanalisar.htm
Psicanalisar hoje
_______________________________
Contra Capa Editora
editora@contracapa.com.br
Fax (55 21) 3435.5128

Contas Abertas. Abertas por quem, cara-pálida?

O nascimento de uma patota (Sorry, Nilli Kook!)


CONTAS ABERTAS ENTRE AMIGOS
ou Jornalismo de rastelo

Por Jair Alves - dramaturgo/SP

A promiscuidade em certos setores da imprensa diária e organizações, patrocinadas pelos partidos de oposição ao governo Lula, chegou a um ponto de saturação inigualável a qualquer período da República brasileira. O mínimo que se pode dizer é que essa prática é um desrespeito a essa atividade profissional. Para os mais críticos, porém, essa ação prepara terreno para um futuro golpe de Estado.

É possível dizer que no Brasil de hoje o que sustenta a normalidade democrática é o sucesso da economia, que se mantém firme. Se não tivemos grande desenvolvimento econômico, ao menos nos últimos quatro anos a pobreza diminuiu. Enquanto isso a classe média, empobrecida por conta de modelos econômicos e políticos praticados por décadas, reclama uma diminuição do Estado brasileiro, ao mesmo tempo pede maior participação do governo na organização social, rumo à diminuição dessas diferenças. Nesse contexto é preciso analisar a atuação da imprensa, na fiscalização e discussão de cada ato deste mesmo Estado, mas, para isso, é preciso o mínimo de seriedade e profissionalismo. É ai que essa promiscuidade apontada acima vira destaque.

Desde já - é bom que se diga - o Estado não é somente a União é também as diferentes unidades da Federação e seus municípios, distribuídos por esse Brasil imenso. Onde anda, por exemplo, essa mesma imprensa que perde a vez não trazendo à tona os inúmeros problemas da rede de ensino estadual e suas conseqüências, como o seqüestro de contas bancárias dos endividados pais de filhos da classe média, com as escolas particulares? Onde anda essa imprensa cega que não enxerga a ação, nada discreta, de prefeitos como o da capital paulista, na sua "missão histórica" em acabar com a atividade centenária, como as feiras livres? Ao mesmo tempo, esse mesmo prefeito abandona o centro da cidade, entregue aos ratos, e os bairros mais distantes aos riachos mal cheirosos???

Nossa indignação, por outras vezes já apontada, é contra o jornalismo de fachada, de rastelo, como este alimentado pelo deputado da oposição - Augusto de Carvalho, do PPS do Distrito Federal, presidindo uma organização denominada CONTAS ABERTAS. Ele criou esse embuste para manter e ampliar sua base eleitoral, cujo objetivo, 'missão', nas palavras dele, é fiscalizar os atos dos governos. Ele mantém nessa organização um quadro de funcionários que têm como única finalidade criar constrangimentos para o governo federal. Essas ações resultam em enfadonhos relatórios sobre os diferentes órgãos da União, que vão desde o volume de dinheiro gasto com fotocópias, até recursos gastos com a queima de material já considerado vencido, tais como formulários, rascunhos e diversos. Assuntos, como se vê, da maior importância para o jornalismo brasileiro. Na simbiose dessa união, espúria, entre oposição e certos setores da imprensa surgem "cases", ou peças dita jornalísticas que não passam de verdadeira campanha desmoralizadora do atual governo federal. Como se não houvesse pautas mais relevantes a serem debatidas, esses relatórios se multiplicam, diariamente, sem um "ai" como diria José. Pior, essas 'informações' são distribuídas e publicadas, regularmente, por jornais como Folha de S.Paulo e, em outros, como matéria prima de furos jornalísticos.

Ao ganhar as manchetes, esses "cases" vão municiando uma campanha, nem tão silenciosa, para a preparação de um golpe que virá pelas urnas ou... (?). Não importa. No Brasil de hoje, quando a Polícia Federal arrebenta esquemas de alta corrupção, atingindo inclusive o Judiciário, é de se perguntar se essa prática de jornalismo de rastelo não é, como diria o ultraconservador, jornalista Boris Casoy - "uma vergonha!"! O leitor é enganado porque é subtraído dele a origem da informação que é publicada. O leitor precisa saber o que já estamos cansados de alertar - isso não é jornalismo, mas sim pregação partidária. Essas informações não podem ser ocultadas do cidadão, que paga uma assinatura de jornal impresso ou assina um provedor, como o UOL, por exemplo. No escamoteio em que essas notícias são montadas o leitor chega a acreditar tratar-se de uma 'fonte' (no jargão jornalístico) isenta, científica, confiável. Não é. CONTAS ABERTAS é uma organização de apoio a atividades partidárias, e que precisa ser identificada no corpo das dezenas de notícias por ela fabricadas. Também seria oportuno esclarecer quais os recursos financeiros que a faz subsistir, a exemplo das Fundações Perseu Abramo e Mario Covas, ou mesmo o Instituto Sergio Motta, que são mantidas com fundos partidários.

abril 25, 2007

RABO DE FOGUETE

Anibal Beça

Colírio podia ser lírico
na cólera dos olhos hippies
na harpa de jimmy Hendrix
na cólica de Janis Joplin

Ação que gera ação
(sinta-se como em 60)

Sente-se lá & cá à toa no tempo
como um velho guru
numa viagem retrô
num take déjà vu
& lótus no tatame
não se dobrará
como origame
senão como um X
de pernas encabuladas

Um baseado
grassa na grama & engrossa
um caldo de miolos
servido numa cornucópia
de ossos
(à la carte)

Indiferente
enérgico
grasna o ganso
(da gravadora Capitol)
breve assovio lisérgico
descascando laranjas
(malemolentes mísseis)
tatuando folhas de rosas
de carne
na pele de crianças

Um inocente pirógrafo
atiça uma fogueirinha de papel
tece um tapete de fino tecido
uma comunhão de ventos secos &
espalha hóstias pelas avenidas
amaciando o trânsito
congestionando o tráfego
no bem-bom
de Saigon

Não mais para os pés condutores
de requixás
mas para as esteiras de águias rolantes
tanques altivos &
sua paz
blindada &
sua lábia de
mascate &
as chamas se derramam
na palma da mão
napalm na contramão &
o cheiro se esparrama &
os néons
&
todas as luzes
se acendem
feéricas
para o grande espetáculo
de um Vietnam
by-night-só-digo-enchanté-all-right

E por aqui
no dia do Fico
tudo era festa
na dança do AI-5
&
os cara-pálidas
na serra dos
Kaparaó

Ó pra ti (nIn) baby!

