PICICA: A imagem abaixo é uma cortesia do PICICA, enviada pelo nosso correspondente Zefofinho de Ogum, para quem os preconceituosos costumam ter como fonte de informação a leitura acritica da revista VEJA.
O preconceito é burro e emburrecePor Carlos Brickmann em 23/11/2010
Numa história em quadrinhos clássica, internacionalmente premiada, Maurício de Souza mostra Cebolinha pintado de verde. É o mesmo Cebolinha de sempre, com a mesma roupa, o mesmo cabelo, o mesmo medo da Mônica, a mesma troca de letras nas palavras, o mesmo gosto pelo futebol, a mesma vontade de envolver o amigo Cascão em seus planos infalíveis para tornar-se o dono da rua.
Mas não era possível: quando viam Cebolinha de outra cor, seus amigos se escondiam, fugiam, não queriam jogar bola, não queriam falar de planos. Queriam apenas ver-se longe daquele ser estranho – que, de estranho, só tinha a cor diferente da habitual.
Burros, né? No entanto, o preconceito existe. Existe preconceito racial, existe preconceito social, existe preconceito de cor, existe agora preconceito geográfico (aliás, não existe, ou só existe para quem é burro: os empresários do Nordeste continuam negociando com os empresários do Sul, os banqueiros de uma região procuram expandir-se para outra; não há intelectual sulista que se preze que tenha deixado de ler Gilberto Freyre e não se delicie com Ariano Suassuna, não há um intelectual nordestino que se preze que não tenha lido de Monteiro Lobato a Fernando Henrique, passando por Sérgio Buarque de Holanda – cuja família, aliás, tem origem em Pernambuco – não há paulista, paranaense, barriga-verde ou gaúcho que não queira passar férias no Nordeste, há raros nordestinos que não têm parentes em São Paulo). O pior do preconceito, entretanto, é o apoio a ele de muitos meios de comunicação: é a tomada de posição antialguma coisa com base em discriminações partidárias, geográficas, políticas ou de comportamento.
Há, por exemplo, uma certa proteção da imprensa a jovens bem-postos que, gritando slogans homofóbicos, agridem pessoas e as ferem seriamente. No caso da Avenida Paulista, em que cidadãos pacíficos foram atacados com lâmpadas fluorescentes (além de cortantes, venenosas), pontapés e socos, todos os meios de comunicação informaram que os agressores estudavam em escolas particulares da região. Qual escola, ou quais escolas? No fim, meio a fórceps, soube-se que pelo menos um deles tinha sido expulso há tempos de uma escola conhecida, exatamente por seu comportamento agressivo. Mas, neste momento, onde estaria estudando? Como serão seus colegas? Como é tratada, ali, na escola que hoje frequenta, a questão do preconceito?
Há certo encorajamento, especialmente por jornalistas que perderam posições nas empresas e se dedicaram à internet, ao preconceito contra elites e contra São Paulo; esse encorajamento se repete em veículos impressos, como o que se refere àquela idiota que divulgou em seu twitter ataques a nordestinos, como "a paulista". E não houve qualquer pressão da imprensa sobre a polícia para que investigasse quem é que, também em mensagens pelo twitter, propunha que um atirador de elite alvejasse a cabeça de um candidato à Presidência da República.
O papel dos meios de comunicação é, sem dúvida, relatar os fatos – mas sem maximizá-los, sem incentivá-los. E, se é para tomar posição, que seja a posição do bem, de luta contra os preconceitos em geral. Caso o veículo seja favorável ao mal, aos preconceitos, está protegido pela liberdade de imprensa; mas todos saberão o que é que realmente defende. O que não se pode é tolerar que, fingindo combater preconceitos, órgãos de comunicação incentivem os preconceituosos de seu lado enquanto condenam apenas os adversários. Como disse certa vez John dos Passos, que não o convidassem para condenar meia guerra; que se unissem a ele para condenar a guerra inteira.
Fonte: Observatório da Imprensa
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