PICICA: "Com o Dia das Mães em meus calcanhares e com a minha própria história tomando rumos que nunca imaginei, tenho pensado cada vez mais no sentido da palavra mãe, no que ela representa, no que ela espera de mim e, principalmente, no que eu esperava dela."
Sorria
por Fal Azevedo
Você e eu tivemos mãe.
Você e eu fomos carregados e paridos, cada um a seu tempo.
Fato.
Mas a partir daí, nossas histórias se separam e cada uma segue seu rumo.
São tantas histórias diferentes, são tantas pessoas diferentes.
Com o Dia das Mães em meus calcanhares e com a minha própria história tomando rumos que nunca imaginei, tenho pensado cada vez mais no sentido da palavra mãe, no que ela representa, no que ela espera de mim e, principalmente, no que eu esperava dela.
Tenho me dado conta do óbvio, que atrás dessa palavrinha tem um ser humano, cheio de qualidades, cheio de defeitos, para quem essa palavra também está repleta de significados e dores e cobranças e alegrias. Exatamente como está para mim. Para você. Para cada um de nós.
O muito de animal que existe em nós não garante, de forma nenhuma, que os instintos e hormônios tomarão o leme e que tudo vai acabar bem.
Ser mãe, ser filho, ser uma pessoa que ao mesmo tempo incorpora e transcende cada uma dessas coisas e que ainda pode racionalizar sobre isso tudo exige tempo e esforço, energia e neurônios queimados, a cada dia, a cada dia, a cada dia.
Mas o comércio, as convenções sociais e, vá lá, nossa fome de festa, acabam nos atropelando ano após ano e o resultado é que não paramos para pensar nisso em dia nenhum.
Talvez você seja o tipo malandro que vai fazer sua particular progenitora esperar duas ou três horas de pé por um rango de restaurante neste domingo.
Talvez você seja o tipo de filho que, com galhardia e destemor, munido apenas de amor filial e das receitas maravilhosas, vai encarar as panelas por sua velhinha neste Dia das Mães (e eu já posso ouvi-la gritando “Velhinha é a sua avó!”).
Mas talvez, só talvez, você seja o tipo de filho que, em sua própria cozinha ou na fila de algum restaurante, com flores e presentes na algibeira, saiba, com dor e espanto – porque dói e assusta – que você deve ser sua própria mãe, digam lá o que disserem os calendários dos comerciantes, as propagandas de tevê ou a sua superagitada família, que se prepara para a data há semanas.
Você comprou o livro que a sua mãe queria, fez reserva no restaurante, assou o pernil, mas no fundo (e no raso) você sabe que deve beijar seus próprios joelhos esfolados e garantir a si mesmo que “quando casar, sara”; sabe que deve olhar para o reflexo no espelho e perguntar, apontando para a blusa e para a calça “Combina?”; sabe que deve afugentar sem ajuda de ninguém os monstros que moram debaixo da sua cama; sabe que deve preparar seu próprio mingau (ou seja lá qual for sua “comida de colo”); e, de barriguinha cheia e quentinha, embalar a si mesmo na cama, até adormecer.
Você vai lá brindar com o resto da família, lavar louça com suas primas, admirar o carro novo de seu irmão e beijar a velha na testa. Mas você sabe.
Mesmo sabendo, continue em frente.
E sorria, por nós dois.
Você e eu tivemos mãe.
Você e eu fomos carregados e paridos, cada um a seu tempo.
Fato.
Mas a partir daí, nossas histórias se separam e cada uma segue seu rumo.
São tantas histórias diferentes, são tantas pessoas diferentes.
Com o Dia das Mães em meus calcanhares e com a minha própria história tomando rumos que nunca imaginei, tenho pensado cada vez mais no sentido da palavra mãe, no que ela representa, no que ela espera de mim e, principalmente, no que eu esperava dela.
Tenho me dado conta do óbvio, que atrás dessa palavrinha tem um ser humano, cheio de qualidades, cheio de defeitos, para quem essa palavra também está repleta de significados e dores e cobranças e alegrias. Exatamente como está para mim. Para você. Para cada um de nós.
O muito de animal que existe em nós não garante, de forma nenhuma, que os instintos e hormônios tomarão o leme e que tudo vai acabar bem.
Ser mãe, ser filho, ser uma pessoa que ao mesmo tempo incorpora e transcende cada uma dessas coisas e que ainda pode racionalizar sobre isso tudo exige tempo e esforço, energia e neurônios queimados, a cada dia, a cada dia, a cada dia.
Mas o comércio, as convenções sociais e, vá lá, nossa fome de festa, acabam nos atropelando ano após ano e o resultado é que não paramos para pensar nisso em dia nenhum.
Talvez você seja o tipo malandro que vai fazer sua particular progenitora esperar duas ou três horas de pé por um rango de restaurante neste domingo.
Talvez você seja o tipo de filho que, com galhardia e destemor, munido apenas de amor filial e das receitas maravilhosas, vai encarar as panelas por sua velhinha neste Dia das Mães (e eu já posso ouvi-la gritando “Velhinha é a sua avó!”).
Mas talvez, só talvez, você seja o tipo de filho que, em sua própria cozinha ou na fila de algum restaurante, com flores e presentes na algibeira, saiba, com dor e espanto – porque dói e assusta – que você deve ser sua própria mãe, digam lá o que disserem os calendários dos comerciantes, as propagandas de tevê ou a sua superagitada família, que se prepara para a data há semanas.
Você comprou o livro que a sua mãe queria, fez reserva no restaurante, assou o pernil, mas no fundo (e no raso) você sabe que deve beijar seus próprios joelhos esfolados e garantir a si mesmo que “quando casar, sara”; sabe que deve olhar para o reflexo no espelho e perguntar, apontando para a blusa e para a calça “Combina?”; sabe que deve afugentar sem ajuda de ninguém os monstros que moram debaixo da sua cama; sabe que deve preparar seu próprio mingau (ou seja lá qual for sua “comida de colo”); e, de barriguinha cheia e quentinha, embalar a si mesmo na cama, até adormecer.
Você vai lá brindar com o resto da família, lavar louça com suas primas, admirar o carro novo de seu irmão e beijar a velha na testa. Mas você sabe.
Mesmo sabendo, continue em frente.
E sorria, por nós dois.
Professora, escritora e tradutora, publicou Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite (Rocco, 2008).
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