Bazuca nos brazucas
mar&goela na grife
pau-de-arara

Eis la marca tan
tropicana
saque de Ana
sacana cubacana

Em Amsterdã
os lírios rolando
dois dedos de rosa & um sonho &
uma guitarra & uma
canção em Liverpool
à procura de um porto-de-lenha


O sonho não pode acabar
num sonho

E acabou?

É acabou
num gulash
de beterrabas
alsacianas montenegrinas eslovenas
croatas-sérvias
no caldeirão de Alá

Que Bósnia!

& no freverdouro
da praça Castro Alves
Caetano pergunta:
- O Haiti é aqui?

&
mais ao sul
o catarina
saudoso barriga-verde
grita:
- Anauê!

&
em São Paulo
rides again
paraíbas baianeiros arigós
Go home!

Macunaíma está morto viva Macunaíma

Se morto
se duvida
na neblina
do Parima

E a dúvida
rola
como
nossa
dívida

num
eco
de sapo
tanoeiro:
foi não foi
foi não foi

Foi genocídio?
NÃO
Não mesmo
Não foi
Nonada

O Jornal Nacional já esclareceu:
“não foram 99 nem 74
os mortos
sem-terra
no sul do Pará”

E Zózimo confirma:
“Foram apenas 56
Nada mais
do que isso:
sorry poeiriferia”

Os incomodados que se queixem
ao Vigário Geral
ou apelem
para
qualquer santo:
- Valei-me
Nossa Senhora da Candelária!

E por favor
não confunda
Carandiru com Candiru
(O nosso peixinho amazônico
gosta de perfurar
mas nem tanto)

E agora
como diria
um sobrevivente
de Hiroshima:
- Quelo ver Chicago!


- CAPÍTULO SEGUNDO -

- Posso ler sua mão?

Por acaso estou ao acaso
à espreita do ocaso de casos
que fogem ao casulo de cada um

Cada caso é um caso
coletivo casual
&
a esperança
é a primeira que corre
na pista da revelação
de que Deus é brasileiro
de papo amarelo
de olhos azuis
de longa cabeleira verde
&
sua túnica branca
se envergonha
diante
do sutil
insulto/inconsútil

Consulte a quiromante
diria o poeta ao acaso
torne-se amante
da jogadora de búzios
abra sua alma
à geografia astral
&
do mapa
solte sua tara
engasgada no gogó
de enforcado do Gólgota &
encarte-se no tarot

Diria ainda o poeta
aos de alma ecológica
aos de paz celestial
- entre um sadam & um Bush -

Sirva-se
de um drink de Santo Daime
aliste-se nas forças amadas
do Exército da Salvação
da Irmandade da Cruz

(Remember Jim Jones
bispo Macedo?)

XÔ SATANÁS!

“ O salário do pecado é a morte!”

Disse um pastor aos paaca-novas
enquanto 77 kaiwás & guaranis
- inclusive meninas de 15 anos -
seguiam o exemplo de Judas
pelo nó da culpa

Os pajés aposentaram Jurupari
não espanam mais os males
nem as curas
nem o uso das plantas medicinais

Os chocalhos os trocanos e gambás
se calaram

Estão vazios os sons de Uakti

Nem se sabe mais
o gosto gostoso
do tarubá yagé caxiri
&
a língua pentecostal
(juntamente com os fuzis
da Senhora Calha Norte)
é quem defuma
o que era rito
do seu tauary

- TERCEIRO CAPÍTULO -

Quando chegar o Natal &
depois o Carnaval
a tradição manda
na Santa Semana
que se coma novamente
o cólera
nos peixes que vêm
do Peru
de Páscoa &
choquemos
os ovos de magos coelhos
alquimistas férteis
da terra de Brida de Nosso Senhor
promissora & prometida
aos olhos de espiar a fé
num teto qualquer
nem que seja nos viadutos
da paulicéia da garoa
embaixo da 1ª 2ª 3ª pontes
dos elevados da Manaus moderna
ou
no aterro do Flamengo

Tudo sob as vistas
do Redntor que lindo!

& os expulsos dos campos
posseiros sem posses
sem terras sem tetos
querendo um cantinho & um violão
TUDO BEM!

Que bossa a nossa
Nova?
Nem tanto

Que bosta
a nossa de cada mangue
alagada entre as nossas pernas
Ah chuvas de março!
Mocambos
Palafitas
Bodós-na-lama
igarapés
nos dai hoje
as fezes de ontem
que engordam
os jaraquis de domingos
&
os caranguejos de cada dia do ano
na comunhão do nosso cotidiano
mínimo

Ó salário minguante
como a lua dos vira-latas
uivando para a seguridade
magra
social socialites
carajás de caras-sujas
na rima dos marajás
do mar de Búzios
Margarita & Aruba

É
Deus é brasileiro!

&
cada um
herdará um lote de azul
livre de IPTUs
quando estiver sentado
de cócoras com ele
à sua direita ou à sua esquerda

Por acaso
o poeta está à espera
dessa aliança?
Mesmo em preto & branco
sem technicolor by de luxe?

A ilusão
fica por conta
dos olhos do mundo
porque por aqui vai TUDO BEM
como no ano que vem
por que Deus é brasileiro
gosta de carnaval & agora anda
amarrado
assim
com o Boi-Bumbá
(Quem não gosta
é intelectual e pentecostal)
&
gosta ainda de levar
um céu de vantagens
Certo?

E assim prosseguimos
à reboque do fusquinha
numa paz ecológica
juntamente com os galos-da-serra
os micos-leões
& os jacarés de Nhamundá

Sempre abençoados
pelo santo descamisado
São-Francisco-deAssis-
é-dando-que-se-recebe


- FINAL -

Quando o carnaval passar
o traficante estará nas salas de aula
fazendo campanha
pela privatização do ensino

Privados de todo o mundo uni-vos!

Os homens de branco
hipócritas/hipócrates
penduram troféus
estropiados ex-votos
nos imundos corredores
dos estaleiros de plantão

&
nós comendo casca de ferida
querida
porque tumor
amor
não os seduz
assim como o cancro a AIDS
o pus
exsudato de votos
amealhados em consultas
datapreviamente & pagas assepticamente

Lazarentos de todo o mundo uni-vos!

Sabemos todos
ser um caso de polícia
mas as virgens
os parentes dos chacinados
os sequestrados
os estuprados &
principalmente os de boa fé
preferem relaxar & gozar

Estuprados de todo o mundo uni-vos!

