PICICA: "Convidar o professor Ademir Ramos da Universidade Federal do Amazonas, uma das “antas” que tem restrições ao projeto, diante de uma platéia composta apenas por comunitários interessados na criação do seu município, é apostar num cenário que faz parte do imaginário popular: jogar na arena cristão aos leões. Esse convite nada ingênuo, não nos comove."
Diário do Amazonas - 26.11.2010
O camarada Heron Bezerra, deputado estadual do PC do B, não é nenhum neófito em política, como não são “antas” aqueles que estão a criticar seu projeto de criação de 28 municípios na Amazônia Setentrional, como, surpreendentemente, ele definiu os opositores da sua proposição, perdendo a elegância e postura que o bom debate requer.
Debate que o deputado estranhamente se recusa a organizar, preferindo audiências, que ainda que consagradas na prática parlamentar, em se tratando de matéria de interesse social, usa de uma metodologia com arremedos democráticos.
Convidar o professor Ademir Ramos da Universidade Federal do Amazonas, uma das “antas” que tem restrições ao projeto, diante de uma platéia composta apenas por comunitários interessados na criação do seu município, é apostar num cenário que faz parte do imaginário popular: jogar na arena cristão aos leões. Esse convite nada ingênuo, não nos comove.
O que é intrigante não é o fato que aborrece alguns setores da classe média, como o do velho comunista fazer atualmente parte da base aliada do governo, depois de uma das mais expressivas praticas de oposição conhecidas na história do parlamento amazonense, mas, sim, a arrogância e a pretensão da verdade absoluta, burocrática, incompatível com a imagem do homem público que soube enfrentar os desafios do seu tempo. Resgatar formas monótonas de interpretação da realidade amazônica, subtraindo da opinião pública os saberes acumulados em nossas instituições é um pecado político inaceitável e que depõe contra o passado recente do nobre parlamentar.
Esta talvez seja uma das razões pela qual o camarada Heron deu uma declaração mal criada, em entrevista ao jornal Diário do Amazonas de hoje, ao ser flagrado com a mão na cumbuca, onde decisões de interesse social dão lugar a práticas contrárias aos debates previstos nos dispositivos do parlamento, em prol de um debate meia-boca. O debate aprofundado é exigência natural do processo democrático. Precipitar um plebiscito, sem ampla consulta sobre os pros e contras da proposta de criação de novos municípios é um erro político primário. Nenhuma suposta sabedoria pode dar sustentação a decisões unilaterais. Armar circo não convém em nenhuma circunstância.
Aliás, nenhum cientista de relevância no cenário da produção de conhecimentos sobre a Amazônia, face à complexidade da sua ocupação, foi chamado para este debate, de modo a enriquecer o diálogo político sobre a produção de novos direitos territoriais. Cresce a suspeita do caráter eleitoreiro da iniciativa do combativo e agora combatido camarada Heron. Uma mancha desnecessária em sua biografia.
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