O roteiro fala sobre um escritor fantasma britânico que concorda em escrever as memórias do ex-primeiro-ministro Adam Lang porque seu agente lhe garante que esta seria a oportunidade de sua carreira. Mas o projeto parece estar condenado desde o início, devido a um acidente misterioso.
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[ Amálgama ] |
por Luiz Biajoni – O último filme de Polanski está sendo vendido como um eletrizante thriller político. Não achei. Nem eletrizante, nem thriller. Tem um fundo político. Mas é lento, insosso, dava para ter meia hora a menos. E tem outros defeitos.
Incrível que todo mundo tá dizendo que o filme é ótimo. Luiz Zanin Orichio escreveu: “Polanski, que sabe também trabalhar o filme de gênero como poucos, produz inquietações. Suscita mais perguntas do que respostas. E, desta vez, desce não apenas aos porões sombrios das almas individuais, mas vasculha os interesses políticos e corporativos, essa caixa-preta da nossa história contemporânea”. Uau. Porões sombrios da alma humana, é?
Basicamente: um escritor fantasma é contratado para escrever a biografia de um importante líder político depois que o escritor anterior morreu – afogado, não se sabe se acidental ou suicídio. O político vive uma crise, o escritor descobre algumas coisas e nos quinze minutos finais o filme ganha agilidade até acabar de maneira polanskiana.
Alguém que assume papel de outro e tem que se ajustar à medida anterior é tema comum a Polanski. Lembra O Inquilino (1976), onde um jovem aluga o apartamento de uma velha que tentou o suicídio atirando-se da janela para, logo em seguida, adquirir os mesmos hábitos da velha, inclusive o de atirar-se. Em O Escritor Fantasma, Ewan McGregor vai pelo mesmo caminho. Mas, enquanto O Inquilino se desenvolve no ambiente do terror, O Escritor… vai por uma via de filme noir, com entrechos vagarosos demais, prolixos demais, com informações desnecessárias demais, no sentido de “criar um clima” – clima esse que vai sendo esvaziado à medida que chegamos próximos do final. O final quer ser surpreendente, mas não pega fãs de Polanski de calças curtas. Todos se lembram da Mia Farrow desconstruindo os nomes de seus algozes em O Bebê de Rosemary (1968), pois não?
Logo no início do filme o escritor é atacado por pessoas em
uma moto que roubam o original de um livro que é levado por engano. O escritor encara de maneira muito normal essa agressão. Aparentemente não a menciona a ninguém, o que seria normal. Adiante, vira um fofoqueiro, alguém que fala sobre tudo com todos, mudando o traço da discrição – essencial a um escritor fantasma.
McGregor é um bom ator com um papel estranho. Parece bonito demais para escritor. Ainda mais fantasma. Em alguns momentos, parece querer ir a fundo na investigação sobre o que aconteceu ao seu antecessor e sobre coisas que não estão no livro. Em outros, solta frases como “sou um escritor, não um repórter investigativo, não me interessa o que aconteceu com ele”. Por outro lado, não é seu esforço intrínseco que o leva a conclusões: é sempre o acaso. Sem motivo aparente, ele vai esvaziar as gavetas do guarda-roupas do escritor morto e encontra um envelope que o morto havia colado ali. Uma cena ruim. Depois, pega o carro que o morto usava e o GPS tinha registrado sua última viagem – e isso o leva a casa de um personagem essencial.
Tem uma coisa que me incomoda muito em livros e filmes de suspense: o acaso. Uma coisa é o camarada investigar e chegar a conclusões. Outra é o detetive procurar uma pessoa e ela aparecer atravessando a rua, bem diante dele. Acasos matam o suspense. E está cheio deles em O Escritor Fantasma. Não bastasse, há envolvimentos amorosos escusos, hostilidade popular contra o político, perseguições que não serão esclarecidas. Um atentado que nos faz acordar na poltrona. E a conclusão que provoca novo bocejo.