Ave mesa
das nossas refeições
onde comemos
os ossos do ofício
&
as espinhas
do desemprego e da inflação

Santificada seja a nossa poupança
venha a nós o vosso over
assim como nas DBs
como no Fundão
& não nos deixeis cair
pelas sarjetas
sem que tenhamos
as notas verdes
da aposentadoria
de cavalo-do-cão!
A
M
É
M

Conselho Municipal de Cultura

II VERSÃO DOS PRÊMIOS LITERÁRIOS CIDADE DE MANAUS
2007



REGULAMENTO


CAPÍTULO I


DOS PRÊMIOS E DA FINALIDADE



Art. 1º - Os PRÊMIOS LITERÁRIOS CIDADE DE MANAUS, de abrangência nacional, instituídos em 2005, serão concedidos, através de concurso, pelo Conselho Municipal de Cultura CONCULTURA, objetivam distinguir, anualmente, obras inéditas, em língua portuguesa, de autores brasileiros;

Art. 2º - Os prêmios serão atribuídos nas categorias e denominações seguintes:

I - Prêmio Álvaro Maia, destinado ao melhor romance ou novela;
II – Prêmio Artur Engrácio, destinado ao melhor livro de contos;
III – Prêmio Violeta Branca Menescal, destinado ao melhor livro de poesia;
IV – Prêmio Péricles Moraes, destinado ao melhor livro de crônicas;
V - Prêmio Aldemar Bonates, destinado ao melhor texto teatral para adultos;
VI -Prêmio Álvaro Braga, destinado ao melhor texto de teatro infantil;
VII -Prêmio Samuel Benchimol, destinado ao melhor livro de ensaio sócio-econômico.
VIII – Prêmio Mário Ypiranga Monteiro, destinado ao melhor ensaio sobre tradições populares (folclore);
IX – Prêmio Arthur Reis, destinado ao melhor ensaio histórico;
X – Prêmio Luís Ruas, destinado ao melhor ensaio sobre literatura (Letras);
XI – Prêmio Gualter Limongi Batista, destinado ao melhor ensaio sobre artes-plásticas;
XII – Prêmio Cosme Alves Neto, destinado ao melhor ensaio sobre cinema;
XIII – Prêmio Áureo Nonato, destinado ao melhor livro de memória;
XIV – Prêmio Paulo Barahúna, destinado para o melhor ensaio sobre dança;
XV – prêmio Clóvis Barbosa, para o melhor texto de jornalismo literário;
XVI – Prêmio Alfredo Fernandes para Literatura Infantil

§ 1º - Os prêmios serão no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada uma das categorias de que trata este artigo, ficando, ainda, as obras premiadas inscritas no programa editorial do Conselho Municipal de Cultura para publicação, até a concessão da premiação subseqüente.


§ 2º - Aos autores premiados serão fornecidos certificados pelo Conselho Municipal de Cultura.



CAPÍTULO II


DA INSCRIÇÃO

Art. 3º - As inscrições serão realizadas a partir da data da publicação deste no DOM estendendo-se até 30 de maio de 2007, das 9:00 às 16:00 horas, no Conselho Municipal de Cultura, com endereço á Rua rio Jutaí, 37 Qd.35 Vieiralves CEP 58053-020 e telefone: (92) 3232-5086.



§ 1º - Nas remessas efetuadas pelo correio, somente serão considerados inscritos os trabalhos postados dentro do prazo estabelecido para as inscrições.§ 2° - Fica vedada a inscrição de qualquer membro componente do Conselho Municipal de Cultura ou pertencente a qualquer das suas comissões julgadoras.

Art.4º - Os trabalhos serão apresentados em papel de formato A4, em 03 (três) vias, digitadas, com impressão apenas em uma das faces do papel, com todas as folhas numeradas e com número mínimo de 50 páginas,(excetuando as obras infantis) encadernadas, com título e sob pseudônimo, e encaminhados da seguinte forma:

I - envelope em tamanho pequeno, lacrado, contendo uma folha de identificação, com nome, endereço, pseudônimo, título do trabalho, cópia de Identidade, cópia de CPF e comprovante de residência;

II - envelope em tamanho grande, contendo as três vias da obra a ser inscrita e o envelope citado no inciso I deste artigo, constando no seu exterior a identificação do título do trabalho, o pseudônimo do autor e a categoria a qual concorre (Ex: poesia, conto etc.).



Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo ensejará a inabilitação do concorrente.

CAPÍTULO III


DA COMISSÃO JULGADORA

Art. 5º - Haverá uma Comissão Julgadora para cada gênero literário previsto no artigo 2º, composta de 3 (três) membros indicados pelo Conselho Municipal de Cultura, que entre si escolherão um membro para presidenciar os trabalhos, inclusive indicando o relator da obra premiada.



§ 1º - Haverá apenas uma premiação por categoria, ficando ao critério das comissões julgadoras a outorga de até 03 (três) menções honrosas, caso em que também serão fornecidos certificados, não havendo, entretanto, publicação destes trabalhos.



§ 2º - As comissões julgadoras poderão deixar de conceder os prêmios, a seu critério, desde que justificado o motivo da não concessão.



§ 3º - Para cada sessão de julgamento, será lavrada a ata respectiva.



Art. 6º - A decisão das comissões será irrecorrível, exceto nos casos em que se verificar, no prazo de 10 (dez) dias, contados da data da divulgação dos resultados, comprovação do descumprimento de quaisquer das cláusulas deste regulamento.



Art. 7º - A cada um dos membros da comissão julgadora será paga indenização pecuniária pelas despesas despendidas e tempo utilizado na análise dos trabalhos, cujo valor fica arbitrado em R$ 1000,00 (um mil reais).

Parágrafo único - O pagamento da indenização pecuniária, dos membros de cada comissão, será efetuado após a devolução dos trabalhos concorrentes, o que deverá ocorrer até 30 (trinta) dias do recebimento dos trabalhos, podendo ser prorrogado por igual período.



CAPÍTULO IV


DAS DISPOSIÇÕES FINAIS



Art. 8º - Os resultados dos Prêmios Literários Cidade de Manaus serão divulgados no Diário Oficial do Município de Manaus do dia ........................ e, a partir desta data, na internet no endereço: www........................



Art. 9º - Os originais não serão devolvidos, serão incinerados.



Art. 10 - Os pagamentos dos prêmios e da indenização pecuniária da Comissão Julgadora serão efetuados através da Secretaria de Cultura do Município de Manaus (SEMC).



Art. 11 - Em cada uma das categorias só haverá concurso se inscritos, pelo menos, 2 (dois) trabalhos concorrentes.

