Desabafo - Antes de participar da audiência pública sobre a construção do Porto das Lajes na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, assisti o desabafo do Ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, por ocasião da apresentação do relatório de impacto ambiental das obras da BR-319 (Manaus - Porto Velho), ocorrido no auditório da reitoria da Universidade do Estado do Amazonas -UEA.
Alfredo Nascimento criticou duramente as ONGs que trabalham pelo isolamento do Amazonas, reclamou da solidão imposta pela falta de apoio e manifestou orgulho por ter enfrentado sozinho seus críticos, muitos dos quais usaram de ofensa pessoal, submetendo-o a constrangimento público.
Para o ministro, nunca uma estrada brasileira foi alvo de tantas exigências. Pudera! Trata-se de uma estrada que corta o coração da floresta amazônica. Inaugurada em 1976, sua manutenção foi abandonada em todos os seus 800 km de extensão. O custo operacional do transporte de cargas aumentou consideravelmente, devido as avarias sofridas pela frota de veículos obrigadas a percorrer trechos intransitáveis.
As exigências do IBAMA foram atendidas integralmente, segundo o ministro. Só as áreas de conservação no entorno da estrada, num total de cinco, representam uma extensão semelhante ao território do município de Itacoatiara. Em todas elas haverá fiscalização permanente. Por outro lado, a estrada não será simplesmente recapeada, do contrário tratar-se-ia de uma operação cosmética. A BR-319 terá capacidade para suportar transporte de até 40 toneladas de peso.
Na verdade, descontado os excessos com que os debates de interesses regional e nacional costumam ser afetados - marca do provincianismo local - o que o movimento social quer saber é se as medidas de segurança a serem adotadas para garantir a qualidade de vida dos 25 mil habitantes ao longo da estrada serão suficientes para impedir eventuais ocupações de mais 60 mil trabalhadores depois da construção das hidrelétricas do rio Madeira, outra iniciativa do governo federal que tem deixado os ambientalistas de cabelos em pé.
Agressão provinciana - Quando o assunto é agressão, o ministro não está só. O movimento SOS Encontro das Águas, que luta contra a construção de um porto na confluência dos rios Solimões e Negro, onde nasce o rio Amazonas em território brasileiro, está sofrendo uma campanha de desqualificação tudo porque os que integram a defesa do nosso mais importante patrimônio paisagístico não têm título de doutorado. Ora, vejam! A tentativa de desmoralização do discurso dos militantes é ofensiva e grosseira porque desrespeita a mais elementar noção de cidadania, sem mencionar o sofisticado conceito de inter e transdisciplinaridade. Graças ao primeiro conceito garantiu-se o exercício do direito à manifestação, pela qual veio à luz todos os defeitos de um relatório de impacto ambiental marcado pela parcialidade, e sobretudo pelo atentado à inteligência dos manauaras. Graças aos outros dois conceitos, posso escrever sobre o tema, tendo como lugar de fala minha condição de observador da alma humana e dos movimentos psicossociais.
Vivemos um período da história da nossa civilização em que a comunicação deixou de ser mediada por interesses unilaterais. Os meios alternativos de comunicação - os blogs entre eles - , passaram a desempenhar um papel estratégico contra qualquer tentativa canhestra de subtrair informações fudamentais na construção de juízos e de opinião pública.
Estamos de olho! Fique atento ao calendário de audiências públicas sobre as obras da BR-319. E, participe criticamente.
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