Foto: Rogelio Casado - Alfredo Nascimento e João Pedro, Manaus-AM, 2003
Ufa! Finalmente João Pedro chegou lá. Aos 54 anos de idade, Jotapê, logo mais, às 15:00h, será o mais novo Senador da República, pelo estado do Amazonas, pelo Partido dos Trabalhadores, na vaga aberta pela nomeação de Alfredo Nascimento para o Ministério dos Transportes. Uma parte da esquerda tá em festa; a outra reclama do namoro antigo entre o atual presidente do Partido Republicano (ex-Partido Liberal) e o ex-presidente do PT do Amazonas. Na foto, um flagrante dessa união, que pôs fim à longeva vida política do septuagenário cacique político conhecido como Boto Tucuxi, durante a posse de João Pedro no INCRA-AM, prestigiada pelo novo companheiro da coligação que levou Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República nas eleições de 2002.
Alfredo Nascimento era Prefeito de Manaus quando deixei a direção do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (cuja história ainda está por ser contada), sob a administração do advogado Félix Valois, então Secretário de Justiça e Cidadania. Registre-se que foi Félix Valois e seu Sub-Secretário Francisco Cruz, meu-amigo-de-fé-meu-irmão-camarada, que me reabilitaram de um longo exílio após o meu bota-fora do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, o qual fôra patrocinado por um movimento corporativista que contribuiria, também, para colocar a Reforma Psiquiátrica fora dos trilhos no Amazonas.
Pois bem! Foi Alfredo Nascimento quem, a meu pedido, me acolheu no Programa Saúde da Família (criado por ele com o nome de Programa Médico da Família, cuja impropriedade conceitual recebeu minha crítica pública, a qual foi generosamente aceita, o que significa dizer que não houve a habitual retaliação do autoritarismo provinciano). Ali constituí uma experiência extraordinária, que muito ajudou a ampliar meu olhar sobre a saúde pública, particularmente no campo da saúde mental, esse patinho feio das políticas públicas.
João Pedro é um capítulo à parte na história do movimento social nos anos de chumbo. Conheci-o quando ele ainda era do PC do B. Parecia um estranho no ninho, com todo o respeito que amealhei entre os camaradas desse combativo e combatido partido. Para mim, João sempre teve a cara do Partido dos Trabalhadores. Tanto que foi lá que ele decidou fazer sua morada política.
Éramos estudantes quando nos encontramos no meio da rua em defesa da democratização do país, lá pelos meados dos anos 1970. Ele vindo da Faculdade de Ciências Agronômicas, eu da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amazonas. Naquela época PC do B e PT não iam com os cornos um do outro. Algumas vezes, o tempo fechava e as agressões verbais descambavam para a violência. Entretanto, salvo exceções de praxe, sempre gozei do respeito dos camaradas, especialmente do companheiro João Pedro.
No memorável cerco da Polícia Militar à Praça São Sebastião, em 1982, no governo José Lindoso, durante manifestação estudantil, época que voltei a morar em Manaus e dirigia com o saudoso Silvério Tundis o então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro, lá estava ele junto com o falecido Senador Fábio Lucena, então um dos mais brilhantes vereadores que a cidade conheceu. Enquanto, de cima de uma Fusca, João fazia seu discurso político, Fábio Lucena dirigia-se à tropa de militares vociferando: "Passa, mas passa por cima do meu cadáver". Bons tempos em que a cidadania fervilhava em praça pública.
Foi na república onde morava João Pedro - junto com o lendário Raimundo Cardoso, ex-militante do PC do B, atualmente no PT, e que acaba de garantir o direito de restituição da sua identidade depois de muitos anos de clandestinidade, parte deles vividos no município de São Paulo de Olivença, no mesmo período em que ali trabalhava o médico Marcus Barros, atual presidente do IBAMA - que deixei a guarda dos meus livros ao sair do Amazonas para fazer minha Residência Médica em Psiquiatria numa Comunidade Terapêutica em Diadema-SP. Estou certo de que Jotapê frequentou minha biblioteca, sob a guarda do querido companheiro Cardoso (ainda não me habituei ao seu nome verdadeiro), a quem não vejo há muitos anos. Entre os livros da época, alguns de orientação marxista, estavam devidamente encadernados, para não levantar suspeitas num período em que eles eram proibidos. Me foram presenteados por outra lendária figura, professor de Letras do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas, Dalcy Braga, de saudosa memória, amigo pessoal de João e que gozava da estima de todos nós.
À noite, João, quando você estiver brindando com o companheiro presidente e a bancada do PT no jantar que te será oferecido, não esquece de dar uma pro santo... É praxe. Dê um abraço no companheiro Francisco Praciano, na companheira Vanessa Grazziotin do PC do B, que certamente estará te prestigiando, e receba um forte abraço do companheiro de sempre,
Rogelio Casado
2 comentários:
Olá te achei por acaso pois estava procurandoa letra da musica "Ti regalerò una Rosa " e vi como vc é engajado na luta antimanicomial.
sou estudante de Terapia Ocupacional e apaixonada por saude mental ... fico muito feliz de pessoas como vc ...pena que não são todos que lutam com tanta força. Parabéns pelo trabalho... estarei sempre aki lenro um pouco mais...
Maíra
Fábio Pereira de Lucena Bittencourt
Minha mãe é filha mais velha de Fábio Lucena, mora atualmente no Rio de Janeiro e deseja conhecer seus parentes em Manaus...
Sei que a familia é grande e q ele foi jornalista do Jornal A Critica.
Favor entrar em contato pelo orkut ou Msn. fernando22morientes@hotmail.com
Obrigado...
Senador Fábio Lucena
Fábio Pereira de Lucena Bittencourt
Nascimento: 11/7/1940
Natural de: Manaus - AM
Filiação: Antônio de Lucena Bittencourt
e Otília Pereira Bittencourt
Falecimento: 14/6/1987
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