Art. 12 - Os prêmios e os certificados de menções honrosas serão entregues em solenidade promovida pela Conselho e a Secretaria Municipal de Cultura (SEMC).

Art. 13 - Os casos omissos serão decididos pelo Conselho Municipal de Cultura.

abril 24, 2007

PáginaDois: leia as novidades da semana

Na última semana, tivemos Clarice Casado observando "A vida em monocromo" na segunda-feira; Melissa de Menezes perguntando-se "Por que o tempo?" na quarta-feira; Cassiano Rodka revelando "A foto do autor" na sexta-feira.
Na terça-feira, tivemos Fabiano Liporoni mostrando as versões inusitadas de Mark Ronson na seção de música.
Nessa semana, teremos Clarice Casado contando a história de uma "Escova de dentes" na segunda, Elaine Santos na seção de música na terça, um texto literário de Marcella Marx na quarta, Fabiano Liporoni na seção de cinema na quinta, um conto de Cassiano Rodka na sexta, e mais novidades na coluna de Jairo Bouer no sábado.
Boa leitura!
Todos os dias tem novidade no PáginaDois!
Abraços,
Cassiano Rodka e Clarice Casado
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Roquete-Pinto, um mestre brasiliano


Imperdível!!! Clique na imagem e leia a programação.Posted by Picasa

abril 23, 2007

O beijo - Anibal Beça

O beijo - Gustave Klimt

O beijo

— Dona Zélia, a senhora está dispensada por hoje do ensaio.

O maestro foi seco e áspero. Não sem razão, já tinha voltado ao início duas vezes. Aquela partitura exigia muito das cordas, principalmente do violoncelo. Zélia estava estranha, tão diferente daquela primeira vez quando fez o teste para a orquestra. Dominava o violoncelo como ninguém na cidade, tratava o instrumento com um carinho todo especial. Havia até quem apontasse um relacionamento fora dos ditames. Anormal mesmo.

Viu-se no meio da rua 22 antes que o zelador fechasse as luzes da ribalta. As partituras voavam, o andar trôpego entre os carros, partituras coladas nos pára-brisas, buzinas, trompas rachando a tarde.

Mas o que o maestro Dorner entendia ou sabia de beijo? Será que ele não notava aquela boca escancarada, como uma cadela, à espera de uma língua? De um toque, breve e úmido, de uma língua viva, pentecostal?

O céu estava ali, solitário,virgem, sem nuvens, pronto a ser invadido por algum trovão perdido. Faísca que viesse rasgar aquele céu vermelho da boca virgem de romã.

Um tropeço mais forte trouxe Zélia para junto do cello, seu único companheiro nos últimos 33 anos. Não tinha ninguém no mundo, Era como um cão abandonado de rua, uma cadela desprezada: "Las mujeres desde entonces conoci todas en una, mujer y perra parida no si me acerca ninguna". E a citação recorrente de Martin Fierro penetrando-lhe como agulha desde sua primeira leitura. "A única mulher que andou na linha, o trem matou". Foi na fronteira do Brasil com o Paraguai. Não a mulher que o trem matou, e sim a sua lua-de-mel. Os caminhões e os dísticos chauvinistas nos pára-choques.

Os caminhoneiros fortes reluzindo ao sol, as tatuagens de sereias, verdadeiros marujos do asfalto. Os olhares despiam Zélia. Aquela sensação já havia sentido por duas vezes. A primeira quando fez a primeira comunhão. O beijo na mão do padre, o beijo no anel do bispo; a hóstia colada ao céu da boca, e a calcinha colada ao mel do sexo.

20 anos passeando pelos parques. Coruja atrás de um casal de namorados, de preferência, aqueles mais ousados nos beijos. Voyeuse. Sim. Zélia era uma voyeuse.

O falecido marido era homem muito estranho. Gostava de fazer sexo vestido e nunca a beijara. Thamaturgo Valle, seu nome. Com th e dois ll, mas sem beijos. Sempre com aquela mala preta e de luvas assepticamente alvas. Carregando para onde fosse, os famigerados talheres, o copo e o guardanapo. Comia sempre no mesmo restaurante. A fiscalização de sua refeição era condição paga, com gorda gorjeta ao cozinheiro. Pratos brancos, alva toalha de linho. Ritual que se repetia quando não comia em sua casa.

Falava-se na cidade, que a esquisitice havia sido herdada de seu pai. Dentista e inventor de aparelhos de reabilitação oral. As tarraxas eram testadas na cobaia mais próxima: o filho.

Dr. Espiridião Valle, este, o nome do pai. Sua meta era acabar com todos os dentuços do mundo. Thaumaturgo, por sua vez, foi eliminando a boca de seu franzino esqueleto. A boca, órgão que nos últimos dias de vida não lhe foi de serventia. Lepra maldita de vida. "O beijo é a véspera do escarro...".

Zélia colecionava os beijos mais famosos de gables e valentinos. Figurinhas que acompanhavam o perfumoso sabonete das estrelas, e nunca havia sido beijada. A televisão na vitrine mostrava uma boca enorme, anunciando a refrescante sensação de bem-estar. Mania dessas lojas, exposição de televisores ligados, de todas as polegadas. A Martha Rocha, que tem uma boca linda, não foi Miss Universo por causa de duas polegadas a mais nos quadris. Zélia também foi candidata a "Boneca Viva" no Colégio da Divina Providência. Não ganhou. A divina providência só ajudava a moças desembaraçadas. Toda cidade sabia de sua marfiléia dentadura, da sua boca apetitosa de romã. E ela continuava uma cadela de boca virgem.

Quando se deu por conta, estava deitada na praia. Os pensamentos corriam, acompanhando os finos grãos de areia. Sinuosos desenhos, trazidos pelo vento recobriam seu corpo. O vento zunia e a areia castigava. Ora açoite, ora cilício. Estava sozinha na praia. Um ou outro banhista à distância. Sozinha, continuava desprezada, uma cadela parida.

A idéia se fez presente. As ondas beijavam seus pés brancos. Sentiu o amargo do sal. Salamargo purgando a alma de Zélia. Naquele bailado verde ouviu Tchaicovsky: o cisne mergulhando no imenso lago verde. As ondas rugiam furiosas, e ela não se sentia mais. O grande lago verde a possuia com fúria, engolindo-a.

Ainda chegou com vida à praia. A visão turva, mal divisava a camiseta do musculoso salva-vidas, mas sentiu o calor gostoso daquela boca soprando na sua.

Anibal Beça

NOTA: No Dia 13 de Abril comemora-se o Dia do Beijo.Posted by Picasa

abril 21, 2007

Arthur Bispo do Rosário - Arte e Loucura


O ator Alex Mello interpreta Arthur Bispo do Rosário em "Andança - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário".

