MINHA HOMENAGEM AOS 25 ANOS DO CURSO DE SAÚDE MENTAL DA FIOCRUZ
As coisas, muitas vezes, acontecem de forma tão inesperada...
Imaginem, há alguns anos atrás o Hugo Fagundes me disse: "Puxa vida cara, sabe que você é a cara do Sérgio Arouca?" e isto, sem dúvida, devia ser verdade, pois cheguei a ser confundido, inúmeras vezes, com ele. Numa viagem que fiz com meu filho a Arraial d'Ajuda, sul da Bahia, estava eu tranqüilamente sentado num banco de praia, tomando uma água de coco e, eis que, de repente, percebo uma moça linda a me olhar insistentemente. Achei que fosse impossível que estivesse mesmo olhando para mim. Olhei em torno para ver se havia algum garotão por perto, nada.. era mesmo comigo (?). Pouco tempo depois, me distraí e, quando me volto, vejo-a ali, sentada ao meu lado e, para minha surpresa, pergunta: - "Olá Sérgio! Como vai você?" Foi então que me dei conta de que ela me estava julgando outra pessoa. Disse-lhe que meu nome não era Sérgio, mas sim, Geraldo. Começamos a conversar e ela me contou ter sido aluna do Sérgio Arouca, na universidade em Campinas e eu contei a ela um pouco da minha estória e da minha razão de ali estar.
De uma outra vez, estudantes de Minas Gerais, também me confundiram e, quando eu lhes disse que "eu não era ele", eles disseram: "Não tem importância. A semelhança é tanta que, vamos tirar a foto assim mesmo prá mostrar lá na faculdade".
Depois destes acontecimentos, aguçou-se a minha curiosidade para conhecer o meu sósia, mas a oportunidade custou a surgir. Foi então que, num final de ano, fui convidado a participar de uma mesa no Seminário Comemorativo dos 20 anos do Curso de Formação em Saúde Mental da Fundação Osvaldo Cruz. Soube então que, a abertura seria feita por ele", o próprio Sérgio. Foi quando nos vimos pela primeira vez. Nos entreolhamos e, quando foi chamado, ele, com aquele seu espírito brincalhão, aproveitou para fazer uma piada sobre a nossa semelhança, dizendo:- "Interessante o que estava acontecendo, pois pela primeira vez minha vida estou tendo a sensação de ter chegado a um lugar e ter a surpresa de constatar que eu ali já me encontrava". Todos riram muito quando perceberama nossa incrível semelhança. Para não perder aquele momento, tiramos juntos esta foto. Guardei-a com o carinho de quem reencontra um velho amigo, uma alma-gêmea. Queria muito enviá-la, mas, quando consegui descobrir uma forma de fazê-lo, já era tarde demais, ele adoeceu e nem mesmo sei se chegou a ver a foto com a dedicatória que lhe mandei. Enfim, isto já é história...
Guardo a sua imagem, não por sermos praticamente gêmeos, mas por tudo o que ele representou na defesa de seus ideais e de suas crenças. Concluo que nossas semelhanças não eram apenas semelhanças físicas, mas muito mais do que isto. Compartilho dos seus ideais políticos de fraternidade, de sua luta pela liberdade e pela justiça social, militante que sempre foi, dos direitos humanos, da democracia e da causa do povo, da crença de que é possível um mundo mais igualitário e justo. Já acompanhava sua carreira de homem público, que sempre se portou com a mais absoluta honradez e dignidade. Que bom que tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente! Só lamento que tenha sido uma única vez.
Geraldo Peixoto
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