PICICA: "O dólar baixo, a tal “paridade cambial” do Plano Real nos deu meses de euforia e anos de desastre. Novamente, agora, o câmbio é a ameaça invisível ao ciclo de expansão econômica do Brasil. Embora tenhamos um momento privilegiado para romper esta ameaça, hesitamos pelo efeito no curto prazo: inflação. (...) A exagerada desvalorização do dólar, saudada pelos tolos do Governo FHC como prova de seu sucesso, é a maior ameaça que vive nossa economia."
A armadilha do dólar baixo
“A moeda brasileira está entre as que mais subiram em relação ao dólar no passado recente. E a moeda forte pode trazer problemas sérios para a economia do país. (…) O Brasil precisa se cuidar (…). O IOF sobre certas entradas de capital foi um passo na direção correta. Outras medidas, de menor impacto, também foram tomadas. Mas será provavelmente necessário considerar providências adicionais, incluindo a diminuição dos juros, a acumulação de mais reservas internacionais e novos instrumentos prudenciais e de controle sobre os movimentos especulativos de capital. Não podemos nos dar ao luxo de aguardar que o problema seja resolvido no plano internacional, no âmbito do G20 ou do FMI.” Paulo Nogueira Batista Jr, diretor-representante do Brasil no FMI, em novembro de 2009O Brasil vivenciará uma “pressão cambial astronômica” em um período de um a dois anos e, por isso, são necessárias medidas adicionais para reduzir o “apetite” do capital especulativo pelo País(…) Ele acredita que um dos mais sérios problemas que a economia brasileira enfrentará daqui para frente é o fato de que o País é hoje “uma das principais trincheiras da nova bolha especulativa internacional”.novembro de 2009 Ernani Torres, Superintendente de Acompanhamento Econômico do BNDES,
As duas opiniões foram registradas aqui neste Tijolaco.com, na época, numa série de posts em que defendi medidas de controle do ingresso de capital no país, afirmando que, mesmo com elas, os capitais internacionais não iam fugir do país.
O Ministério da Fazenda até as tomou, taxando em 2% a entrada de capital no país. E, com taxa ou sem taxa, o capital continuou entrando. Continuou, não: continua entrando.
Nos dois primeiros meses de 2011, ingressaram no Brasil US$ 10,7 bilhões em investimento estrangeiro direto. Em período igual do ano passado, houve entrada de US$ 3,5 bilhões. O triplo, portanto.
A taxação em 2% sobre a entrada de capital não freou, como se previa, este fluxo porque, como se diz no jargão do mercado financeiro, está precificada na conta de rentabilidade destes investimentos a priori. Ela é amortizada dentro de um horizonte curto, oferecendo segurança ao dinheiro que entra em dólares, e aí também se contam as captações externas de empresas brasileiras.
O resultado é um dólar extremamente baixo, que ontem atingiu R$ 1,61 e uma armadilha para o Brasil.
Nosso perfil de exportações cada vez mais se delineia pelos produtos primários que, em poucos anos, passaram a responder por quase metade de nossas exportações, e não mais um terço, como antes.
Onze entre dez analistas econômicos sabem que essa valorização da moeda brasileira não é sustentável. Nenhum de nossos “similares” dos BRICs – Rússia, India e China – deixa seu câmbio flutuar (para baixo) tão livremente assim. A China, então, faz há anos cara de chinês frente às pressões dos EUA para que “desamarre” sua moeda, o yuan.
Nós nos deixamos emparedar num dilema: o nível de internacionalização da economia faz com que forçar uma elevação do dólar tenha efeitos inflacionários. E como a inflação, na cartilha do “mercado” se combate com elevação de juros e como juros elevados atraem mais capital de um mundo com juros quase “zerados” , aí está a arapuca.
O dólar baixo, a tal “paridade cambial” do Plano Real nos deu meses de euforia e anos de desastre. Novamente, agora, o câmbio é a ameaça invisível ao ciclo de expansão econômica do Brasil. Embora tenhamos um momento privilegiado para romper esta ameaça, hesitamos pelo efeito no curto prazo: inflação.
Óbvio que não se propõe loucuras, nem se quer um câmbio regulado apenas por normas e portarias. E, aliás, parece bem claro que os novos dirigentes do Banco Central, indicados por Dilma Rousseff, compreendem esse impasse, tanto que o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou que está “disposto a tomar novas medidas” para conter a volatilidade do câmbio.
Que isso aconteça. A exagerada desvalorização do dólar, saudada pelos tolos do Governo FHC como prova de seu sucesso, é a maior ameaça que vive nossa economia.
Fonte: Tijolaço
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