"Em surto psicótico no dia 24 de dezembro de 1939, Arthur Bispo do Rosário foi preso e encaminhado ao Hospital dos Alienados na Praia Vermelha (Rio de Janeiro). Diagnosticado esquizofrênico paranóide, nos 50 anos que se seguiram construiu uma obra ímpar na história da configuração plástica brasileira. Movido por uma vontade indestrutível de retormada da razão através do esforço organizatório, Bispo é o paradigma da liberdade na construção artística contemporânea pela qualidade latente em seu fazer que demanda ressignificações pela Psicanálise, pela Sociologia, pela História da Arte, pela Semiótica e pela Antropologia. Bispo é a possibilidade de renovos na cognição sobre a construção artística porque na amplitude de seu constructo fora do tempo racional, emerge com indagações para renovados ajuizamentos sobre o belo que demanda amor e o sublime que antecipa respeito".

Este é o texto da orelha do livro "Arthur Bispo do Rosário - Arte e Loucura", de Jorge Anthonio e Silva, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-São Paulo, mestre em Literatura e Arte Espanhola pela Universidade de Salamanca, membro da Associação Paulista de Críticos de Artes, professor de história da Arte na FAAP-SP. Além disso é pesquisador em estética e autor de Nives Painters Brazil - Ivonaldo (Empresa das Artes), O Fragmento e a Síntese (Editora Perspectiva); é editor de Aishesis - Revista de Estética e Crítica de Arte Brasileira; é curador do evendo multidisciplinar sobre Arthur Biospo do Rosário no Centro Cultural Banco do Brasil - São Paulo: Ordenação e Vertigem.

O livro foi originalmente uma dissertação de mestrado sob a orientação da professora doutora Sandra Chalhub. Para o autor, a prática da psiquiatria hegemônica do passado apartou Arthur Bispo do Rosário do âmbito da cultura lançando-o nos intramuros do manicômio, que "mais produzia ausência mórbida de vontade e impotência para a ação". Não para aquele sergipano de Japaratuba, que "exercitou compulsivamente a atitude para a ordem, como que a produzir arranjos exteriores nos quais a dissociação interior pudesse se refletir ordenadamente".

No estudo da gênese do procedimento criativo de Arthur Bispo do Rosário, Jorge Anthonio e Silva lembra que a loucura não é prenúncio obrigatório para a arte. Para ele trata-se de um caso raro, rico e qualitativo "tanto para o estudo da loucura criativa, quanto para o estudo da possibilidade da desrazão se tornar, por meio da razão, um universo de expressão criativa do eu dissociado".

Jorge Anthonio e Silva é um dos que escreveu - e muito ainda será escrito - sobre sobre os feitos de Arthur Bispo do Rosário. Para ele, o filho de Adriano Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus, foi "esse homem ímpar, capaz de mobilizar tudo o que o mundo das utilidades tornou dejeto e, neles, impregnar um sentido transcendente incômodo à razão comum".

NOTA1: Para adquirir essa obra imprencindível na pesquisa sobre o tangenciamento da arte pela loucura consulte Quaisquer-SP pelo e-mail: atendimento@dialetica.com.br ou pelo fone/fax: (0xx11) 5084-4544.
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NOTA2: Jorge Anthonio e Silva esteve no Encontro Nacional de Saúde Mental realizado pela Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial e pelo Conselho Federal de Psicologia, com o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, entre 13 a 16 de julho de 2006.
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Andanças - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário: em cartaz


Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) era um desses beija-flores que nunca pousam no chão.

Leia o que se escreveu e se comentou sobre a peça "Andanças - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário", em cartaz no Rio de Janeiro.

TEATRO: MONÓLOGO
Andanças - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário
O espetáculo conta a trajetória de descendente de escravo a bispo
http://www.guiadasemana.com.br/event.asp?ID=9&cd_event=24602

Andanças - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário – Drama
http://cidades.terra.com.br/rio/espetaculos/0,7558,I:37300,00.html

Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário é tema de espetáculo no Rio
http://www.palmares.gov.br/
003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=551


Monólogo "Andanças - Vida e Obra de Artur Bispo do Rosário" está em cartaz no Rio.
http://www.integrando.org.br/
article.php3?id_article=568


Espetáculo no Rio
Andanças - Vida e Obra de Arthur Bispo do Rosário
http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?
codpag=12036&canal=agenda


Bispo do Rosário Por: - 20/10/2006 Rio - O ator Alex Mello, radicado há quatro anos na Alemanha, traz ao Brasil o espetáculo "ANDANÇAS, VIDA E OBRA DE ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO". Com participação de Milton Gonçalves e Zezé Motta.
http://www.afropress.com/correspo_2.asp?id=92

A solidão colorida de Bispo do Rosário
http://jbonline.terra.com.br/editorias/cultura/papel/
2007/04/14/cultura20070414004.html


Respeitável Público!
Odisséias de atores e peças do Brasil em palcos alemães
http://brazine.de/artikel_druck.asp?rubrik=archiv&artikel=
%7B18CB557B-5542-4CEA-98B7-580258672B32%7D
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Para o relicário

Foto: Rogelio Casado - Humberto Amorim, Mary Kim Titla e Gilson Monteiro,
Manaus-AM, Abril/2007

Querido relicário, registro, para filhos e netos, esta fotografia, como lembrança da agradável manhã de 20 de abril de 2007, quando foi lançada a revista InterMAIS, no auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas. Os personagens da fotografia brilharam, cada um ao seu modo, numa rara manhã de sol, nesse mês de abril, de chuvas mil.Posted by Picasa

Imprensa indígena americana

Foto: Rogelio Casado - Mary Kim Titla,
jornalista indígena americana,
Manaus-AM, abril/2007

Mary Kim Titla mostra jornais e revistas produzidas pela comunidade indígena americana, com 100% de participação indígena. Ela mesma, atualmente, dirige a revista eletrônica Native Youth Magazine (leia entrevista sobre essa iniciativa). Posted by Picasa

Estudantes e professores no lançamento da revista InterMAIS

Foto: Rogelio Casado - Lançamento da Revista InterMAIS, ICHL-UFAM, 20/04/2007

Estudantes e professores prestigiaram o lançamento da revista InterMAIS. Ao lado de Mary Kim Titla, o ex-reitor da Universidade do Amazonas, Professor Doutor Walmir Albuquerque (com a revista na mão), que fez uma retrospectiva histórica das iniciativas do Departamento de Comunicação Social que evoluiram para o lançamento da sua primeira revista científica.
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A bela e a fera

Foto: Rogelio Casado - Mary Kim Titla e Humberto Amorim, Manaus 20.04.2007

O inimitável Humberto Amorim - querido amigo, dessa e de outras re-encardenações - foi o tradutor da bela Mary Kim Titla, em sua palestra na manhã de ontem. A dupla re-encarnou, em público, o clássico "A Bela e a Fera": ela, a bela do jornalismo indígena; ele, a fera do English Translation. Posted by Picasa

abril 20, 2007

Mary Kim Titla participa do lançamento da Revista InterMAIS

Foto: Rogelio Casado - Mary Kim Titla, ICHL-UFAM, Manaus-AM, 20.04.2007

Mary Kim Titla, jornalista indígena americana, participou como palestrante convidada do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas no lançamento da InterMAIS - Revista do Grupo de Pesquisa em Ciências da Comunicação, Informação, Design e Artes, lançada na manhã de hoje.

