Contra a barragem do Xingu
Prénom, Nom : Mabit Jacques
Profession : Médico
Adresse : Rámirez Hurtado 686, Tarapoto, Perú
Ao Presidente da República do Brasil
Senhor Luis Inácio Lula da Silva.
Como representante do Conselho Interamericano sob a Espiritualidad Indígena (CISEI) e Presidente Ejecutivo do Centro TAKIWASI (www.takiwasi.com ), vimos expressar, em caráter de absoluta urgência, o nosso inconformismo com a construção da barragem de Belo Monte, no Rio Xingu, no coração da Amazônia Brasileira.
Estamos solidários aos povos indígenas, às populações tradicionais e às centenas de pessoas que, desde 1989, em Altamira, manifestam-se contra a construção desta Barragem.
Não podemos concordar com esta desastrosa decisão que:
- pretende destruir quase 1 mil km² de biodiversidade, rasgando a floresta com canteiros de obras e estradas, desmatando e inundando terras;
- vai abrir a porta para a destruição da excepcional diversidade cultural existente na região, que reúne mais de 10 etnias, três troncos lingüísticos, inclusive com línguas ameaçadas de extinção, além de populações tradicionais e quilombolas;
- vai destruir o trabalho acumulado de mais de 30 mil pessoas que terão suas casas e suas terras inundadas;
- vai destruir os recursos pesqueiros de mais de 100 km do rio Xingu, à jusante da barragem, além de extinguir espécies de peixes migratórios e quelônios;
- vai provocar aumento de doenças, como a malária, a leishmaniose e arboviroses desconhecidas. Além dos riscos das arboviroses, estudos indicam que a proliferação de mosquitos agressivos, levará ao aparecimento de verdadeiras pragas, mais graves do que as ocorridas na Hidrelétrica deTucuruí;
- vai soterrar ou inundar mais de 100 sítios arqueológicos e diversas cavernas;
- vai introduzir no coração da floresta mais de 50 mil pessoas, trabalhadores migrantes, com e sem emprego, que depois da obra avançarão pelo território, provocando mais desmatamento e destruição.
E tem mais, Senhor Presidente: - que anuncia o leilão da usina hidrelétrica, sem a licença ambiental prevista por lei e sem ouvir as populações indígenas, como reza a Constituição Brasileira, da qual Vossa Excelência é o principal guardião.
Senhor Presidente, constatamos que o governo não está avaliando corretamente a dimensão do desastre socioambiental e do desgaste político, nacional e internacional, que decorrerão desta inconseqüente decisão, que despreza os Povos da Floresta, os cidadãos brasileiros conscientes e a responsabilidade ambiental.
Não podemos aceitar que o governo faça essa obra faraônica para atender interesses de grupos, em detrimento de milhares de pessoas que moram ao longo do Xingu.
Conclamamos Vossa Excelência a decidir e anunciar à Nação e ao mundo que o seu Governo não compactua com interesses e lobbies lesivos ao patrimônio social e ambiental do Povo Brasileiro. Conclamamos Vossa Excelência a apoiar o desenvolvimento sustentável da Região, com responsabilidade social, econômica e ecológica. Os Povos do Xingu não querem a destruição de seu rio e de suas riquezas. Querem um Xingu Vivo para Sempre!
Dr. Jacques Mabit, M.D.
Ashoka Fellow
Profesor Extraordinario da Universidad Científica del Sur (Lima)
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