PICICA: Segundo Rogério Rocco, num artigo escrito para o “O Grande
Livro da Cannabis” (Jorge Zahar Editor), no Brasil, as duas medicinas – a oficial
e a popular – não dialogam quando o assunto é a cannabis. O uso recreativo da
maconha pelas populações marginalizadas, ao esbarrar no moralismo das elites e
associada à idéia de vagabundagem e malandragem, também foi mal visto pelos
especialistas brasileiros, que não disfarçaram sua aversão. Tanto assim que, entre
1915 a 1946, os estudos insistiram em enfatizar as relações da maconha com a
loucura, o vício e a morte. Entretanto, em 1996, com o referendo popular na
Califórnia, favorável à utilização da cannabis no tratamento de pessoas com
câncer, aids e outras enfermidades, é que o Brasil voltaria a por na pauta do
debate público o uso médico da planta. Reconhecida como remédio contra enjôos e
vômitos, num primeiro momento, foi graças a um estudo do Departamento de
Psiquiatria de Escola Paulista de Medicina (EPM) que cairia o primeiro mito: de
que a maconha seria a droga de passagem para outras mais fortes. Essa conclusão
foi resultado da experiência do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveria, Diretor
do Proad – Programa de Orientação e Assistência ao Dependente – da EPM, ao demonstrar
que a maconha pode servir como alternativa para o abandono de drogas pesadas,
como o crack. Ainda são poucos os defensores dos múltiplos usos da cannabis na
medicina. Neste curto espaço de tempo de debate público, as vítimas estão por
todos os lados, seja entre usuários, defensores do abrandamento da legislação
ou militantes da descriminalização do uso da cannabis. Todos são vítimas de um Estado
que insiste em impor valores morais mediante a criminalização, a punição de
usuários e a desqualificação dos defensores de uma nova relação entre as
plantas e a humanidade. Estamos no início de uma dura jornada, como se pode
perceber nos debates públicos como o que se vê no vídeo abaixo. Alguns dos
senhores aqui vistos são co-responsáveis, junto aos segmentos fundamentalistas
da sociedade brasileira, pela definição das políticas de repressão ainda
vigente no país. Seus argumentos, entretanto, vem sendo desmontados ali onde
seus discursos deveriam ter mais consistência: no campo da medicina. Outros usam indevidamente o discurso médico conservador e escorregam na lógica. Certamente, o uso
medicinal crescerá no país. O religioso, com algum esforço, idem. O
gargalo está no falso moralismo quanto ao uso recreacional, num país inundado
no álcool e no tabaco.
Enviado por COLETIVOPROJECTS em 23/11/2010
O corretor de seguros Marcos Susskind se confunde em suas declarações: álcool menos tóxico que maconha? Sidarta Ribeiro rebate e diz que a sociedade precisa de informação para discutir. Renato Malcher finaliza o bloco e dá uma aula sobre os efeitos terapêuticos da maconha e suas formas de uso medicinal.
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