Sua história, comovente, emocionou e fez rir os presentes no Auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras. Viveu uma modesta infância numa reserva da sua tribo, onde eram precárias as condições sanitárias. Dos pais sempre recebeu incentivo para estudar: única forma de superar as adversidades. Tornou-se a primeira e única jornalista indígena americana de televisão no Arizona. Atualmente despede-se do noticiário televisivo, depois uma intensa vida como repórter, para dirigir um revista eletrônica. Para o seu lugar será contratada uma outra repórter indígena. Mary Kim Titla continua fazendo história, deste vez abrindo caminhos para o seu povo.

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Leia o relesase distribuído pela Embaixada dos Estados Unidos da América sobre essa fascinante personagem.

Mary Kim Titla, membro da tribo apache de San Carlos, em Phoenix, é a primeira e única jornalista indígena americana de televisão no Arizona. Titla tem mestrado em Comunicação de Massa e iniciou sua carreira 20 anos atrás, em 1985, como recepcionista da redação da TV KTVK, canal 3. Após alguns meses, Mary, conseguiu um cargo de iniciante na redação.

A grande oportunidade surgiu em setembro de 1987, quando o falecido Papa João Paulo II reuniu-se com 10 mil indígenas americanos no Coliseu, em Phoenix. Titla conhecia muitos dos líderes indígenas americanos envolvidos no evento e foi convidada para fazer comentários durante a entrevista ao vivo. Ela usou a gravação para conseguir o seu primeiro emprego como repórter trainee em Tucson, na TV KVOA. Entrou para a equipe do 12 News em 1993.

Titla recebeu inúmeros prêmios pelo seu trabalho, ficando inclusive para finalista do prêmio Rocky Mountain Emmy. Obteve o primeiro lugar nos prêmios da Associeted Press, do Clube da Imprensa do Arizona e da Associação de Jornalistas Ameríndios. Além disso, foi reconhecida pelo Mulheres Jovens de Destaque dos EUA e pela ACF. Atualmente, é presidente do Conselho de Curadores da United Indian Tribal Youth, Inc., organização que estimula a lidernaça jovem e a boa cidadania. Em 2002, Mary Kim recebeu o prêmio Guerreiro Honorável Ira Hayes pelo trabalho com jovens indígenas americanos.

Titla está se despedindo do noticiário televisivo para se dedicar a uma revista on-line que criou para a juventude ameríndia. Ela lançou o site Native Youth Magazine.com (NYM) www.nativeyouthmagazine.com em 01 de julho de 2005.Posted by Picasa

Revista InterMAIS lançada no ICHL-UFAM

Foto: Rogelio Casado - Prof. Dr. Gilson Monteiro -
curso de Comunicação Social da UFAM, 20.04.2007

A revista InterMAIS - Revista do Grupo de Pesquisa em Ciências da Comunicação, Informação, Design e Artes - lançada nesta manhã de sexta-feira, no Instituto de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), foi recebida com entusiasmo por um público que lotou as dependências do Auditório Rio Negro.

Mais entusiasmado estava o Professor Gilson Monteiro, Doutor em Comunicação Social da UFAM, membro da equipe que trabalha pela consolidação da pesquisa com base na experiência acadêmica de professores e alunos das disciplinas de Projetos Experimentais, Metodologia da pesquisa em Comunicação Social, Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Programa de Educação Tutorial (PET), revista eletrônica Maloca Digital, Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação Social (GEPECS) e no Grupo de Estudos e Pesquisa em Ciência da Comunicação, Informação, Design e Artes (Interfaces). A revista científica InterMAIS é fruto deste trabalho coletivo.

A revista tem como filosofia unir a produção de pesquisadores renomados à produção dos alunos de graduação que apresentarem tino para a pesquisa, segundo o seu editorial, que informa, ainda, que os dois primeiros números da InterMAIS só foi possível graças a uma emenda parlamentar do deputado estadual Eron Bezerra (PC do B), que garantiu os recursos para a impressão, e à colaboração dos pesquisadores, além de muitas outras pessoas que participaram dessa cadeia de esforços para que a Revista viesse à luz.

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Revista InterMAIS
Revista do Corpo de Pesquisa em Ciências da Comunicação, Informação, Design e Artes

Sumário

A digitalização da radiodifusão - Flávio Aurélio Braggion Archangelo

História das principais emissoras de rádio em Manaus - Daisy Helen do Nascimento Melo

O Homo Midiaticus no país da pauta pronta - S. Squirra

Dos tambores aos Bits e Bites - Gilson Monteiro

Ciberdocumentarismo: a produção audiovisual com interatividade na rede - Denis Porto Renó

Vencer a ruptura entre teoria e prática: um desafio para os cursos de Comunicação Social no Brasil - Silma Cortes da Costa BattezzatiPosted by Picasa

abril 19, 2007

Mental Tchê - terceira edição


O Manicômio não forma: Deforma!!!!
Diga NÃO ao MANICÔMIO-ESCOLA

1º Encontro Gaúcho de Estudantes e Professores Universitários em favor da Reforma Psiquiátrica

2ª Feira de Economia Solidária Antimanicomial

Data: 17, 18 e 19 de Maio

Local: Galpão Crioulo Camping Municipal

17 de Maio – quinta-feira

16 horas: Início das Inscrições, acolhimento dos participantes e organização de estandes;
Obs: Poderão ser expostos pôsteres como se fossem estandes interativos, onde o autor em determinados momentos possa estar presente e falar com os interessados pelo tema (combinaremos determinados horários para que os autores fiquem junto aos seus trabalhos)

18 de Maio – sexta-feira

7:30 - Inscrições

9:30 - Abertura (oficialidades)

10:00 - Apresentação Artística (teatro, música e cinema) Sobre a Luta Antimanicomial

10:30 MESA

Reforma Psiquiátrica: Novos serviços X velhas cabeças!
Como acelerar a formação de recursos humanos para as novas práticas?