Vejam: eu adoro Polanski. Adoro todos os seus filmes, gosto até mesmo daquele filmeco de terror com o Johnny Depp e o Frank Langella. Mas não vi o mesmo filme que a crítica viu, nesse O Escritor Fantasma. O filme surfa em clichês para não dizer a que veio. Só se salva mesmo o Pierce Brosnan, de Tony Blair.
Incrível que todo mundo tá dizendo que o filme é ótimo. Luiz Zanin Orichio escreveu: “Polanski, que sabe também trabalhar o filme de gênero como poucos, produz inquietações. Suscita mais perguntas do que respostas. E, desta vez, desce não apenas aos porões sombrios das almas individuais, mas vasculha os interesses políticos e corporativos, essa caixa-preta da nossa história contemporânea”. Uau. Porões sombrios da alma humana, é?
Basicamente: um escritor fantasma é contratado para escrever a biografia de um importante líder político depois que o escritor anterior morreu – afogado, não se sabe se acidental ou suicídio. O político vive uma crise, o escritor descobre algumas coisas e nos quinze minutos finais o filme ganha agilidade até acabar de maneira polanskiana.
Alguém que assume papel de outro e tem que se ajustar à medida anterior é tema comum a Polanski. Lembra O Inquilino (1976), onde um jovem aluga o apartamento de uma velha que tentou o suicídio atirando-se da janela para, logo em seguida, adquirir os mesmos hábitos da velha, inclusive o de atirar-se. Em O Escritor Fantasma, Ewan McGregor vai pelo mesmo caminho. Mas, enquanto O Inquilino se desenvolve no ambiente do terror, O Escritor… vai por uma via de filme noir, com entrechos vagarosos demais, prolixos demais, com informações desnecessárias demais, no sentido de “criar um clima” – clima esse que vai sendo esvaziado à medida que chegamos próximos do final. O final quer ser surpreendente, mas não pega fãs de Polanski de calças curtas. Todos se lembram da Mia Farrow desconstruindo os nomes de seus algozes em O Bebê de Rosemary (1968), pois não?
Logo no início do filme o escritor é atacado por pessoas em
uma moto que roubam o original de um livro que é levado por engano. O escritor encara de maneira muito normal essa agressão. Aparentemente não a menciona a ninguém, o que seria normal. Adiante, vira um fofoqueiro, alguém que fala sobre tudo com todos, mudando o traço da discrição – essencial a um escritor fantasma.
McGregor é um bom ator com um papel estranho. Parece bonito demais para escritor. Ainda mais fantasma. Em alguns momentos, parece querer ir a fundo na investigação sobre o que aconteceu ao seu antecessor e sobre coisas que não estão no livro. Em outros, solta frases como “sou um escritor, não um repórter investigativo, não me interessa o que aconteceu com ele”. Por outro lado, não é seu esforço intrínseco que o leva a conclusões: é sempre o acaso. Sem motivo aparente, ele vai esvaziar as gavetas do guarda-roupas do escritor morto e encontra um envelope que o morto havia colado ali. Uma cena ruim. Depois, pega o carro que o morto usava e o GPS tinha registrado sua última viagem – e isso o leva a casa de um personagem essencial.
Tem uma coisa que me incomoda muito em livros e filmes de suspense: o acaso. Uma coisa é o camarada investigar e chegar a conclusões. Outra é o detetive procurar uma pessoa e ela aparecer atravessando a rua, bem diante dele. Acasos matam o suspense. E está cheio deles em O Escritor Fantasma. Não bastasse, há envolvimentos amorosos escusos, hostilidade popular contra o político, perseguições que não serão esclarecidas. Um atentado que nos faz acordar na poltrona. E a conclusão que provoca novo bocejo.
Vejam: eu adoro Polanski. Adoro todos os seus filmes, gosto até mesmo daquele filmeco de terror com o Johnny Depp e o Frank Langella. Mas não vi o mesmo filme que a crítica viu, nesse O Escritor Fantasma. O filme surfa em clichês para não dizer a que veio. Só se salva mesmo o Pierce Brosnan, de Tony Blair.
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