novembro 09, 2010

Chargista, sem graça, abusa do machismo nas páginas do Zero Hora

PICICA: "A ideia é que a charge deve ser crítica, inteligente, perspicaz, sagaz. Tratar de bobagenzinhas, de pequenezas, de perfumarias, como diz Wladymir Ungaretti, passa longe da função de um chargista".

Marco Aurélio: o chargista do machismo

8 novembro 2010 
 
Em fins de setembro do ano passado, o grande chargista Kayser disse, em um debate promovido pelo Jornalismo B, que “charge não é só para fazer gracinha”. A ideia é que a charge deve ser crítica, inteligente, perspicaz, sagaz. Tratar de bobagenzinhas, de pequenezas, de perfumarias, como diz Wladymir Ungaretti, passa longe da função de um chargista.

Marco Aurélio, há muitos anos vendendo seus rabiscos à página 3 do jornal Zero Hora, costuma, quase diariamente, ser absolutamente sem graça. Além disso, trata basicamente desses temas comezinhos. Além disso, quando resolve se envolver com temas mais sérios, parte quase sempre para posicionamentos preconceituosos, contra os mais diversos segmentos sociais. Não chega ao chamado “humor negro” porque mal chega a ser humor.

A charge publicada nesta segunda-feira é mais um desses exemplos negativos, que fazem com que os leitores de Zero Hora fiquem sem parâmetro para entender o que é uma verdadeira charge de qualidade. O desenho engendra pelo setor político. Crítico? 

Questionador? Politizante? Nada. Agressivo, machista e sem graça, comenta uma foto da presidente eleita, Dilma Rousseff, chamando-a de gorda. Sim, essa charge aí ao lado foi publicada na página 3 da edição desta segunda. E nada mais faz do que chamar a presidente eleita de gorda.
Há menos de dois meses já escrevi aqui mesmo um post sobre um desenho de Marco Aurélio que diminuía Dilma a uma mulher na bolsa do canguru Lula. Agora o machismo chega próximo do seu extremo, e o extremismo é ainda mais fortalecido por acontecer em um espaço que tem por tradição ser crítico: não o jornal Zero Hora, mas o advento da charge.

Marco Aurélio abandona definitivamente qualquer possibilidade de crítica política a Dilma ou ao PT, seus alvos preferenciais, e parte para a diminuição de Dilma como mulher, e da mulher como ser atuante politicamente. Em apenas uma frase, reduz a mulher novamente a uma sombra do homem e a um corpo: “Pra vocês verem, o peso que eu carreguei durante a campanha”, diz um Lula de terno azul, com direito a erro na colocação da vírgula.

Por ser visto erroneamente por muitos leitores como apenas um espaço de humor, a charge diária acaba sendo pouco discutida, e passa despercebido o discurso que está sendo construído ali a cada risada ou sorriso amarelo. O humor também constrói ideologias, constrói visões de mundo, e, no humor de charge, jornalismo em imagens, essa construção é ainda mais intensa, e deve ser tratada com ainda mais cuidado. É preciso combater todos os tipos de preconceito em todas as esferas e em todas as formas nas quais aparecem, objetiva ou subjetivamente.

Postado por Alexandre Haubrich

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Fonte: Jornalismo B

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