Debate

Almoço

14:00 MESA

Com a palavra: os Usuários

Coordenadores de mesa e de organização das falas nos microfones, tempo,etc.

Temas guia:

Minhas experiências com o ensino de saúde mental... Quais sentimentos tive
como aluno, como usuário (paciente), como professor ?


Os Usuários da Saúde Mental e o ensino: “A Busca de um ensino cidadão”


O “Cuidar sim & Excluir não”, começa em casa e se reafirma na sala de aula.

Formatação: Fala Livre (...microfone aberto)
Esta atividade servirá de subsidio para a ARENA que acontecerá no sábado pela manhã.

16:00 Espaço da Criatividade

“Faça o que dizemos e faça o que fazemos”: a criatividade que cuida e inclui.

Apresentações Artísticas (música, teatro, dança)

19:00 Galponeada (CALDO LOURENCIANO + FESTA)

“EM FESTA: NINGUÉM É NORMAL” (festa a fantasia com musica e dança)

19 de Maio – sábado

9:00 “ARENA DE DEBATES
(composição da arena : estudantes, usuários,professores, trabalhadores de saúde mental)

Temas guia:

*Não ao Manicômio Escola: o direito ao ensino cidadão.

DEBATES

*Reforma Psiquiátrica: Avanços e dificuldades no ensino e na pesquisa.

ALMOÇO (11:30 -13:00)

Filme: Estamira (será debatido)

EncerramentoPosted by Picasa

O alienista contemporâneo


O ALIENISTA CONTEMPORÂNEO

Edmar Oliveira

Mais uma vez a nação mais poderosa do mundo nos assusta com uma tempestade de tiros, fenômeno que, como os furacões, pega os americanos de surpresa. Toda tecnologia disponível é insuficiente para a prevenção da tragédia que se repete inexoravelmente ao longo da história daquele país. Desta feita, Cho Seung-hui, coreano desembarcado nas Américas aos oito anos de idade, fuzilou mais de trinta colegas da Universidade de Virgínia Tech e depois cometeu a imolação já esperada nestas típicas tempestades. Cho justifica esta inevitável tragédia : "vocês destruíram meu coração, violentaram minha alma e queimaram minha consciência". Ao se olhar Cho a partir desta frase, algo de muito grave, sinistro e violento, embora incompreensível, aconteceu no coração, na alma e na consciência deste rapaz. Mas é esta incompreensão que o alienista contemporâneo espera poder traduzir para prevenir as tempestades. Desconfio que os fenômenos metereológicos são mais fáceis de compreensão e controle do que as tempestades da alma...

Se nos lembrarmos dos tiros em Columbine, os reais e o documentário de Michel Moore, nem a cultura do fácil porte de armas pode justificar tais atos. Tem tudo a ver, mas não explica "o que é ser humilhado e ser empalado numa cruz", que acaba produzindo o ato tão trágico e monstruoso. E o ódio é muito grande no coração, na alma e na consciência destes jovens que foram expulsos da maravilhosa sociedade de oportunidades que a América promete. Quem está fora não tem segunda chance e fica condenado a viver na dimensão da zona fantasma, onde até o Super-Homem era colocado, ficando sem poder interferir na realidade. Muito pior que o morto-vivo dos vampiros, aqui é já se sentir morto ao lado dos vivos que não notam a existência do morto-fantasma. Mas aí já são conjecturas filosóficas que não podem atenuar o comportamento do monstro sem controle que ceifa vidas inocentes só porque "vocês tiveram tudo o que desejavam. Suas Mercedes não eram o bastante, seus pirralhos. Seus colares de ouro não eram o bastantes, seus esnobes. Seus fundos de herdeiros não eram o bastante. Sua vodka e seu conhaque não eram o bastante. Todas as suas devassidões não foram o bastante. Não eram suficientes para preencher suas necessidades hediondas. Vocês tiveram tudo" , como vociferou Cho, no material gravado e enviado a NBC após os dois primeiros assassinados, para cometer os outros em seguida. Disse tudo isto enquanto apresentava fotos suas com armas em punho parecendo um louco furioso.

E era aqui que eu queria chegar. No caso de Cho, trata-se de um imigrante sul-coreano e com passado psiquiátrico. Teve diagnóstico de depressão, de esquizofrenia, de transtornos anti-sociais e de outros transtornos enquadrados numa listagem diagnóstica que amplia cada vez mais o campo da psiquiatria. E o alienista contemporâneo tem um sofisticado arsenal tecnológico para traçar o perfil de sujeitos periculosos para a sociedade. Os jornais trazem depoimentos revoltados de como foi possível deixarem Cho fazer o que já enunciava no seu comportamento anterior. E um louco internado não poria em risco uma comunidade que terminou vitimada pela falta de ação da psiquiatria.

E assim chega-se à conclusão de que o alienista contemporâneo deve estar apto para prevenir o crime atuando como os policiais do filme de ficção que prendiam o criminoso antes do crime acontecer... Me parece que o alienista contemporâneo está fadado a repetir o Simão Bacamarte de Itaguaí e internar muita gente nesta aldeia global sem resolver o problema.

No caso de Cho, assim como seus traços físicos revelam o asiático, o seu histórico clínico revela os seus transtornos psiquiátricos. Mas se é na América que ele comete seu ato como um americano típico dessas tempestades, não é na sua loucura que a explicação do ato deva ser buscada. A loucura existe, mas não pode ser responsabilizada por um ato cultural típico de uma sociedade que está produzindo um sujeito pós-moderno, com implicações ainda não muito claras para o futuro desta humanidade. Me parece ser nas tramas de constituição de sujeito na organização de determinada sociedade que as pistas desta tempestade possam ser buscadas.

Eu, que creio numa sociedade sem manicômios, tenho muito medo do alienista contemporâneo tentar enquadrar fenômenos culturais na loucura das pessoas. E sem a poesia de Machado de Assis, a Casa Verde americana pode repetir o manicômio como o depósito dos excluídos de uma sociedade competitiva onde o insucesso é sintoma de loucura.Posted by Picasa

Armazém de Oficinas

Foto: Rogelio Casado - Pavilhão de Terapia Ocupacional
do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro - Manaus-AM, 2005

O Pavilhão acima está prestes a ter uma outra destinação social no processo de substituição do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro por um Hospital de Clínicas, mantidos os 20 leitos psiquiátricos para atendimento dos casos de urgência.

Sua origem remonta ao final dos anos 1980, quando a Reforma Psiquiátrica dava sinais de que um retrocesso em breve se instalaria no Amazonas, diferentemente da expansão dos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico e seus ambulatórios de medicalização da dor humana, que ocorreria a partir da criação dos Núcleos de Atenção Psicossocial - NAPS, na administração petista do município de Santos-SP, em 1989, após o fechamento da Clínica Anchieta, único serviço de atendimento de portadores de transtorno mental daquela cidade, de nítida inspiração carcerária, como rezava o figurino do modelo manicomial. De lá para cá, 40 mil dos 80 mil leitos psiquiátricos foram fechados e substituidos por uma rede de atenção diária à saúde mental, para a qual já somam mais de mil Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em todo o país.

Naquele período, havia sido instalada a Assembléia Nacional Constituinte. A sociedade civil organizada dela participava intensamente. Tanto era a sua força e a sua presença no cenário político, que logo os conservadores organizaram um grande grupo de parlamentares em torno do que ficou conhecido como "Centrão". Mudariam aí, também, os jogos de poder. Governava o Amazonas Amazonino Mendes, um dos articuladores políticos do novo bloco de poder juntamente com o ex-governador Gilberto Mestrinho, de quem progressivamente se afastava.

Em todas as latitudes brasileiras foram sentidas a nova configuração do poder. Nos cargos da administração pública, profissionais de perfil progressista (expressão usada fartamente, à época) foram substituídos por outros de perfil conservador. Com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas não foi diferente. Idem, com o Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro (HPER). O médico psiquiatra Rogelio Casado seria substituído da direção que ocupava há 5 meses, período em que criou uma Comissão Administrativa com várias entidades que passariam a influir na vida institucional do hospital psiquiátrico, conforme os princípios que norteavam a Reforma Sanitária brasileira. Essa ousadia era inaceitável para os conservadores da época.

Nesse cenário, Rogelio Casado, oriundo dos movimentos sociais, foi levado a responder com um gesto radical: greve de fome, entre os dias 11, 12, 13, 14, 15 e 16 de novembro de 1987, no interior do próprio hospital, que levaria centenas de cidadãos e entidades do movimento associativista e sindical amazonense a prestar solidariedade ao ideário da Reforma Psiquiátrica no Amazonas.

A greve é um episódio da história da saúde mental no Amazonas que está por merecer uma melhor análise. Dela, hoje, é importante ressaltar, que um dos seus produtos requer atenção da sociedade política e da sociedade civil: a nova pactuação que está em curso entre o chamado terceiro setor e o poder público estadual quanto ao destino do Pavilhão de Terapia Ocupacional (foto acima, de 2005, quando um vendaval por pouco não o destelhou inteiramente) construído como uma das quatro demandas da greve de fome, em 1989, e que viria a se transformar num depósito, nomeado pelos servidores do HPER como "elefante branco".

Pois bem! Originalmente destinado às práticas de Terapia Ocupacional, atualmente ele pode ser decisivo para os projetos de inclusão social dos portadores de transtorno mental desenhados pela Política Estadual de Saúde, tal como foram aprovados no Conselho Estadual de Saúde, em 4 de novembro de 2003. Desta vez não como um Pavilhão de Terapia Ocupacional, mas como um Armazém de Oficinas, dentro da lógica de reabilitação psicossocial. Em jogo, a redução das desigualdades e o combate ao preconceito contra o cidadão em situação de sofrimento mental.
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Seminário Internacional Políticas Públicas e Processo de Trabalho em Saúde Mental

Seminário Internacional Políticas Públicas e Processo de Trabalho em Saúde Mental

3-04 e 05 de outubro de 2007


Auditório: Francisco Romeu Landi - Edifício Engenheiro Mário Covas Júnior.Escola Politécnica da Universidade de São Paulo


03/10


18h30 credenciamento


9h30 Conferência de Abertura: Michel Thiollent (COPPE-UFRJ)*


20h30 coquetel de abertura


04/10


08h Entrega de material


08h30 Conferência: Profa. Dra. Maria Cecília Minayo (CLAVES – FIOCRUZ)


09h30 Coffee break


10h00 Mesa redonda: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA – DESENVOVIMENTOS E PERSPECTIVAS


Coordenador: Prof. Dr. Everardo Duarte Nunes*(UNICAMP)


· Prof. Dr. José Ricardo Ayres (FMUSP)*

· Prof. Dr. Seiji Uchida

· Prof. Dr. Laerte Snzelwar

· Prof. Dr. Mario Salerno


12h30 Almoço


14h Conferência: Miguel Matraj


15h Mesa redonda: TRANSFORMAÇÃO DO MODELO DE ATENÇÃO PÚBLICA EM SAÚDE MENTAL E SEUS EFEITOS NO PROCESSO DE TRABALHO E NA SAÚDE MENTAL DOS TRABALHADORES


Coordenador: Profa. Dra. Julia Issy Abrahão


· Profa. Dra. Selma Lancman

· Márcia Terra Silva

· Dra. Lygia Maria de França Pereira (FMUSP)

· Fausto Mascia


05/10


08h30 Conferência: François Hubault (Université Paris1 Panthéon - Sorbonne)


09h30 Coffe break
10h Mesa redonda
: A REFORMA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL


Coordenador: Profa. Dra. Elisabete Mangia


· Dr. Pedro Gabriel Delgado*(Saúde Mental do MS)

· Prof. Dr. Kalil Dualib (ex-coordenador de SM da SMS)

· TO Cecília Galletti (CECCO-PREVIDÊNCIA)

*· Psic. Yanina Staszeskas (CAPS- BUTANTÃ)*

12h30 – ALMOÇO


14h Conferência: Micheline Saint Jean (Université de Montreal)


15h Mesa redonda – PESQUISANDO A REALIDADE: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PRÁTICA EM SAÚDE MENTAL


Coodernador: Dra. Suzanne Ferruia (DECIT-MS)*


· Dr. Alfredo Schechtman (DECIT-MS)*

· Profa. Dra. Rosana Teresa Onocko Campos (UNICAMP)

· Profa. Dra. Mônica de Oliveira Nunes (UFBA)

· Prof. Dr. Antônio Márcio Ribeiro Teixeira (UFMG)

· Prof. Dr. Claudia de Souza Lopes (UERJ)


17h 30 coffe break


18h Encerramento


* AGUARDANDO CONFIRMAÇÃO DOS CONVIDADOS